A cozinha tem vivido um período de entusiasmo sem precedentes. Em todo o lado, livros de receitas, blogs e programas de televisão têm transformado simples comensais em chefs domésticos que já nem uma torrada comem sem um empratamento feito com espátula e pinça. Contudo, muita gente continua sem ter grande paciência ou tempo para se aventurar entre os tachos: é para essas pessoas que existem serviços de entrega de comida ao domicílio como o novo Sendeat, que, depois de se instalar no Porto, acaba de chegar a Lisboa.

Imagine que chega a casa tarde, depois de um dia de trabalho. A fome aperta mas a vontade de cozinhar nem por isso. “Quais são as suas opções?”, pergunta José Luís Gramaxo, criador desta nova plataforma. Encomendar pizzas ou sushi poderiam ser respostas naturais, “mas com a Sendeat há muito mais opções”.

José Luís Gramaxo é o jovem de 26 anos por trás da Sendeat. © Divulgação

Numa sala de reuniões perto do Saldanha, em Lisboa, o criador deste novo projeto conversa com o Observador: “Somos uma espécie de Uber da comida”, explica. Depois de ter trabalhado “lá fora [em Madrid, entenda-se]” durante uns tempos, o jovem gestor de 26 anos ganhou o hábito de encomendar comida através de plataformas como a UberEats ou a Deliveroo — “chegava a casa muito tarde e nunca me apetecia cozinhar. Isto dava muito jeito”, conta.

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Quando voltou a Portugal, a falta de opções nesta área juntou-se à vontade de ter o seu próprio negócio: decidiu arriscar. Despediu-se e apostou tudo na criação de uma plataforma “mais moderna e abrangente”. Mas já não existiam ideias deste género no País? “Sim”, responde José. “Projetos como o noMenu foram os pioneiros, mas não evoluíram tecnologicamente”, acrescentou. O que tem o Sendeat de diferente, então? “Vamos encomendar o almoço e já vai perceber”, rematou.

O melhor do seu bairro, à mesa

A grande promessa do Sendeat é esta: qualquer refeição que encomende vai chegar-lhe às mãos em 30 minutos ou menos.

Com a homepage do seu site aberta, José Luís começa a explicar: “Primeiro o utilizador tem de inserir a morada do sítio onde está”, diz. Este passo, que normalmente só seria feito no fim de escolher o que queria, tem uma razão de ser (e é um dos segredos da rapidez): “Trabalhamos com um algoritmo que determina, consoante o sítio onde o cliente se encontra, os restaurantes nossos parceiros mais próximos”. Ou seja, a “máquina” vai mostrar-lhe os espaços que ficam perto o suficiente para garantir os tais 30 minutos de espera. Outra característica que também ajuda a manter a rapidez (e a qualidade da comida) é o facto de cada estafeta só realizar uma entrega de cada vez, sem nunca demorar “mais de 9 minutos” entre o restaurante e o destino da entrega.

Ultrapassada esta etapa, chegou a altura de olhar para a “ementa”. Em menos de nada, no ecrã surgem cerca de 30 espaços (no total, em Lisboa, têm 50 restaurantes aderentes), especializados em coisas tão distintas como sushi, comida saudável, indiana e até gastronomia típica portuguesa: o eleito foi o Hottie, que se dedica à gastronomia norte-americana. Antes de ser possível ver os pratos à disposição, José fez uma pausa para explicar que estes são sempre propostos pelo restaurante, “sem qualquer condicionante ou custo inicial”.

Em menos de nada o pedido foi feito, preencheram-se os dados de faturação (só é aceite multibanco) e surgiu à nossa frente um mapa da cidade. “Esta é outra grande diferença em relação à concorrência”, diz o empresário. “O cliente pode acompanhar todas as fases do seu pedido, controlando-o através deste mapa”. Faltava só ver se a promessa dos 30 minutos era mesmo real. Vinte e cinco minutos depois das 12h55, um jovem batia à porta da sala: “Pronto, está aí o nosso almoço”, disse, sorridente, José Luís.

Aposta no futuro

Entre garfadas, a conversa foi continuando. José Luís Gramaxo foi dizendo que um projeto destes parece simples de fazer, mas a realidade é bem mais complexa. “A parte humana é sempre imprevisível” e neste negócio ela tem um peso determinante. Há situações impossíveis de controlar como acidentes que barram estradas, demoras na cozinha ou até algo tão simples como a eventualidade de o estafeta se perder: “Eles têm todos sistemas de GPS, mas há sempre imprevistos”.

Apesar disso, a evolução do Sendeat tem comprovado que os imprevistos são exceção e não regra. Em pouco mais de dois dias de atividade em Lisboa (começaram segunda, 18 de setembro) já contavam com 26 encomendas feitas, por exemplo. Se isso não impressionar basta saber que entre Lisboa e Porto, a Sendeat já tem um total de 100 estafetas ao seu serviço e os pedidos têm aumentado a um ritmo de 10% por semana. Fatores deste género reforçam a confiança de Gramaxo ao dizer que querem “ter 500 restaurantes aderentes até ao final do ano” e que “o sonho da internacionalização” ainda se mantém.