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Milton Cappelletti

Milton Cappelletti

Detetor de mentiras. Passos, Costa e companhia são sinceros?

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Um especialista em linguagem não verbal e um publicitário analisam as entrevistas pessoais dos principais líderes políticos. Leia (e veja) o que aconteceu.

Toda a gente tem uma espécie de manual de instruções – que se for lido como deve ser revela muito mais aos outros do que aquilo que, às vezes, nós gostaríamos. Os políticos, treinados para dizer o que querem passar em público, podem ser atraiçoados pelo seu próprio manual de instruções.

Rui Mergulhão Mendes, especialista em linguagem não verbal e programação neuro-linguística, analisou, a pedido do Observador, as entrevistas pessoais que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, o secretário-geral, António Costa, e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, deram ao nosso jornal.

“Sabemos hoje que a nossa linguagem verbal vale apenas 7% do processo de comunicação, e que o restante, a componente não verbal pode de forma silenciosa modificar o que exprimimos verbalmente”, explica Rui Mergulhão Mendes, fundador da Emotional Business Academy.

Diogo Anahory, diretor criativo da BAR, analisou ainda as entrevistas do líder do PDR, Marinho e Pinto, do PTP/Agir, Joana Amaral Dias, e da coordenadora do BE, Catarina Martins.

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Quer saber quem falou mais verdade? Quem ficou incomodado com a pergunta? Quem tentou disfarçar e não conseguiu?

Pedro Passos Coelho verbalmente dá indicações positivas, negando-as ao mesmo tempo de forma não verbal, o que prejudica em muito a informação que quer passar. 
Rui Mergulhão Mendes

PEDRO PASSOS COELHO

“Quem foi a pessoa mais impressionante que conheceu?”

  • Microtoque facial – Stress emocional

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“Passos Coelho responde com um micro toque facial que nos dá a indicação que está a viver algum stress emocional, talvez por ser a primeira pergunta, ou ser uma pergunta mais aberta. Estes microtoques funcionam muitas vezes como movimentos pacificadores que o nosso cérebro envia ao corpo para este se acalmar”.

  • Brincar com a aliança – Pacificador

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“Quando refere o nome de Vítor Gaspar, Pedro Passos Coelho começa a brincar com a aliança, um gesto típico de pacificação. Por estar num momento emocional mais stressante, acalma-se desta forma. Os pacificadores acontecem em resposta aos estados emocionais mais difíceis, são comandos dados pelo cérebro para o corpo se acalmar, normalmente através da fricção dos braços ou das pernas, ou aliviando esse stress mexendo em objectos que temos mais à mão, como os botões de punho, alianças, brincos, etc. Face a este comportamento e à necessidade inconsciente de se acalmar, Passos Coelho dá-nos indicação que de facto o tema Vítor Gaspar não foi e não é pacifico para ele”.

“Qual foi a pior decisão da sua vida?”

  • Repetir a pergunta – Pista verbal

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“Quando confrontado com a pergunta, Pedro Passos Coelho recorre a um truque verbal que consiste em repetir a pergunta para ganhar tempo para pensar na melhor resposta, na resposta mais adequada, mesmo que não seja a verdadeira. Já estava a processar a resposta, quando utiliza esta “muleta” de forma a repensar e alterar o que eventualmente tinha vindo à ideia e que não quis partilhar. É um forte indício que a resposta não foi espontânea, mas sim repensada, alterada para uma mais politicamente correta”.

“Qual a última boa piada que lhe contaram?”

  • Incongruência verbal e não verbal

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“Pedro Passos Coelho acede às suas memórias, relembra a piada, esboça um microsorriso vinculando esse estado emocional vivido. Contudo, contradiz essa informação não verbal dizendo que há muito tempo não tem, uma boa secção de piadas, fugindo à questão, porque em concreto a pergunta não era relativa a uma sessão de piadas mas à ultima piada que tinha ouvido. Inconscientemente, quer afastar-se no tempo, remetendo-nos primeiro para “há mais de um ano”, para depois nos levar ainda para mais longe, para “quando era mais novo”. É um comportamento típico, distanciarmo-nos temporalmente da situação onde não queremos estar”.

E em que ficamos?

Passos “utiliza muitas vezes uma negação com a cabeça, sendo um padrão seu, o que prejudica em muito a informação que quer passar. Não é coerente, ou seja, verbalmente dá indicações positivas, negando-as ao mesmo tempo de forma não verbal, gerando assim uma forte incongruência entre o verbal e o não verbal. Também utiliza algumas vezes um toque assimétrico ao levantar apenas um ombro, dando a ideia de desprezo”, conclui Rui Mergulhão Mendes, acrescentando que “os gestos assimétricos estão muito relacionados com os processos da mentira e podem ter um conexão muito negativa”. Estes, conjuntamente com a sistemática negação, “são de facto comportamentos a corrigir”, aconselha.

Segundo este especialista, “o nosso cérebro tem mais conexões com as mãos do que com qualquer outra parte do corpo, pelo que se torna obrigatório um cuidado especial em relação aos seus movimentos, que vão desde a amplitude dos gestos aos marcadores espaciais e temporais, pois estes dão-nos muitas vezes a indicação da veracidade das informações, contradizendo aquilo que verbalmente é comunicado”.

António Costa exibe com frequência expressões faciais associadas as emoções negativas, visíveis pelas rugas verticais expressas na testa. 
Rui Mergulhão Mendes

ANTÓNIO COSTA

“Quem foi a pessoa mais impressionante que conheceu?”

  • Toque facial – Pacificador

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“António Costa, na resposta, tem um toque facial dando indicação que necessita de se acalmar emocionalmente. Este
toque acontece no lado esquerdo da face, comandado pelo lado direito do cérebro, o lado mais emotivo, mais ligado aos sentimentos, afinal está a falar dos seus pais enquanto pilares da sua vida. Acompanha com uma expressão facial indicadora de alguma melancolia, também patente na perda de foco do olhar, e do aparecimento na testa de rugas verticais típicas deste estado emocional”.

  • Movimento Assimétrico Ombros – Desprezo

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“Ao dizer ‘Há muitas pessoas que me têm impressionado muito, em diversos momentos e diversas circunstâncias’, acompanha esta afirmação com movimentos assimétricos dos ombros, podendo indiciar algum desprezo. Na comunicação o importante não é só o que dizemos, mas o que de facto os outros percepcionam, inconscientemente registamos estes movimentos e nos momentos certos, quando necessitamos de tomar uma decisão eles ‘aparecem-nos” e tomam conta da decisão, pois registámos uma incongruência entre o que foi dito e a linguagem corporal’.

“Qual foi o seu maior triunfo?”

  • Afastamento Corporal – Bloqueio

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O líder do PS responde que foi a reabilitação do Largo do Intendente, em Lisboa. “António Costa diz que ‘… e pôde-se fazer com um baixo nível de investimento e de uma forma socialmente integradora com respeito por todos mesmo as pessoas que ou consumiam droga ou se prostituíam …’, contudo, o seu corpo contradiz o que verbalmente é dito, ou seja, manifesta um movimento assimétrico do corpo, levantando apenas um ombro, num nítido sinal de desprezo em relação às pessoas envolvidas. Em acto continuo, quando fala das mesmas pessoas (as que se prostituíam ou drogavam) faz um bloqueio corporal com o braço e afasta-se para trás como tentando sair de uma zona na qual não se sente bem. Usamos estes bloqueios sempre que necessitamos de nos proteger de ataques dos outros, ou por uma inconsciente necessidade de nos defendermos das nossas próprias afirmações”.

“Qual foi a última piada que lhe contaram?”

  • Movimento dos Pés – Alegria

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“Num ato bem disposto, António Costa diz ter sido o jornalista que o está a entrevistar e acompanha este bom momento com um movimento dos pés que corroboram precisamente essa boa disposição. Os movimentos dos pés que desafiam a gravidade, que se levantam, que dão chutos no ar, são sinais evidentes de contentamento e alegria, validando assim o que verbalmente está a ser dito”.

E em que ficamos?

“António Costa exibe com frequência expressões faciais associadas as emoções negativas, visíveis pelas rugas verticais expressas na testa. Este não é um bom padrão de comunicação, como já referi a comunicação não é apenas o que dizemos mas o que os outros percepcionam da nossa comunicação”, diz Rui Mergulhão Mendes, frisando que “mesmo de forma inconsciente, sem que demos conta disso, registamos todos estes estados emocionais dos outros, quer eles sejam verdadeiros quer sejam dissimulados” e que, por isso, “não é fácil proceder à correção destes padrões de comunicação mas tornar consciente este comportamento pode ser uma ajuda para os ir corrigindo”.

Jerónimo de Sousa recorre várias vezes a sorrisos para encobrir outros estados emocionais, o que pode tornar uma mensagem menos credível.
Rui Mergulhão Mendes

JERÓNIMO DE SOUSA

“Qual foi a última vez que se zangou?”

  • Bloqueio da boca – Rejeição

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“Jerónimo de Sousa inicia a sua resposta com um breve sorriso tentando desvalorizar o peso da pergunta. Quando entra na resposta propriamente dita, demonstra alguma tensão na face, talvez pelo facto de estar a reviver alguma dessas situações, para depois levar a mão para a zona da boca, numa tentativa inconsciente de bloquear o que estaria a pensar, não querendo dizer ou revelar de que zanga se tratava. Bloqueamos a boca sempre que não gostamos daquilo que dissemos ou queremos dizer. O cérebro dá ao corpo este comando, e este age de forma inconsciente”.

“Qual foi o seu maior triunfo?”

  • Mão pousada – Alegria

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“Jerónimo de Sousa pensa com a mão apoiada, num indicador claro que tem a resposta mas que está a ponderá-la. A mão pousa-se na face anterior esquerda quando uma pessoa se encontra numa dinâmica de aproximação. Esta vontade está associada ao hemisfério direito, o da ligação, e reflete-se no lado esquerdo da face. O desejo espontâneo e a vontade de agir estão presentes. Face ao teor da pergunta é notória esta situação, associada ao prazer da resposta, pois de facto tratam-se dos seus triunfos”.

“Alguma vez deu algum conselho de que se arrependeu?”

  • Microexpressão de Aversão

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“Quando refere que ‘conselhos não me sinto assim muito à vontade para dar’ exibe uma micro expressão de aversão, confirmando o que diz. A micro expressão de aversão surge sempre que não gostamos de alguém, ou que não gostamos do que estamos a ver ou a ouvir. Esta microexpressão é visível na face pelo enrugar da zona do nariz, associada breve movimento que faz descair as sobrancelhas. Bloqueamos a entrada de ar pelas narinas como sinal da repugna da situação”.

“Quantos sms troca por dia?”

  • Bloqueios

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“Na resposta, Jerónimo de Sousa fica pouco à vontade, pois para além de tentar um bloqueio ao ouvido, num sinal que não gosta da pergunta, do que ouve, ainda usa de um pacificador, passando varias vezes o dedo na zona do ouvido, como que massajando aquela zona, para se acalmar, depois tenta novo bloqueio na boca. É certamente um tema que não o deixou à vontade, será que é pouco tecnológico?”.

E em que ficamos?

Para Mergulhão Mendes, Jerónimo de Sousa é o mais descontraído dos três candidatos observados e o que menos se preocupa com o teor das suas mensagens não verbais. “Recorre várias vezes a sorrisos para encobrir outros estados emocionais. No decorrer da entrevista, podemos constatar várias vezes esta situação, mascarando com um sorriso, algumas situações de maior tensão”, nota. Vários estudos revelaram que as pessoas que encobrem outras emoções com sorrisos, mascarando o que de facto estão a sentir, “podem passar um mensagem menos credível”, salienta. “Inconscientemente, sabemos reconhecer um sorriso verdadeiro, chamado Duchenne Smile, de um sorriso ‘amarelo’, gerando assim uma incongruência entre o que tentam passar e o que nós percecionamos”, explica.

Os candidatos vistos pela lupa do publicitário - os mais espontâneos acabam por ser também os mais verdadeiros.
Diogo Anahory

Para Diogo Anahory, diretor criativo da BAR, “os políticos gostam de mostrar que são pessoas iguais ao comum dos mortais de forma a criar maior empatia com os eleitores”. “Têm defeitos, medos e erram como qualquer outra pessoa. Mas julgo que foram poucos os que tiraram partida destas entrevistas”, diz.

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“Jerónimo de Sousa e Marinho e Pinto foram os mais autênticos e espontâneos e, por isso mesmo, aqueles que poderão ter marcado mais pontos com esta entrevista”, sentencia, considerando que Catarina Martins transformou a entrevista “num tempo de antena”.

“Marinho e Pinto, esteve igual a si próprio, é um homem que tem o coração na boca. Diz o que lhe vai na alma e consegue desta forma aproximar-se das pessoas. Mas o líder do PCP foi para mim o mais surpreendente: estava relaxado, à vontade e imaginem só, riu-se com fartura, coisa que não estamos habituados a ver. E não é que até tem um sorriso simpático? Foi também aquele que, juntamente com Joana Amaral Dias, entendeu melhor o registo da entrevista. Ambos deram respostas curtas e objectivas e, como tal, foram menos maçadores”, acrescentou.

Para Diogo Anahory, Passos foi coerente com aquilo que disse ao minuto 9, “a gente mede sempre bem aquilo que quer dizer”, e, por isso, “pensou sempre muito antes de responder” e “foi previsível e enfadonho”. Sobre António Costa, diz que parecia estar “ligado a um detetor de mentiras” por estar “a transpirar abundantemente”.

Os que passaram no teste, de acordo com o diretor criativo da BAR, foram Jerónimo Sousa e Marinho e Pinto pela espontaneidade. “Quando vemos os candidatos a pensarem muito antes de responder, ficamos com a sensação de que estão à procura de uma resposta que não levante muitas ondas ou que não seja contraditória com a imagem que querem passar. Jogam pelo seguro e isso retira-lhes naturalidade”, diz.

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