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Mesmo durante o processo de vacinação devem continuar a usar-se máscaras para evitar o aparecimento de novas variantes, defendem os investigadores
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Mesmo durante o processo de vacinação devem continuar a usar-se máscaras para evitar o aparecimento de novas variantes, defendem os investigadores

Photo by Nataliya Vaitkevich/Pexels

Mesmo durante o processo de vacinação devem continuar a usar-se máscaras para evitar o aparecimento de novas variantes, defendem os investigadores

Photo by Nataliya Vaitkevich/Pexels

O que a variante Delta veio mudar. Os riscos, a eficácia da vacinação e como as medidas tradicionais a podem travar

Centro de controlo das doenças norte-americano lançou o alerta com um surto de infetados entre vacinados. OMS diz que o jogo é o mesmo, só precisamos de saber jogar: usar bem as vacinas e máscaras.

“Não posso ter Covid-19, doutor. Já tomei as duas doses da vacina”, disse um homem de meia idade ao médico, quando apareceu na consulta com febre, dores de garganta e de cabeça. O teste PCR de diagnóstico, no entanto, contestou a ideia e trouxe um resultado positivo, contou o médico do serviço nacional de saúde britânico num artigo de opinião. “Estou realmente surpreendido, doutor. Pensava, honestamente, que não podia ser infetado depois de tomar a vacina”, disse o doente, nas palavras do médico Amir Khan. O doente confessou ter relaxado as medidas de proteção depois da vacina, deixou a máscara e ignorou a recomendação de evitar ajuntamentos.

Ao longo de vários meses, as máscaras faciais, o distanciamento físico, a desinfeção das mãos e superfícies e o arejamento dos espaços era o que tínhamos de melhor na luta contra o SARS-CoV-2. Com a chegada das vacinas contra a Covid-19 e o aumento da taxa de vacinação da população veio a esperança de que poderíamos descartar as medidas anteriores e “voltar a viver normalmente”. As notícias da última semana, no entanto, alertam que ainda não chegou esse momento: a vacinação não é tão eficaz a prevenir a infeção com a variante Delta como tinha acontecido com outras variantes, um surto em que a maioria dos infetados são pessoas vacinadas e o aviso de que deixar de usar máscara, mesmo em locais com alta taxa de vacinação, pode criar condições para o aparecimento de novas variantes.

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“A Organização Mundial de Saúde alertou que o coronavírus [que causa Covid-19] está a mudar desde que foi reportado pela primeira vez e que continua a mudar. Até agora, já surgiram quatro variantes de preocupação e haverá mais enquanto o vírus se continuar a disseminar”, disse Tedros Adhanom Gebreyesus, diretor-geral da OMS, na sexta-feira passada. Os ajuntamentos, a mobilidade, o uso desadequado das medidas de saúde pública e uma campanha de vacinação a várias velocidades está a fazer com que aquilo que foi possível alcançar com muito custo esteja em risco, alertou o diretor-geral.

Os dados que fizeram os CDC tomar uma medida de urgência

O crescimento da nova vaga da pandemia pode levar a novas medidas em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, os Centros para o Controlo e Prevenção da Doença (CDC) voltaram a recomendar o uso de máscara nos espaços públicos interiores mesmo para quem está vacinado, porque poderiam transmitir o vírus como os não vacinados. Como justificação, a autoridade de saúde alegou que as pessoas vacinadas que ficam infetadas com a variante Delta podem ter uma carga viral tão grande como os não vacinados — ou seja, uma quantidade igualmente grande de vírus nas vias respiratórias prontos a serem disseminados —, algo que não acontecia com a variante Alpha.

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A falta de divulgação dos dados que basearam a decisão, numa primeira fase, levantou críticas de especialistas externos ao processo. Outra das críticas prende-se com o facto de não existirem dados que permitam saber quão comum é a infeção de pessoas vacinadas. “Vimos os dados e pensámos que era urgente o suficiente tomarmos uma atitude, no contexto de uma quarta onda evitável de aumento acentuado de Covid-19”, justificou um dos especialistas dos CDC ao jornal The Washingthon Post, pedindo para não ser identificado.

O que os dados mostravam, soube-se depois, era a proporção de pessoas infetadas num surto em Provincetown (Massachusetts), depois das celebrações do 4 de Julho: 74% dos infetados estavam vacinados e a maior parte tinha a variante Delta, reportou o jornal The New York Times. A surpresa nasce do facto de o estado do Massachusetts ter o processo de vacinação bem encaminhado — no final de junho, 67% da população tinha tomado, pelo menos, uma dose da vacina. Especificamente em ​​Barnstable, o condado onde se localiza Provincetown, 75% da população já tinha recebido, pelo menos, a primeira dose da vacina no final de junho e 68% tinha a vacinação completa.

"Estamos a lutar contra o mesmo vírus, mas um vírus que se tornou mais apto e mais bem adaptado para se transmitir entre nós, humanos."
Michael Ryan, diretor executivo do programa de emergências de saúde da OMS

Especialistas ouvidos pelo The Atlantic, no entanto, defendem que se a situação é assim tão grave, a mensagem deveria ser mais forte: todos os vacinados deveriam usar máscaras nos espaços públicos interiores — como, aliás, terá sido discutido na reunião de especialistas dos CDC — em vez de apresentar apenas uma recomendação e deixar ao critério de cada um o que fazer de acordo com os mapas de risco dos condados, como foi efetivamente comunicado.

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Mas há questões sobre a variante Delta e as conclusões do CDC ainda mais relevantes: ainda não se sabe até que ponto a carga viral afeta a capacidade de contágio nem que significado tem a infeção de pessoas vacinadas na evolução da pandemia, lembra o jornal The Washingthon Post, citando especialistas e estudos (e a falta deles). Logo, há especialistas a criticar as conclusões dos CDC, porque se deveriam basear na ciência e deveriam ser transparentes.

Vale a pena lembrar que as vacinas foram testadas e mostraram ser eficazes a prevenir a doença grave e a morte com Covid-19 — e continuam eficazes, visto 97% dos norte-americanos hospitalizados não estarem vacinados. Se as vacinas tiverem capacidade para reduzir a transmissão é um extra, mas nunca foi o objetivo primordial das vacinas impedirem completamente o vírus de passar de uma pessoa para a outra. Assim, é expectável que mesmo as pessoas vacinadas possam transmitir o vírus.

Além disso, quando o número de casos aumenta, aumenta também o número de pessoas internadas, e se uma grande parte da população está vacinada, também haverá mais vacinados entre os internados.

“A resposta imunológica, uma vez ativada, demora um pouco para entrar em ação, mesmo entre as pessoas que foram vacinadas."
William Hanage, epidemiologista na Escola de Saúde Pública de Harvard

Delta contagiosa como a varicela, mas há formas para a controlar

Que a variante Delta se disseminava mais rapidamente do que as anteriores, incluindo a variante Alpha, não é novo. O Reino Unido mostrou como a variante se tornou dominante mesmo no meio de uma população que, em larga escala, já tinha a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Em Portugal verificámos como a variante Delta destronou a Alpha em poucas semanas. E em vários outros países do mundo isso foi acontecendo, incluindo nos Estados Unidos.

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Os cálculos indicam que a variante Delta se transmite cerca de 50% mais rápido do que a Alpha e a Alpha cerca de 50% mais rápido que a linhagem original do vírus. Mas o mais surpreendente da informação dos CDC, que o jornal The Washingthon Post divulgou, foi que a Delta poderia ser tão contagiosa como a varicela.

O que é que isto quer dizer? Sem qualquer medida de contenção do vírus, uma pessoa infetada com a linhagem original poderia contagiar, em média, 2,5 pessoas. Já uma pessoa infetada com a variante Delta poderá infetar entre cinco e nove pessoas, segundo os dados do CDC. De destacar, no entanto, que o intervalo é grande porque a incerteza sobre este valor também é grande e que estão implementadas uma série de medidas que reduzem a transmissão do vírus como as vacinas, máscaras ou limite de contactos.

Delta é uma variante “com esteroides”, mas a vacina continua a dar luta

“Estamos a lutar contra o mesmo vírus, mas um vírus que se tornou mais apto e mais bem adaptado para se transmitir entre nós, humanos”, disse o Michael Ryan, diretor executivo do programa de emergências de saúde da OMS. Para Michael Ryan o jogo não mudou, nem as armas que podemos usar, mas teremos de ser mais eficazes a fazê-lo.

As vacinas até podem mostrar-se ligeiramente menos eficazes contra uma infeção causada pela Delta do que uma causada pela Alpha. Mas também se sabe que a variante Delta, ao contrário da Beta, Gamma ou Delta Plus, não tem a mutação que lhe permite escapar aos anticorpos neutralizantes. Assim, como a variante Delta é tão rápida a transmitir-se e replicar-se, infeta o organismo antes de o sistema imunitário conseguir preparar a resposta, mas não quer dizer que a resposta não seja eficaz — pelo menos, ainda não existem dados nesse sentido.

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“A resposta imunológica, uma vez ativada, demora um pouco para entrar em ação, mesmo entre as pessoas que foram vacinadas”, disse William Hanage, epidemiologista na Escola de Saúde Pública de Harvard, citado pelo The Washingthon Post. “Como resultado, se o vírus consegue copiar-se muito rapidamente, é capaz de ter algumas rodadas de replicação, mesmo em pessoas vacinadas, antes de o sistema imunitário o controlar.”

Os dados recolhidos pelos CDC também parecem indicar que as vacinas não são tão eficazes em grupos específicos como os idosos em lares ou estruturas similares e as pessoas com sistemas imunitários debilitados. A autoridade de saúde deixa, assim, no ar a possibilidade de vir a dar-se uma dose de reforço da vacina aos grupos mais vulneráveis.

Anticorpos diminuem semanas depois da vacinação, mas isso não significa que precisamos de uma dose de reforço

Israel já começou a vacinar as pessoas com mais de 60 anos, França está a oferecer um reforço aos mais velhos e mais vulneráveis nos lares e a Alemanha prepara-se para começar administrar a terceira dose os mais velhos e pessoas com comorbilidades em setembro, noticiou o jornal The New York Times.

Os países avançam assim com medidas à revelia da opinião dos especialistas ou dos apelos da OMS. Por um lado, ainda não se sabe se será necessária uma dose de reforço, que efeito terá, quando deve ser dada ou com que vacina. Por outro lado, as pessoas mais vulneráveis em todo o mundo deviam ser vacinadas antes de se pensar sequer nos reforços nos países mais ricos. A maior parte dos países africanos (70%) vai falhar a meta de ter 10% das pessoas vacinadas até ao final de setembro e pode não conseguir fazê-lo até ao final do ano.

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