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A CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, durante a assinatura dos protocolos de colaboração entre a ANA, TAP e GALP, no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, 22 de julho de 2022. A TAP, a Galp e a Ana – Aeroportos de Portugal apresentam o projeto SAF sobre a realização do primeiro voo em Portugal com Sustainable Aviation Fuel e assinam um protocolo de colaboração para a promoção e uso de combustíveis sustentáveis. TIAGO PETINGA/LUSA
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TIAGO PETINGA/LUSA

TIAGO PETINGA/LUSA

Ourmières-Widener já não tem o "pior emprego do país". Do personal trainer aos BMW, as polémicas da CEO que deixa a TAP a dar lucro

Chegou para reestruturar e sai demitida pelo Governo, sem indemnização mas com lucros para mostrar. Christine Ourmiéres-Widener não resistiu ao caso Alexandra Reis, mas passou por outras polémicas.

Aterrou em Lisboa em junho de 2021. Na bagagem trazia um rótulo: especialista em reestruturações de companhias de aviação. Em Portugal, era essa a missão que a esperava. Após um longo processo de recrutamento conduzido por uma “caçadora de talentos” internacional, a escolha do Governo para substituir Antonoaldo Neves na TAP recaiu em Christine Ourmiéres-Widener.

Francesa, contava no currículo com uma carreira na aviação e companhias como a Air France- KLM, a CitiJet e a Flybe. A travessia que a esperava era espinhosa. Foi já com a francesa aos comandos que Bruxelas deu luz verde ao plano de reestruturação da TAP, que implicou uma injeção de 3,2 mil milhões de euros na companhia. Acabou por ser atirada borda fora por causa de uma indemnização de 500 mil, dada a uma gestora com quem se incompatibilizou.

O mandato nem chegou a meio, o que dará razão a quem disse a Christine Ourmiéres-Widener que ser CEO da TAP era o “pior emprego do país”, como a própria revelou no parlamento em janeiro, quando foi ouvida já a propósito da indemnização a Alexandra Reis. Apesar de curto, o voo foi turbulento. Num ano e meio, foram várias as polémicas que Ourmiéres-Widener somou enquanto líder da companhia.

O travão aos BMW

Numa empresa que tem de gerir uma frota de aviões, foi a frota de automóveis dos administradores e diretores que voltou a por a TAP nas bocas do mundo pelas piores razões. No início de outubro do ano passado, a CNN Portugal revelou que a companhia tinha encomendado 79 automóveis da marca BMW para substituir a frota automóvel dos administradores e gestores que era composta, na altura, por Peugeot.

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TAP encomenda dezenas de BMW para administradores executivos e diretores de topo

Numa companhia em reestruturação, com um fantasma de 3,2 mil milhões de euros de dinheiro público a pairar sobre si, a notícia não caiu bem. A empresa correu a justificar a troca com “motivos ambientais” e  “benefícios fiscais associados a estas viaturas, menos poluentes”. E garantiu que, em termos financeiros, era mesmo a alternativa mais vantajosa.

Perante a pressão da opinião pública, numa onda de indignação que chegou a Belém, com o Presidente da República a reconhecer que existia um “problema de bom senso”, a TAP fez marcha-atrás. A Comissão Executiva optou por manter a “atual frota” durante um período máximo de um ano, perante “o sentimento geral dos portugueses”. A empresa cancelou a encomenda dos BMW e nunca revelou pormenores sobre eventuais compensações. Chegou a falar-se de uma fatura de meio milhão de euros. Até hoje, não se sabe quanto custou o caso BMW. Os diretores andam de Uber.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre o relatório da IGF.

Ficou tudo esclarecido no caso Alexandra Reis?

O contrato de 15 mil euros com a mulher do personal trainer

Foi mais um caso que contribuiu pouco para a imagem de Christine Ourmières-Widener junto da opinião pública nacional. Também em outubro do ano passado, soube-se que a até agora CEO da TAP tinha escolhido Isabel Nicolau, amiga pessoal e companheira do personal trainer do marido, para liderar o departamento de melhoria contínua e sustentabilidade da companhia. O contrato, revelado pela TVI, tinha o valor de 15 mil euros mensais, mas a TAP garantiu que era “substancialmente inferior”.

Christine Ourmières-Widener foi ao parlamento em janeiro na sequência do caso Alexandra Reis

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Numa nota, a TAP sublinhou que a contratação foi “levada a cabo pela direção de recursos humanos e foram considerados outros candidatos, tendo-se optado pela que foi considerada mais adequada às funções”. Isabel Nicolau é engenheira civil e não tinha experiência no setor da aviação. Era, então, diretora técnico comercial da MAP Engenharia. O companheiro tinha inaugurado pouco tempo antes uma associação sem fins lucrativos com o marido de Ourmières-Widener.

A Comissão Executiva da companhia negou que “a atual CEO tivesse tido qualquer participação na decisão” de contratar Isabel Nicolau, mas reconheceu que a ligação era justificada, “porque esta nova diretora tem um relacionamento pessoal recente com a atual CEO”. O burburinho causado pela contratação não foi suficiente para deixar cair a nomeação.Isabel Nicolau continua a ser Diretora de Melhoria Contínua, Sustentabilidade e Real Estate da TAP. Sobrevive à amiga na empresa.

Um rodopio de diretores

Alexandra Reis assumiu à IGF que Christine Ourmières-Widener queria que ela saísse da TAP. Segundo a gestora, cujo caso já fez cair várias peças neste tabuleiro – incluindo a demissão de um ministro (Pedro Nuno Santos), além do seu secretário de Estado –, tinha “pontos de vista diferentes” do da CEO, nunca se tendo abstido de dar a sua opinião e expressar as suas dúvidas e preocupações.

Um dos casos em que houve divergência entre Alexandra Reis e Christine Ourmières-Widener foi o da mudança da sede para outras instalações, “quando a TAP funciona atualmente em espaço próprio a custo zero”, assumiu Alexandra Reis à IGF. A esta entidade Christine Ourmières-Widener falou de “desalinhamento e divergências profissionais” relativamente ao plano de reestruturação.

Apresentação de resultados de 2021 da TAP com a presença da presidente executiva (CEO) da TAP, Christine Ourmières-Widener e de Gonçalo Pires (CFO) da TAP. Lisboa, 11 de Abril de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A CEO da TAP sai da empresa com resultados financeiros positivos.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mas tinha sido noticiada, também, a existência de uma divergência ao nível das contratações. Desde que a gestora francesa chegou à TAP, vários diretores foram substituídos. Muitos quadros tinham saído, até antes, por conta de um programa de rescisões com um teto de 250 mil euros. Mas muitos diretores terão saído com indemnizações mais chorudas. Este é um dos temas que será objeto da comissão parlamentar de inquérito à TAP, que pediu a lista das “outras alexandras reis”.

Mais de 20 diretores e chefias saíram da TAP nos últimos dois anos. Quem saiu e para onde foi?

Saíram muitos gestores, entraram outros tantos. Com Christine chegaram chefias com remunerações brutas mensais acima dos 10 mil euros, incluindo despesas de residência de 2.000 euros para quem chegou fora de Portugal. Alexandra Groudin chegou à TAP da logística da Amazon França, mas esteve na companhia britânica regional Flybe onde Christine Ourmières-Widener foi presidente executiva. Também Henry Charles, diretor de estratégia e rede, passou pela Flybe antes de ser consultor em Londres.

Gestão da TAP quer ser avaliada por resultados, mas teve de lidar com pressão “horrível” nos BMW e com alcunha Maria Antonieta

Já Frederic Babu, diretor de clientes, veio da Air France KLM. Pouco abaixo do patamar dos 10.000 brutos mensais surgem os nomes do diretor de Frota, Alberto Blanco, que foi vice-presidente da CDB Aviation, tendo estado antes na divisão asiática da Airbus, e Karulina Machura, a diretora de tripulação que veio da companhia polaca Lot. Além da contratação polémica de Isabel Nicolau.

A tensão entre “Maria Antonieta” e os sindicatos

A relação de Christine Ourmières-Widener com os trabalhadores começou com os sindicatos a darem o benefício da dúvida, para acabarem a exigir a cabeça da gestora que apelidavam de “Maria Antonieta“. A indemnização a Alexandra Reis só contribuiu para tornar a relação mais amarga, numa empresa em situação económica difícil que exige aos trabalhadores cortes nos salários e a suspensão de acordos de empresa. Mas a animosidade já vinha de trás.

Em junho do ano passado, os pilotos revoltaram-se porque a empresa recusou, por mais que uma vez, a realização de um plenário, por considerar que a reunião poderia “causar um dano insuportável na empresa e na imagem do país, num contexto de progressiva, mas ainda frágil, recuperação” da transportadora.

O presidente do SNPVAC - Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Ricardo Penarroias , em declarações à comunicação social após uma reunião com o partido politico Bloco de Esquerda (BE),  para abordar a situação da TAP no âmbito da atual situação política, em Lisboa, 07 de janeiro de 2023. RODRIGO ANTUNES/LUSA

O presidente do SNPVAC, Ricardo Penarroias, foi muito crítico da CEO da TAP.

RODRIGO ANTUNES/LUSA

No final do ano passado, foi a vez dos tripulantes de cabine. Após o chumbo de mais uma proposta de acordo feita pela administração da empresa, os trabalhadores sacaram da sua maior arma: a greve. A 8 e 9 de dezembro, foram cancelados 360 voos. Em cima da mesa estavam as difíceis negociações para a revisão do Acordo de Empresa (AE), no âmbito do plano de reestruturação.

A segunda paralisação, marcada para os últimos sete dias de janeiro, e que poderia custar 50 milhões de euros aos cofres da empresa, acabaria por ser desconvocada porque a empresa cedeu em alguns dos pontos reivindicados pelos sindicatos, como a progressão na carreira e o congelamento dos salários.

Progressão na carreira, menos congelamento salarial e mais um tripulante. O que conseguiu o sindicato para desconvocar a greve na TAP?

Mas o acordo foi uma trégua, mas as pazes não ficaram feitas. O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), mais vocal nesta querela, admitiu que “houve acordo, mas continua a haver muita insatisfação”, porque os “problemas não desapareceram” e “ao mínimo deslize voltaremos à luta”. Já não será com Christine Ourmières-Widener.

O caso Alexandra Reis

Foi na véspera de Natal que se acendeu o rastilho daquela que seria a derradeira polémica de Christine Ourmières-Widener. “TAP paga 500 mil euros a governante”, era a manchete do Correio da Manhã. A “governante” era Alexandra Reis, nomeada há um mês para secretária de Estado do Tesouro, vinda da presidência da NAV. O resto da história é conhecida e culminou esta segunda-feira com mais dois despedimentos, o da própria Christine Ourmières-Widener e o de Manuel Beja, chairman da TAP.

Demissões no Governo colocam presidente da TAP sob alta pressão

A primeira “baixa” do caso foi a própria Alexandra Reis, que terá de devolver a maior parte dos 500 mil euros, considerados indevidos pela IGF. Seguiram-se, poucos dias depois, a 27 de dezembro, o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, e o ministro Pedro Nuno Santos.

"Era essencial virar a página na gestão da empresa que recupere laços de confiança da TAP com o país, que devolva sobriedade às práticas da empresa, que prossiga à aplicação do plano de reestruturação de forma eficaz tendo em vista a concretização bem sucedida da privatização".
Fernando Medina, Ministro das Finanças

Quem a ouviu no parlamento em janeiro, na sequência deste caso, ficou com mais dúvidas do que certezas sobre a sua responsabilidade neste caso. Christine deu várias meias respostas e deixou muitas questões a pairar. Confirmou divergências com Alexandra Reis e garantiu que o Governo foi informado sobre a indemnização por escrito. Os contornos do acordo foram sempre atirados pela CEO para as mãos dos advogados, tal como na resposta dada à IGF. O foco de Christine Ourmières-Widener na audição esteve nos danos que o caso provocou à empresa. Os “ataques diários” estariam a fazer com que trabalhadores entrassem no seu escritório a chorar por verem o seu nome nos jornais.

Caso Alexandra Reis. Presidente da TAP compromete advogados e secretário de Estado que autorizou indemnização por escrito

O despedimento de Christine Ourmières-Widener está longe de ser uma saída à francesa. No contraditório que enviou à IGF, a gestora promete fazer barulho. Confessa a sua “perplexidade ao constatar que lamentavelmente foi a única pessoa diretamente envolvida na auditoria que não foi ouvida pessoalmente” perante a IGF neste processo e diz que vai tirar “em devido tempo, todas as consequências legais” daquele que considera ter sido um “comportamento discriminatório” por parte da IGF.

A verdade é que Christine Ourmières-Widener não sai completamente pela porta pequena. Tal como foi reconhecido pelo Governo, inclusive esta segunda-feira por Fernando Medina, que lhe louvou o “mérito”, sob a batuta da gestora a TAP não só terá voltado aos lucros anuais como o fez dois anos antes do previsto no plano de reestruturação, que apontava para o verde em 2025. A francesa sai da TAP sem indemnização em nome de um “virar de página” desejado pelo Governo após o escândalo Alexandra Reis. Luís Rodrigues é o senhor que se segue no “pior emprego do país”.

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