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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

As notas dos debates. Quem ganhou: Pedro Nuno ou Paulo Raimundo? Luís Montenegro ou Rui Tavares?

Pedro Nuno Santos e Paulo Raimundo mostraram pequenas divergências, mas admitiram um futuro acordo. Luís Montenegro falou mais de medidas do PS do que das do Livre no debate com Rui Tavares.

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No debate entre Rui Tavares e Luís Montenegro, que foi o último do porta-voz do Livre (ao líder da AD ainda faltam mais dois), o primeiro tema foi a Justiça, com ambos a falarem de um consenso mais amplo entre partidos, ainda que não de forma exatamente igual, e Montenegro a garantir que não se sente manietado pelos últimos casos. O líder da AD reconheceu que é difícil criminalizar o enriquecimento ilícito e o porta-voz do Livre acrescentou que o “populismo convenceu que é tudo bandido”, defendendo ainda a prevenção da corrupção.

Montenegro falou depois de propostas do PS — apontando a preparação de cortes nas pensões e criticando as ideias para a habitação —, enquanto Tavares defendeu medidas do Livre para os idosos, como a herança social, e voltou a falar do rendimento mínimo incondicional. Acabaram ambos a divergir sobre a semana de quatro dias.

Antes, naquele que foi o último debate de Paulo Raimundo e penúltimo de Pedro Nuno Santos — que só volta agora para a despedida no frente a frente com Luís Montenegro, segunda-feira — houve algumas pequenas divergências, mas, como disse o líder do PS, nada que os impeça de trabalhar em conjunto. Salários, soluções para o SNS (para o qual não há “balas de prata”, disse Pedro Nuno), ou privatizações (porque “o que está feito para trás, não está feito para trás”, afirmou Raimundo) é o que mais os afasta, bem como as questões europeias.

Ainda assim, depois de Pedro Nuno Santos ter dito de forma categórica que “Portugal não desiste da Aliança Atlântica” e de ambos terem voltado a divergir sobre a invasão russa da Ucrânia, Paulo Raimundo repetiu a posição do PCP, já adiantada na tarde deste sábado sobre a morte de Alex Navalny: a que o Partido Comunista se distingue “completamente” do governo capitalista russo.

Neste domingo, penúltimo dia de frente a frentes, Luís Montenegro e Rui Rocha têm o debate em atraso (adiado de sexta-feira, devido a motivos pessoais do líder do PSD) às 20h45 na SIC. Às 22h00, Mariana Mortágua (Bloco) e Inês Sousa Real (PAN) enfrentam-se na CNN. Pode ver o calendário dos debates que restam neste gráfico.

Quem ganhou cada um dos debates? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador tem dado nota de 1 a 10 a cada um dos candidatos por cada um dos frente a frente. E explicado porquê. A soma vai surgindo a cada dia, no gráfico inicial.

Luís Montenegro (AD)-Rui Tavares (Livre)

Carlos Diogo Santos — Foi um bom debate, não tão bom como se esperava. Estavam frente a frente dois candidatos que têm uma visão muito diferente para o país, mas que se esforçaram por falar quase em exclusivo dos pontos que têm em comum. Na Justiça, o Livre e a AD acham importantes consensos partidários alargados e ambos têm ideias para uma reforma, com Rui Tavares a insistir na prevenção da corrupção e Montenegro a garantir que o caso da Madeira não o deixará manietado. A cordialidade foi tanta, que até uma alfinetada do porta-voz do Livre ao tempo de Passos Coelho (“Mal estaremos se voltarmos ao tempo em que o Governo protesta sempre que o TC decide contra medidas suas”) levou Montenegro a sorrir e a entrar na brincadeira: “Acabou por ter graça a formulação que encontrou para o parlamento poder ultrapassar pronúncias constitucionais. Mas eu depois falarei sobre este caso. Peço desculpa pela interrupção”. E nem o aumento das pensões acendeu uma grande discórdia. Quando o cronómetro marcava os 9 minutos e se falava das medidas para os jovens, o líder da AD deixou claro o que até aí se tinha passado: “Aqui temos uma divergência”. Foi das poucas. E, no final, tudo ficou como começou, com o consenso sobre a importância de reter jovens em Portugal.

Miguel Santos Carrapatoso — Debate estranho este entre Luís Montenegro e Rui Tavares. Estranho porque nas raras vezes em que existiu oportunidade para que um e outro pudessem criticar, denunciar, desmontar as respetivas propostas, contiveram-se e desconversaram. Parecia existir um pacto secreto de não agressão. Vai daí, os dois dedicaram-se a ajustar outras contas. Montenegro fez duas referências ao PS (pensões e habitação), Tavares criticou medidas do Chega para a Justiça, talvez esquecendo-se que teve oportunidade de o fazer na véspera – e não o fez. Depois deu-se o velho tique de Rui Tavares: as propostas que o líder do Livre traz para estes debates são “estudar” – estudar adoção do rendimento básico incondicional, estudar a criação da herança social, estudar a semana de quatro dias – sempre embrulhadas em frases de grande efeito. “O Livre acredita que ninguém é tão pequeno que não possa sonhar em grande.” Ok. Mas talvez se exija um bocadinho mais a quem quer crescer nas próximas eleições. Montenegro agradeceu a noite mais descansada.

Pedro Jorge Castro — Faltou uma chávena de chá à frente de cada um, para adornar o tom morninho em que decorreu esta conversa de salão. Rui Tavares não teve nada a ver com o do debate contra Ventura, o que já é muito, mas ficou inibido. Em condições normais, esperar-se-ia que fosse mais duro com o candidato da AD, mas não quis arriscar desgraçar-se de novo. Precisaria de uma vitória clara para recuperar do revés da véspera e reequilibrar a imagem com que sai dos debates. Não o conseguiu. E as suas ideias surgem sempre rodeadas de um certo lirismo inconcretizável, como as heranças sociais para todos os jovens de 5 mil euros à nascença ou o alargamento da semana de 4 dias. Montenegro foi eficaz a explicar propostas mais em detalhe para a justiça e para os jovens, não embarcou em cenários irrealistas e sobretudo não correu riscos neste passeio pelos estúdios da TVI.

Ricardo Conceição — Rui Tavares é eficaz a apresentar propostas, mas admite que em muitas delas vai ser necessário estudar, avaliar e até, quem sabe, criar mais um grupo de trabalho. O co-porta-voz do Livre tem o problema de por vezes esbarrar naquilo que é a realidade do país. Luís Montenegro conseguiu, mais uma vez, apresentar propostas, contrariar as do Livre e até contrapor assumindo a pose de estadista. Claramente, cada um falou para o seu eleitorado e nem seria de esperar outra coisa. Nem a AD consegue votos junto de um simpatizante do Livre nem o inverso. O debate foi civilizado e esclarecedor.

Sara Antunes de Oliveira — Não foi exatamente um debate — e, afinal, quase pareceu que é mais o que une do que o que separa o Livre e a AD. Se só “quase” pareceu, foi mérito de Luís Montenegro, que, sem romper com a cordialidade que marcou a “conversa”, conseguiu de forma muito mais eficaz marcar as diferenças entre as propostas dos dois candidatos. Rui Tavares até teve a primeira palavra, mas acabou por ser levado a reboque dos pontos em que Montenegro quis insistir.

Pedro Nuno Santos (PS)-Paulo Raimundo (PCP)

Alexandra Machado — Pedro Nuno Santos entrava já no debate com Paulo Raimundo com uma nota alta, depois da SIC ter passado, nesse mesmo dia, uma entrevista mais intimista do líder do PS, em que se expôs de uma forma pouco habitual e que os portugueses tendem a gostar. O Pedro Nuno Santos, humilde, voltou ao debate com o secretário-geral do PCP. O líder do PS ficou a patinar na habitação (uma área que tutelou), mas bateu Raimundo no “core” dos comunistas — as leis laborais. O voto contra do PCP da Agenda do Trabalho Digno foi usado por Pedro Nuno para apelidar os comunistas de incoerentes (mas de forma soft). O líder do PS também mostrou que as propostas do PCP são irrealistas pelo custo que comportam e o PCP não conseguiu demonstrar que as suas medidas não são mais do que pôr dinheiro em cima dos problemas. A machadada final foi sobre política externa, mas aí não se esperava outra coisa. Paulo Raimundo puxou da utopia para comentar o caso da Rússia e sobre a morte de Alexei Navalny, sem conseguir outros argumentos, pediu que se investigue… Apesar disso, Pedro Nuno Santos acabou o debate a dizer que o que separa PS e PCP não é suficiente para que não sejam parceiros. O repto ficou dado, ontem ao Bloco, esta noite ao PCP. E ainda meteu o Livre nesta equação. Apelando (como é de esperar) ao voto no PS “desejo o melhor ao PCP, BE, Livre”. Inês Sousa Real foi a grande perdedora deste debate.

Filomena Martins — Se os debates continuassem até ao próximo ano — dia sim, dia não, ou de dois em dois dias, vá lá —, Paulo Raimundo ainda se tornaria bom nisto. O frente a frente de despedida, frente a um ex-amigo de Geringonça, com quem até pode voltar a sentar-se no Conselho de Ministros, foi aquele em que esteve melhor. Apontou a “chantagem” das últimas eleições, que acabou na última maioria absoluta, chateou com a incoerência das privatizações, que não deviam ser “o que lá vai lá vai” (até citou mal de propósito, quase a lembrar Jerónimo) e fez mesmo engasgar Pedro Nuno com a pergunta, repetida, “Quanto é que vai gastar na habitação?”. Mas não ficou dúvidas sobre o papel de cada um naquela mesa. Ou numa outra no futuro. Pedro Nuno desmontou a chuva de promessas do lado dos comunistas, perguntou onde estava o PCP quando foi votada a Agenda do Trabalho Digno (até tinha um papelinho à Ventura), esmagou na questão da NATO/Ucrânia (mesmo com a posição comunista sobre Navalny) e quando Raimundo disse que o PCP foi determinante na Gerigonça 1.0, corrigiu-o: “Determinante, acho excessivo”. Ficou tudo dito.

Pedro Jorge Castro — Foi o menos mau debate de Paulo Raimundo e mesmo assim foi cilindrado por Pedro Nuno Santos, que também teve o seu melhor debate. A meio da discussão da saúde, o líder comunista quis desconversar, dando o ar de que também não tem soluções para resolver o SNS, mas afinal tinha estado a pensar numa frase que surtiu finalmente algum efeito para a sua base “com mais de cem anos de experiência acumulada no combate à direita”, para acentuar que o problema dos baixos salários não é só como a economia responde: “A pergunta é como as pessoas conseguem viver e sobreviver com os salários que têm”. Resposta de Pedro Nuno Santos, que lhe saiu mal, como se desvalorizasse: “Tá bem”. E de repente, um Paulo Raimundo fulminante, que não se tinha visto: “Não, não é tá bem. Não é para amanhã, é hoje. É um problema para resolver agora. E há condições para isso.” Sucede que no resto do tempo o candidato socialista foi realista a demonstrar porque é que não dá. Foi pragmático a apontar os chumbos do PCP na agenda do trabalho digno. E foi sólido a não hostilizar muito o PCP sem assustar ainda mais eleitores ao centro, tendo até sido comparado a Rui Rocha. Mesmo que estivesse empatado, bastava a utopia final sobre a paz como resposta ao invasor russo da Ucrânia para deixar o comunista a milhas do que precisava para se safar a 10 de março.

Miguel Santos Carrapatoso — Desde a segunda metade do debate com André Ventura, Pedro Nuno Santos parece estar a reencontrar-se com a imagem que tinha. Teve um bom debate com Mariana Mortágua e, este sábado, voltou a marcar pontos frente a Paulo Raimundo, que teve o seu melhor desempenho nesta maratona de duelos. Admitindo como hipótese que o objetivo de Pedro Nuno era falar ao eleitorado mais moderado sem hostilizar os eleitores de esquerda, o socialista teve três momentos importantes: quando recordou que o aumento de salários não se faz por decreto; quando insistiu que os responsáveis políticos não podem fazer “chuvas de promessas” se querem manter uma relação de confiança com o eleitor; e quando disse que não há dinheiro para tudo – é preciso fazer opções. Raimundo, não com a energia ou assertividade que poderia ter empenhado, também foi tentando explicar que muitas vezes o país parece ter as prioridades trocadas. A coisa começou a piorar quando o líder comunista foi desafiado a falar sobre a Rússia e a guerra na Ucrânia, fazendo referências confusas sobre parar a guerra juntando as partes à mesma mesa – talvez ignorando que Putin não parece estar com muita vontade de se sentar à mesa com quem quer que seja. “Há países que são invadidos, Paulo”, teve de lembrar Pedro Nuno. E não era preciso dizer mais.

Ricardo Conceição — Paulo Raimundo, que está a melhorar a performance em debates, conseguiu por breves instantes interpelar de forma acutilante Pedro Nuno Santos, mas nada abala a confiança do secretário-geral do PS. O socialista esteve a sorrir durante grande parte do debate e tinha uma mensagem clara para passar: “A geringonça foi boa e devíamos voltar ao modelo em caso de necessidade.” Pedro Nuno Santos venceu porque conseguiu transmitir que tolera o PCP e se for necessário conta com a ajuda dos comunistas. Paulo Raimundo reafirma que está sempre disponível para convergências. Pedro Nuno é o único que tem a capacidade de criar e liderar uma Geringonça II.

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