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Portugal regressa a Marienfeld, onde esteve concentrado durante a fase final do Campeonato do Mundo de 2006
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Portugal regressa a Marienfeld, onde esteve concentrado durante a fase final do Campeonato do Mundo de 2006

André Maia/Observador

Portugal regressa a Marienfeld, onde esteve concentrado durante a fase final do Campeonato do Mundo de 2006

André Maia/Observador

Entre os novos vizinhos de Ronaldo, há quem não o conheça. Mas Marienfeld está pronta para a Seleção

A pacata vila alemã de Marienfeld vai voltar a receber a Seleção. Há quem vá ter novos vizinhos da frente, há quem não os conheça e quem até já os tenha alimentado. A paz antes da febre do Euro.

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Se fecharmos os olhos, só ouvimos os passarinhos a cantar, embalados pela dança das árvores com o vento. A banda sonora é natural e só acaba interrompida por um ou outro carro ou campainha de bicicleta. Já se abrirmos os olhos, o visual fica ela por ela com o som: muito verde e muita tradição, numa vila de conto de fadas que podia ter saído de um filme do Shrek. É assim Marienfeld, uma pequena vila de cinco mil habitantes no oeste da Alemanha. Uma terra pacífica, mas que vai deixar de o ser daqui a um dia. Porquê? Porque é aqui que Seleção portuguesa vai ficar durante o Euro-2024.

Depois do Mundial de 2006, na Alemanha, o Hotel Klosterpfort volta a ser o quartel-general da equipa das quinas, que vai aterrar esta quinta-feira em solo alemão e rumar a Marienfeld ao princípio da noite. É por lá que estarão centenas e centenas de portugueses emigrados… mas também os locais. A questão será: quem está mais entusiasmado pela vinda da Seleção?

O meu vizinho é o Cristiano Ronaldo

Conhece o seu vizinho do lado? E de cima? Talvez não. Costuma dizer-se que antigamente a vizinhança se conhecia toda e que agora já não se conhece nenhuma. Julian Hülsman não terá grandes problemas nesse sentido. Isto porque, daqui a umas horas, vai ser só vizinho de algumas das maiores estrelas do futebol mundial e do ser humano mais seguido no Instagram em todo o mundo. Julian vive literalmente à frente da porta de entrada do Hotel Klosterpfort. É a casa mais próxima do centro de estágio inteiro. Mas mesmo assim, podia ser melhor: “Não consigo ver o relvado, infelizmente. Eu tenho vista para o hotel da janela do meu quarto, mas tenho muitas árvores à frente e o campo também fica mais para trás. É pena”, diz-nos o jovem alemão de 23 anos.

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Julian Hülsman, à porta da sua casa, que fica em frente ao hotel da Seleção

Mas mesmo sem ver o campo, a casa de Julian é uma espécie de “camarote” para o estágio de Portugal. E, por enquanto, essa tribuna ainda não esgotou: “Não tenho recebido muitos pedidos dos meus amigos, não. O meu sofá ainda está livre. Eles são de terras aqui perto e o ponto de encontro vai ser aqui em casa, mas depois vamos recebê-los à porta do hotel para tentarmos ver alguns jogadores”. E quais? Não precisa de olhar para o parágrafo de baixo para descobrir.

[Já saiu o quinto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio, aqui o terceiro episódio e aqui o quarto episódio]

“O Ronaldo é quem eu mais quero ver, mas o Rafael Leão também é um jogador que adoro ver jogar. O Bernardo Silva também. Quer dizer… vocês têm tantos jogadores bons, é uma equipa tão boa! E consegues sentir que a vila tem alguma tensão neste momento. As pessoas conseguem sentir que algo de grande está para chegar, que vêm aí super-estrelas!”, diz Julian Hülsman. Mas serão mesmo “super-estrelas”… se nem todos sabem quem são?

É esta a vista que Julian tem da sua casa: o Hotel Klosterpforte, onde ficará a Seleção

André Maia/Observador

“Se o Ronaldo passasse na rua, eu não o reconhecia”

Nem todos os habitantes de Marienfeld são apaixonados por futebol como Julian, que admite que vai torcer por Portugal até à final do Europeu – exceto se jogar contra a Alemanha. Ulrike Dietrich é cabeleireira há várias décadas na vila e admite não saber quem é o capitão: “Não conheço de cor a cara do Ronaldo. Se ele passasse agora aqui na rua, eu não o reconhecia”. Aliás, para ela, até agora, pouco mudou na vila para além dos adereços da Federação no hotel e de um jornalista com um microfone azul do Observador: “No dia em que eles chegarem sim, vai notar-se muito movimento. Mas até agora não. Tudo igual. Mas eu também não tenho estado cá…”, diz Ulrike. E onde é que terá estado?

Ulrike Dietrich deixou um corte de cabelo a meio para falar com o Observador

Bingo. Há coincidências tramadas. “Estive em ‘Lisabon’ nos últimos dias!”. E gostou? “Lindíssimo. Foi muito bom. As igrejas são lindíssimas. As ruas cheias de flores. Eu estive nas festas na rua, as festas de ‘Antónia'”. Ninguém se chateia com o lapso e lá explicámos a Ulrike o que são os Santos Populares da capital portuguesa. Mas festas que, atenção, não se comparam às que houve em Marienfeld em 2006. “Foi um grande evento. Tivemos um espaço ao pé do hotel, havia festas todos os dias. Nunca vimos os jogadores, mas foi tudo tão natural, foi uma grande festa”, recorda.

Uma festa que vai ser agora replicada, com nova oportunidade para Ulrike e outros habitantes poderem ver os jogadores. Ver e, quem sabe, cortar-lhes o cabelo, algo que também não aconteceu na época do Mundial de 2006. “Por mim não havia problema, mas acho que eles trazem cabeleireiros privados, não precisam”, diz entre risos. Portanto, de cabelo não é preciso nada. Mas pelo histórico, talvez seja preciso comida.

"Não conheço de cor a cara do Ronaldo. Se ele passasse agora aqui na rua, eu não o reconhecia"
Ulrike Dietrich

“De vez em quando o Scolari veio cá comer. Foi sempre simpático”

No último Campeonato da Europa, a nossa Seleção levou 150 quilos de bacalhau e 60 garrafas de azeite. É habitual levar a trouxa, que, obviamente, conta com tudo a que se tem direito. Mas, mesmo assim, em 2006, o então selecionador nacional Luiz Felipe Scolari achou que faltava qualquer coisa. Atravessou a estrada e foi ao Imbiss Perseke, restaurante fixado na vila desde 1968 e que é especializado em hambúrgueres e batata frita. E elas não escaparam a Felipão.

“Sim, o Scolari passou aqui em 2006 e comia alguma coisa de vez em quando. Foi sempre simpático e era sempre um gosto vê-lo”, diz-nos Darleen, filha do proprietário do estabelecimento. Na altura tinha apenas dez anos. Agora, com 28, espera replicar ainda mais as memórias de infância: “Esperamos apenas que haja mais movimento por aqui nos próximos dias. O meu desejo é que seja tão bonito quanto foi em 2006”. E já agora, com mais receita também para o restaurante. “Esperamos que sim, é isso que desejamos”, admite.

Darleen, filha do proprietário do Imbiss Perseke, com o "chef" que fez sucesso no Mundial 2006

Para isso há uma arma secreta. Quando Darleen perguntou se queríamos que ela fosse “buscar o chef” do Mundial 2006, respondemos que sim. Tantas histórias teria o chef que serviu Scolari para contar. Nunca esperámos que “o chef” fosse um boneco em tamanho real, vestido com uma camisola de Portugal. “Fez muito sucesso da outra vez”, diz-nos. Está na hora de o pôr de novo à porta.

“Todos os meninos querem ver o Cristiano Ronaldo”

Em Marienfeld, nada tem portões. As casas não têm portões. As lojas não tem portões. As escolas… não têm portões. Não há uma separação física. E só descobrimos isso quando percebemos que já estávamos no recreio da Marienschule da vila, destinada ao ensino primário. Lá dentro, poucas crianças. E as que havia, faziam o quê? Jogavam futebol, claro. Por entre várias bandeiras dos países do Euro a enfeitar o cenário, falámos com um pai muito especial. “Sou o treinador dos miúdos aqui no SW Marienfeld”. Thorsten Kintrup treina os traquinas e benjamins – entre os oito e nove anos de idade – da equipa da vila. E garante que a vinda de Portugal está a marcar a infância das crianças.

“Eles estão muito entusiasmados. Até nervosos. Querem muito visitar a equipa, querem muito estar aqui no momento da chegada”, diz-nos. Mas nem todos podem estar presentes nessa receção. Thorsten que o diga: “Eu ainda não sei se posso vir… Tenho de dar treino a essa hora. Mas eles também devem chegar já de noite, talvez passe aqui à tarde”.

As escolas em Marienfeld estão enfeitadas com as bandeiras dos países que vão participar no Euro-2024

André Maia/Observador

E se fosse ao contrário, os jogadores da Seleção irem visitar um treino dos meninos de Thorsten? Aí já não havia hesitações: “Claro que gostava. E os jogadores de Portugal serão sempre bem-vindos no nosso clube e aqui na vila de Marienfeld”. E é bom que sejam bem recebidos, porque nas próximas semanas vão ser vizinhos. Quantas, ninguém sabe, mas esta quinta-feira espera-se uns mini Santos Populares junto ao hotel da Seleção. É o mote para, quem sabe, uma festa que ficará na eternidade, no livro de ouro do futebol português.

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