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O UberEATS chegou a Portugal no passado dia 28 de novembro e fez de (quase toda a) Lisboa a 200.ª cidade a ter o serviço de entrega de comida que promete enfrentar a concorrência como um Uber enfrenta um táxi. Apesar de ter tido uma visibilidade instantânea por ser o primeiro meio a entregar McDonald’s ao domicílio em Portugal, ao ir para Lisboa o UberEATS entrou num mercado em que já há empresas a fazer praticamente o mesmo. A espanhola Glovo e as portuguesas noMENU e SendEAT, entre outros serviços, já estão no nosso mercado há mais tempo e entregam também comida de vários restaurantes em qualquer lugar. Pusemos estas três à prova contra o UberEATS para ver qual a mais rápida, a mais económica e a que entregou a comida mais quente.

O grande plano inicial era fazer o mesmo pedido, do mesmo restaurante, aos quatro serviços. Mas a realidade arruinou uma grande ideia: depois de (muita) procura, percebeu-se que não há nenhum estabelecimento que esteja nos quatro e entregue na redação do Observador. Com orçamento limitado para fazer este teste (aqui, ainda não foi possível virar a página da austeridade), procurámos uma solução: havia restaurantes que estavam em dois dos serviços. Sendo o UberEATS o mais recente no mercado e o que tem mais restaurantes associados em Lisboa, foi o que foi a combate direto com cada serviço para vermos como cada um se comporta.

Para concorrer contra a UberEATS foram escolhidas a Glovo, por já ter experiência no estrangeiro; a noMENU, por ser uma das mais antigas a funcionar em Portugal; e a SendEAT, por ser uma startup portuguesa recente que está a competir no mesmo mercado também há pouco tempo em Lisboa. Algumas empresas, como a Comer em Casa e a Central Menu, ficaram de fora.

Agora sim, estava tudo pronto para o Grande Torneio da Entrega de Comida.

UberEATS versus Glovo

A Glovo, startup fundada em 2015 em Barcelona, não entrega só comida — também é um serviço de estafeta para quase tudo, de medicamentos a sapatos, segundo o site. À semelhança do UberEATS, tem uma aplicação em que é possível fazer o pedido com um cartão de crédito associado a uma conta e funciona também do meio-dia à meia-noite. Depois de feito o pedido, é possível seguir o estado da encomenda e ver onde está o estafeta num mapa.

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O restaurante mais perto da redação do Observador era o Cantinho do Aziz e o pedido foi o mesmo para as duas apps: uma chamuça e umas batatas fritas doces (“papas fritas”). Logo aqui, a primeira diferença: a aplicação do UberEATS dava a opção de escolher entre uma chamuça de carne, de vegetais e de frango, enquanto a Glovo dizia que havia as três, mas não deixava optar. Outra diferença: a Glovo chama-lhe “chamussa”, num claro desafio à língua portuguesa. Terceira diferença: o dinheiro. O preço inicial é exatamente o mesmo — 1,50 euros para a chamuça, 3 euros para as papas fritas — mas nas taxas o ponteiro dispara: a Glovo cobra 1 euro adicional pela entrega enquanto o UberEATS vai aos 2,90 euros.

Na imagem da esquerda, o UberEATS; na da direita, a Glovo. O restaurante é o mesmo, mas o UberEATS escreve “chamuça” (certíssimo) e a Glovo “chamussa” (erradíssimo)

São 12h44, temos as duas apps abertas para fazer o pedido. Para fazer as compras tínhamos criado um cartão MB Net, através da aplicação MB Way (um serviço do multibanco que permite criar cartões de crédito temporários para compras online). Pode parecer que não, mas este pormenor será bastante importante. Carregamos em “confirmar compra” na Glovo e no “fazer encomenda” no UberEATS. A da Glovo avança o pedido e diz “Glovo Enviado”, a da Uber dá erro no formato de pagamento. Para não comprometer o teste, mudamos para um cartão normal. Com isto, a Glovo parte com dois minutos de avanço — o pedido do UberEATS é feito às 12h46.

Enquanto no UberEATS é apresentada como hora prevista de entrega as 13h22, na Glovo não é dada nenhuma informação além de um sisudo “O seu Glovo está a ser preparado pelo restaurante”. São 13h01 e uma notificação apita no smartphone: “O Glovo está a ser recolhido”. Vamos ao UberEATS e está a informação “A preparar o seu pedido”, mas a chegada prevista diminui: aparece agora no ecrã 13h21. Às 13h05 toca uma notificação do Uber a dizer que a comida também já foi recolhida. Olhamos para os mapas das apps para ver a localização dos estafetas e nas duas estão os dois no restaurante. Nos dois mapas de rastreio é avisado que o pedido está a ser entregue. Sobe o tempo de espera do UberEATS para as 13h24. Neste momento, basta esperar para ver qual chega primeiro.

O pedido do UberEATS saiu do restaurante antes da entrega da Glovo. São 13h22 e percebemos que o UberEATS está à porta da redação pela app (não houve notificação a dizer que o pedido chegou). Vamos à porta e confirmamos que o estafeta está lá com um saco castanho do UberEATS com o nosso pedido na mão. Ainda perguntámos se se cruzou com outro serviço com o mesmo pedido. Resposta: “O restaurante estava confuso porque havia dois pedidos iguais para aqui, eu peguei no meu e vim-me embora”. O UberEATS, mesmo com dois minutos de atraso, vence esta ronda em termos de tempo. E a comida? A chamuça chegou quente e crocante, já as batatas nem por isso.

UberEATS vs Glovo

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Restaurante escolhido:

  • Cantinho do Aziz

Tempo de entrega:

  • UberEATS – 39 minutos (+ 2 minutos a alterar cartão de crédito)
  • Glovo – 51 minutos (+ 9 minutos pelo erro do pagamento)

Estado da comida:

  • Quente um dos itens, temperatura ambiente o outro

Preço:

  • UberEATS – €7,4 (taxa de serviço de €2,9 incluída)
  • Glovo – €5,5 (taxa de serviço de €1 incluída)

Ainda faltava receber o pedido da Glovo, que, apesar de ter perdido na corrida contra o tempo, estava a ganhar no prémio economia ao ser quase 2 euros mais barata. Vendo que o estafeta ainda estava no restaurante, telefonamos (algo que tem dado sempre erro quando o fazemos no UberEATS): “Boa tarde, era para confirmar que estava tudo bem com o pedido da chamuça”. Resposta: “Está tudo, sim, já recolhi, estou a caminho”. Esperamos e, passado pouco mais de dez minutos, às 13h35, tocam à porta de redação. Era a Glovo com o nosso pedido. Ainda perguntámos o porquê do atraso. A resposta não foi a que esperávamos (um problema no restaurante com o mesmo pedido): “Como estou de bicicleta e é a subir… demorou mais tempo”. Explicámos que tínhamos feito o teste e o estafeta ainda nos disse: “Realmente, a senhora do restaurante disse-me que tinha saído outro pedido igual e que nos deviam estar a testar”.

Recebemos a comida e o funcionário da Glovo diz que há um erro com o pagamento. Pelos vistos, o MBNet que tinha falhado no UberEATS quando fizemos o pedido não funcionava para o pagamento. O estafeta pede-nos para alterarmos o cartão na app para validar o pagamento — mas o cartão que tinha resolvido a situação no UberEATS, já não estava na redação. Perguntamos se podemos pagar de outra forma. Passam-se nove minutos com o estafeta a pedir autorização a um superior para pagarmos com dinheiro. Como era o primeiro pedido na aplicação, deixaram-nos pagar com dinheiro (não foi explicado como se resolveria o problema caso fosse o segundo). Demos cinco euros e meio em moedas e recebemos a comida num saco amarelo da Glovo. No final, qualidade da comida: a chamuça vinha igualmente crocante e quente, as batatas um pouco mais frias do que as da Uber.

UberEATS versus noMENU

Para o segundo round, pusemos o UberEATS contra o já histórico serviço de entrega de comida em Portugal, o noMENU. Criada em 1998, foi das primeiras empresas a permitir aos portugueses pedir comida ao domicílio além de empresas como a Pizza Hut ou a Telepizza. O noMENU, ao contrário do UberEATS, não tem aplicação própria, mas deixa fazer pedidos de uma forma que o serviço do Uber não tem: por chamada telefónica. Outra das vantagens é o modo de pagamento não ser só por cartão de crédito: no ato da entrega, aceita dinheiro ou cartão multibanco. Já o horário é mais limitado: aceita pedidos do meio-dia às 22h30 (o UberEATS vai até à meia-noite).

O restaurante comum aos dois serviços mais perto da redação era o Madpizza do Chiado. O objetivo era fazer um pedido o mais baixo possível (é a tal história de virar a página da austeridade, lembram-se?). No entanto, o noMENU quis obrigar-nos a um pedido mínimo de 10 euros. Escolhemos uma pizza margarita para uma pessoa e um sumo de laranja natural. Aqui, a primeira diferença. Enquanto no UberEATS e no noMENU a pizza tinha um preço igual — 7,95 euros –, o sumo de laranja foi mais caro no noMENU, com um preço de 3,25 euros contra 2 euros no Uber. As taxas de entrega, também diferentes: o UberEATS cobrou 2,90 euros, o noMENU cobrou 3,90 euros.

À esquerda, o pedido no UberEATS e o preço discriminado de cada um. À direita, o pedido no noMENU e o preço descriminado. O mesmo sumo de laranja natural, do mesmo tamanho, foi 1,25 euros mais caro no noMENU

São 13h30 exatas quando fazemos o pedido nos dois serviços. No UberEATS, surge a indicação de que o pedido está a ser preparado e a indicação de que vai ser entregue às 14h04. No caso do noMENU, recebemos dois emails: um a dizer que receberam a encomenda (logo às 13h30) e o outro, passado três minutos, a dizer “Encomenda confirmada horário de entrega previsto até às 14:00:00”. No último email é indicado uma hiperligação para o estado da encomenda, mas ao clicar apenas aparece a informação de “pedido pendente”, tendo também as informações do pedido, morada escolhida de entrega e método de pagamento.

Entre os dois emails recebemos uma chamada, às 13h32, do noMENU. “Boa tarde, era para informar que recebemos o pedido em duplicado, não estranhe se receber um e-mail a dizer que o pedido foi cancelado”. Perguntámos se tinha sido erro nosso, mas informaram-nos que não, que por vezes acontece e para não nos preocuparmos porque o pedido ia chegar a tempo. Efetivamente, às 13h37 recebemos um email a dizer que “houve uma alteração do estado da sua encomenda”, com o estado de “cancelado” e o comentário de “pedido duplicado”.

UberEATS vs noMENU

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Restaurante escolhido:

  • Madpizza Chiado

Tempo de entrega:

  • UberEATS – 41 minutos
  • noMENU – 1h05

Estado da comida:

  • Morna

Preço:

  • UberEATS – €12,85 (taxa de serviço de €2,9 incluída)
  • noMENU – €15,09 (taxa de serviço de €3,90 incluída)

À espera dos dois pedidos, íamos recebendo notificações do UberEATS sobre o estado do pedido. Por exemplo: 13h51, “a comida foi recolhida”. No noMENU, não havia mais informação. 13h59: “O pedido vai demorar seis minutos” avisa a Uber. Reparamos que a mota no mapa do UberEATS está na rotunda do Marquês de Pombal (que é completamente fora de caminho entre o Madpizza Chiado e o Bairro Alto, onde fica a redação do Observador). São 14h10 e temos a confirmação através da app de que o pedido do UberEATS está a chegar. Passado um minuto, está à porta da redação. A pizza veio um pouco fria, já quanto ao sumo de laranja natural, nada a apontar (um jornalista da redação, habituado a ser picuínhas, comentou que “Vem com um caroço”, mas isso, convenhamos, é apenas um sinal de que era realmente natural).

São 14h18 e telefonamos para o noMENU para saber o estado do pedido. É dito que “está agora a ser recolhido e a ir para aí”. Continuamos a esperar e às 14h34 tocam à porta da redação. É o noMENU. Fazemos o pagamento com cartão multibanco (no UberEATS continuámos a usar o cartão de crédito que tinha ficado registado na primeira encomenda) e recebemos os pedido. Aqui, o noMENU tem a sua única vitória: a pizza vinha um pouco mais quente (mas não muito). Já o sumo, era igualmente bom.

UberEATS versus SendEAT

O SendEAT começou no Porto em 2016 com outro nome, Fobado. Atualmente funciona em Lisboa, no Porto e em Matosinhos, mas a ida para a capital é recente — aconteceu apenas em setembro deste ano. Não tem app própria, sendo apenas possível fazer os pedidos pelo site. Os pagamentos podem ser por multibanco, mas não aceitam dinheiro. O horário? É o mais reduzido de todos os serviços: funciona todos os dias, mas só das 11h30 às 14h30 e das 19h30 às 22h30.

Por causa do horário de funcionamento do SendEAT, encontrámos mais um problema no nosso teste (estas coisas não são fáceis). Tendo deixado para o fim esta ronda, só fomos tratar do pedido após receber a comida do noMENU. Como já passava das 14h30, não deu. A solução foi experimentar uma das opções comuns a ambos os serviços, o de agendar uma entrega. No SendEAT, agendámos para o período mais cedo que estava disponível, 19h55 (o SendEAT gaba-se de conseguir fazer as entregas em 25 minutos). No UberEATS, só foi possível agendar para o período entre as 19h45 e as 20h15 (o serviço não faz marcação para uma hora certa, só entre períodos de 30 em 30 minutos).

Na imagem da esquerda, o pedido na aplicação do UberEATS após o agendamento. Na imagem da direita, a confirmação do SendEAT que apareceu no browser

O restaurante escolhido foi o 100 Montaditos, do Princípe Real, e o pedido foi simples: um “grelhador” (um mini pão com chouriço grelhado). O preço da comida foi igual tanto no UberEATS como no SendEat, 2 euros. A diferença foi nas “taxas e taxinhas” para a comida chegar até à redação: no uberEATS, €2,9; no SendEAT, 2,95 euros, a que ainda acrescem 1,50 euros por o pedido ser inferior a 15 euros (no site aparece um aviso nestas situações em que se pode adicionar mais comida até 15 euros ou pagar a taxa adicional).

Mesmo sendo um pedido com agendamento, foi feito à mesma hora: 17h23. No SendEAT, apenas ficámos com a confirmação da imagem do site de que a encomenda seria entregue às 19h54 (até disseram que seria um minuto mais cedo) — não recebemos emails, só essa página. No UberEATS, ficou na secção de próximos pedidos da app.

UberEATS vs SendEAT

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Restaurante escolhido:

  • 100 Montaditos (Príncipe Real)

Tempo de entrega:

Por agendamento (17H23)

  • UberEATS – para entre as 19h45 e 20h15
  • SendEAT – 19h55

Hora de chegada de ambos: 20h02

Estado da comida:

  • Quente

Preço:

  • UberEATS – €4,9 (taxa de €2,9 incluída)
  • SendEAT – €6,45 (taxa de €2,95, mais acréscimo de 1,5€ por pedido inferior a €15, incluídos)

Às 19h13, recebemos um email do SendEAT a dizer que a encomenda estava confirmada, com o descritivo da encomenda e um localizador para acompanharmos o pedido no browser. Só às 19h44 é que tivemos notícias do UberEATS. Numa notificação, informou que o pedido estava atribuído ao restaurante e que podíamos acompanhar a encomenda na aplicação.

Aproximando-se as 19h55, nada. Tanto no site do SendEAT como na app do Uber, vemos que os pedidos estão em trânsito. Entretanto, outro problema. A porta do edifício do Observador tinha fechado e era preciso descer. Vendo que a pessoa que está mais perto é o estafeta do Uber, telefonamos pela app para avisar. Toca, toca e ninguém atende (sempre que tentámos ligar aos estafetas pelo UberEATS não tem funcionado). Já a descer para encontrarmos o estafeta na porta, telefona às 20h00 certas o estafeta do sendEAT. “Estou na rua, mas não encontro o 67”, diz. Explicamos em que zona da rua é o edifício do Observador e vamos ter à porta da frente para podermos receber a encomenda. O confronto final do dia acaba com uma coincidência: os dois chegam à nossa frente ao mesmo tempo, um a pé e o outro de mota. São 20h02.

Explicámos que estávamos a fazer um teste e, prontamente, o estafeta do UberEATS tenta entregar o saco, ainda na mota. Como entretanto já estava o estafeta do SendEAT com a máquina de cartões na mão, começámos a pagar. No meio da operação, o estafeta da Uber aproveita para nos dar o saco castanho com a comida (o pedido é pago automaticamente pela app, basta entregar). Com a máquina ainda a aceitar o pagamento, o estafeta do SendEAT também nos dá a comida. Onde vinha? Também num saco castanho do UberEATS. Explicação do estafeta: “Agora dão-nos nisto”. Foi um empate no tempo. E a qualidade? Como seria de esperar, os “grelhadores” estavam exatamente iguais. Quentes e sem nada apontar (ter sido um pedido por agendamento pode ter ajudado).

Veredicto final

O UberEATS pode ter mais de 90 restaurantes e uma aplicação rápida e intuitiva, mas não entrega ainda em toda a cidade de Lisboa nem no resto do país. O Glovo está na mesma situação e tem menos restaurantes, mas ganha pontos por permitir mais opções de entrega que não comida e na taxa mais reduzida pelo serviço (em termos de preço foi imbatível). O noMENU é o mais prático no pagamento para quem não anda com cartões de crédito e para quem gosta de fazer as coisas à moda antiga, tendo até o serviço por telefone, mas o site é pouco intuitivo, foi mais caro e o tempo de espera não ajudou. O SendEAT, está também no Porto e abrange uma maior área na cidade de Lisboa, sendo que foi o único que nos enviou uma fatura PDF por e-mail após o pedido — mas não ter app e o horário reduzido são um problema. Resumindo de forma muito curta um artigo longo: não há um vencedor claro.