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É desta que se entendem, señores?

Este domingo Espanha vai ter novas eleições, depois do impasse de dezembro. Mas até pode ficar tudo na mesma. Recorde os últimos seis meses de desacordo — e saiba ao que vão os quatro candidatos.

Exatamente seis meses depois de os espanhóis terem ido a votos no distante 20 de dezembro de 2015, eis que se volta a escrever sobre eleições no país vizinho. Espanha vai às urnas novamente a 26 de junho, este domingo, para decidir. Decidir, sim, mas exatamente o quê? A verdade é que, olhando para o último semestre, nem isso podemos dizer com certeza.

O lugar-comum tem sido dizer que não se passou nada desde a última vez que Espanha teve eleições legislativas. No entanto, e mesmo que a urgência de usar a expressão tão espanhola no pasa nada seja grande, não foi bem assim. Passaram-se muitas coisas, mas a verdade é que nada se concretizou. Nada, claro, à exceção daquela que parece ser cada vez mais uma realidade cimentada da política espanhola: o fim do bipartidarismo.

Recorde-se os resultados de dezembro passado. Em primeiro, ficou o Partido Popular (PP), do Presidente do Governo, Mariano Rajoy, com 28,7% e 123 deputados — suficiente para ganhar, mas muito longe de chegar para renovar a maioria absoluta com que até então governara. Depois, em segundo, apareceu o Partido Socialista Obrero Español (PSOE), de Pedro Sánchez, com o seu pior resultado de sempre: 22% e 90 deputados. Logo a seguir, ficou o Podemos, de Pablo Iglesias, que conseguiu roubar eleitorado socialista e cativar jovens, chegando aos 20,7% e obtendo 69 assentos parlamentares. Finalmente, para ajudar a espetar mais um prego no caixão do bipartidarismo, o Ciudadanos, de Albert Rivera, foi buscar votos que eram do PP e outros tantos ao eleitorado mais novo, e conseguiu 13,9%, o que lhe deu direito a 40 deputados.

Com estes números, confusos e dispersos, houve pelo menos uma coisa que ficou clara para todos os espanhóis: se queriam ter um Governo, teriam de esperar para que os seus líderes chegassem a um compromisso. E foi isso que faltou nos últimos seis meses.

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Desde o início, isto é, logo que foram conhecidos os resultados de 20 de dezembro, tornou-se claro que era Pedro Sánchez, do PSOE, quem teria o poder de resolver de forma rápida e também tradicional os problemas que a pulverização política de Espanha trouxe: estender a mão a Mariano Rajoy, permitindo que este nunca saísse do Palácio de Moncloa. Sozinhos, o PP e o PSOE, as duas maiores instituições políticas de Espanha à exceção da Casa Real, poderiam fazer um último esforço para manterem o bipartidarismo de pé. Somando os 90 deputados dos socialistas aos 123 dos conservadores, ambos juntariam 213 assentos parlamentares — bem para lá dos 176 necessários para uma maioria absoluta.

Mariano Rajoy estendeu a mão a Pedro Sánchez e ofereceu-lhe a oportunidade de dar uma nova oportunidade ao bipartidarismo. O socialista preferiu tentar outras soluções. E, assim, ajudou a enterrar ainda mais um sistema do qual ele próprio faz parte.

Foi essa a proposta de Mariano Rajoy — e que Pedro Sánchez rejeitou, citando o entendimento da esquerda em Portugal como o exemplo a seguir: “Em Portugal as forças da mudança entenderam-se”.

Ora, se em Portugal a direita teve pelo menos o prazer de poder arranjar uma alcunha jocosa para o acordo do PS com os partidos à sua esquerda (como é que se dirá “geringonça” em castelhano?), o mesmo não aconteceu aos seus homólogos espanhóis. Isto porque, como já foi escrito, nada se materializou junto daquelas “forças da mudança” de que Sánchez falava: o PSOE, o partido mais antigo da democracia espanhola; o Podemos, populista e de esquerda; e o Ciudadanos, liberal e de centro-direita.

Não foi por falta de esforço de Sánchez, que logo após recusar a mão de Rajoy fez (quase) de tudo para conseguir juntar em seu torno Rivera e Iglesias. Qualquer combinação a dois não seria suficiente para obter maioria absoluta. Teria de ser mesmo PSOE (90) + Ciudadanos (40) + Podemos (69) a juntar 199 deputados. Sem um deles, nada feito para chegar aos indispensáveis 176.

Juntar os três foi algo que Sánchez nunca conseguiu fazer porque Iglesias e Rivera — cada um, à sua maneira, populares entre o eleitorado jovem — parecem ser um bom exemplo dos casos em que dois irmãos nascem da mesma maneira e crescem na mesma família — neste caso, a do descontentamento com o bipartidarismo — mas que mesmo assim são diferentes em tudo o que sobra. A maior diferença entre os dois (e, aqui, Sánchez esteve sempre do lado de Rivera) foi em relação à realização de um referendo à independência da Catalunha. Desde o início, Iglesias disse que esta era uma “linha vermelha” para negociar com o Podemos, que engloba forças políticas catalãs pró-referendo e independentistas. Assim, nada feito.

“Não obrigue os espanhóis a terem de se pronunciar no próximo 26 de junho.”
Mariano Rajoy, para Pedro Sánchez, repetindo o seu apelo para um pacto entre o PP e o PSOE em março

O máximo que Sánchez conseguiu foi um acordo com o Ciudadanos, que, neste tempo todo, acabou por ser a única proposta de Governo apresentada ao Congresso dos Deputados, no início de março. Mandam as regras que, para ser aprovada, uma solução governativa tem de ter maioria absoluta numa primeira votação ou então maioria simples numa segunda. Mas até podia haver uma terceira votação, que os quatro maiores partidos de Espanha provavelmente continuariam a não chegar a um entendimento. No final, o Ciudadanos e o PSOE votaram a favor da sua própria solução, mas o Podemos e o PP chumbaram-na.

Nessa ocasião, Rajoy aproveitou para tentar recentrar as negociações em torno do Partido Popular. Depois de ter permanecido meses na sombra — e, no final, foi na sombra que continuou –, o Presidente do Governo em funções quis lembrar a toda a gente que tinha sido ele, e não os partidos que discutiam soluções governativas, que tinha vencido as eleições. E, por isso, quis recentrar o debate nele e no PP, “a primeira força política de Espanha”. Assim, voltou à casa de partida e voltou a apelar a um acordo com Sánchez. “Não obrigue os espanhóis a terem de se pronunciar no próximo 26 de junho”, disse, naquele longínquo 4 de março.

Mas obrigou. O prazo de dois meses para chegar a uma solução de Governo depois daquela sessão parlamentar foi transposto e, a partir daí, foi mesmo só aquela data referida por Rajoy que passou a interessar: domingo, 26 de junho, que em Espanha já é conhecido como o 26J.

Apesar de a lista de partidos ser extensa, as atenções vão continuar a estar centradas nos quatro homens (que agora já são) do costume: Mariano Rajoy, Albert Rivera, Pablo Iglesias e Pedro Sánchez.

Em baixo, saiba ao que é que cada um deles vai — e como podem fazer a diferença nas próximas negociações.

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Mariano Rajoy, Partido Popular

Entre os principais candidatos a Presidente de Governo em Espanha, é Rajoy quem tem mais experiência. Saltou para a linha da frente da política espanhola em 1996 e desde então não saiu de lá. Começou por liderar vários ministérios no tempo de Jose María Aznar, iniciando-se na Administração Pública, passando para a Educação e Cultura, seguindo-se o Interior e a Presidência. Já em 2000, tornou-se no vice de Aznar, posição que ocupou até 2003, quando passou a secretário-geral do PP. Depois do jejum conservador que foram os dois mandatos do socialista José Luis Zapatero, Mariano Rajoy tornou-se Presidente de Governo após vencer com uma maioria absoluta as eleições legislativas de 2011.

Ou seja, numa frase: Rajoy é um nome incontornável do sistema político espanhol. E isto, hoje em dia, não é bem visto pelos espanhóis, que nas eleições de dezembro deram ao PP deste galego de 61 anos o seu pior resultado desde 1989. Recorde-se: 28,7%.

Ainda assim, é precisamente por essa experiência que Rajoy tenta valer a sua dama nesta última semana de campanha. No primeiro e único debate a quatro destas eleições, Rajoy dirigiu-se aos restantes candidatos de forma paternalista e do alto da sua tribuna de Presidente do Governo em funções: “Aqui não se chega para treinar aqui chega-se aprendido”. “Convém que vocês tenham um pouco mais de estudo sobre os temas, porque senão vão ter problemas”, disse.

Mas nem a experiência política poupa Rajoy a uma dose considerável de problemas. O maior de todos tem sido, até agora, o caso Bárcenas, que envolve o antigo tesoureiro do Partido Popular e que tem lançado dúvidas acerca do financiamento daquela força política.

Ainda assim, Rajoy vai lembrando amiúde que venceu as eleições em dezembro e refere as sondagens que dão uma nova vitória ao PP. É o caso da última sondagem do El País, que coloca os conservadores com 29% e 113-116 deputados.

Mas continua a não chegar para uma maioria absoluta. Talvez por isso, numa sondagem do El País / Metroscopía tenha ficado claro que três em cada quatro espanhóis (74%) disseram que aceitariam de boa vontade uma solução governativa liderada pelo PP mas sem Rajoy, caso este fosse o único obstáculo a um entendimento. Esse desejo é reforçado pelos eleitores do PP, dos quais 57% apoiaram essa hipótese. “A cidadania parece ter clara a ideia de que neste novo tempo político que Espanha vive (…) as personalidades devem ficar em segundo plano. E isso vale para todos”, escreveu o vice-diretor da Metroscopía, José Pablo Ferrándiz.

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Albert Rivera, Ciudadanos

As sondagens para as eleições de 20 de dezembro de 2015 eram bastante generosas para Rivera e o Ciudadanos, um partido que nasceu na Catalunha e que, naquela noite, se confirmou definitivamente como um partido de projeção nacional e não apenas regional. Mas, ainda assim, o segundo lugar que algumas previsões lhes davam acabou por redundar num quarto lugar com 13,9% dos votos e 40 deputados.

Ainda assim, a aritmética — e a recusa de Sánchez em fazer pactos com Rajoy — ditou que o Ciudadanos e Rivera seriam sempre uma voz a ter em conta nas negociações para a formação de um Governo. Nestas, o partido nascido na Catalunha demonstrou ser o mais versátil de todos, sentando-se à mesa com o PSOE e com o PP, com os quais aprendeu a falar de igual para igual.

No debate televisivo desta campanha, Rivera continuou essa tendência, ao mesmo tempo que evitou queimar pontes com o PSOE e com o PP. E atacou o Podemos, fincando a questão do referendo da Catalunha como o seu maior ponto de discórdia com o partido de Iglesias: “Os candidatos do En Comú Podem [representantes do Podemos na Catalunha] defendem uma república catalã. E é muito difícil dizer-se pela integridade [de Espanha] e ter uma fábrica de independentistas dentro de casa”.

Na sondagem de 18 de junho do El País com a Metroscopía, o Ciudadanos surge com 14,5% dos votos e com uma previsão de 37 a 41 deputados. Quer isto dizer que, se estes números se confirmarem, juntamente com a previsão de 113-116 deputados para o PP, o Ciudadanos voltará a não ser grande o suficiente para ser a chave de um acordo à direita. Por outro lado, se o PSOE e o Podemos não conseguirem chegar a uma maioria absoluta juntos, o Ciudadanos pode ser uma força de desbloqueio em tempos de… bloqueio.

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Pablo Iglesias, Unidos Podemos

Na História da democracia espanhola, nunca houve ninguém que, com tão pouco poder efetivo, tivesse mudado tanto o clima político do país. Pablo Iglesias e Podemos são praticamente sinónimos, depois de terem ambos irrompido do movimento dos indignados do 15-M de 2011, que encheu várias praças de Espanha com jovens descontentes com a situação política e social do reino.

Depois de terem concorrido a umas primeiras eleições quando ainda tinham alguns meses (europeias, com 8%), as eleições legislativas de 20 de dezembro do ano passado foram o maior teste do Podemos. Depois de terem figurado em primeiro nalgumas sondagens (tendência que se esbateu com o aproximar da abertura das urnas), os esquerdistas liderados por Iglesias acabaram por ficar em terceiro lugar com 20,7% dos votos.

Ciente de que seria fundamental nas aspirações governativas do PSOE, Iglesias garantiu que a sua defesa pela realização de um referendo à independência da Catalunha não caía — e não caiu mesmo.

Mas, com isso, caiu o próprio Podemos de Iglesias, cujas projeções num cenário de hipotético de novas eleições eram pouco favoráveis. Como é que Iglesias resolveu isso? Estendeu o braço à Izquierda Unida, força política que inclui o Partido Comunista Espanhol, e conseguiu forjar um acordo pré-eleitoral com aquela força política que, devido a particularidades do sistema eleitoral espanhol, só conseguiu dois deputados, apesar de ter conquistado quase 1 milhão de votos. Assim se fez o Unidos Podemos, que junta os nomes dos dois partidos.

Agora, com o boost da Izquierda Unida, as sondagens estão a colocar o Unidos Podemos em segundo lugar nas eleições deste domingo. No dia 18 de junho, o El País previa-lhes 26% dos votos e 92-95 deputados — um salto considerável, tendo em conta os 69 de dezembro passado e que pode ser imprescindível nas negociações que se seguirão. Quando elas chegarem, deverá continuar a pedir um referendo na Catalunha — pelo menos, continua a defendê-lo, no programa do Podemos, estilizado à semelhança de um catálogo do IKEA.

É para elas que Iglesias olha, como deixou claro no debate desta campanha. Num tom calmo, como aquele que se esforçou para manter ao longo do debate, disse o óbvio ao seu colega socialista: “Todos os espectadores que nos estão a ver sabem que ninguém vai ter maioria absoluta. Ou seja, se [o PSOE] quer governar, vai ter de escolher se quer fazê-lo connosco ou com o PP”. E também lhe deixou outro recado: no caso de uma coligação à esquerda, deve liderar o Governo de quem tiver mais votos. Ou seja, segundo as sondagens, ele próprio: o homem que irrompeu pela política espanhola há um par de anos.

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Pedro Sánchez, PSOE

Seis meses depois, Sánchez pode voltar a ser o pivô no cenário pós-eleitoral deste domingo, tal como já tinha sido no final do ano passado e nos meses que se seguiram. É aqui que ele se sente bem. Mas, ainda assim, há poucas razões para rir, da parte do líder dos socialistas. É que, se em dezembro passado, teve o pior resultado de sempre do PSOE (22% e 90 deputados), as sondagens para o 26J apontam-lhe um destino ainda mais negativo: 20,5% e 78-85 deputados, segundo o El País / Metroscopía.

Talvez por isso é que, enquanto pivô, Sánchez não esteja totalmente certo para que lado é que se deve virar. No debate a quatro, lançou críticas a Rajoy, dizendo que ele é o “presidente de um partido em xeque” e que “os espanhóis não merecem que [ele] continue a ser o Presidente”. Mas não esqueceu o líder do Podemos, criticando o “direito de autodeterminação de que o senhor Iglesias fala”, preferindo falar do “direito a conviver unidos e juntos”.

Sánchez anda na corda bamba há seis meses, tentando encontrar um equilíbrio difícil, ao mesmo tempo que recebe empurrões de fora e também de dentro — muitos barões do PSOE não lhe perdoam os parcos 22% de dezembro e receiam uma aproximação ao Podemos. Enquanto isso, Sánchez tenta copiar o exemplo de António Costa, a quem já gabou a solução de Governo com as “forças da mudança”.

A verdade é que, no meio de ventos a desfavor, há outros que sopram paradoxalmente na direção de Sánchez. Na mesma sondagem que prevê o pior resultado de sempre do PSOE para estas eleições, o socialista surge ex-aequo com Iglesias como melhor opção para Presidente do Governo (23% das preferências cada, seguindo-se 21% de Rajoy e 19% de Rivera). Sobra ainda outro dado interessante para Sánchez: um Governo do PSOE com o Unidos Podemos é aquele que reúne mais opiniões favoráveis, com 50% de inquiridos a apoiar, contra 48%.

São números apertados — mas com margem de manobra, em tempos em que as geringonças parecem funcionar e as vacas voam.

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