São dois episódios em tudo diferentes mas que traziam consigo um risco semelhante: a vacina importada de Ana Gomes e a demora de Marcelo em avançar com a recandidatura a Belém ameaçavam contaminar as campanhas daqueles que são, até ao momento — e apesar da enorme distância que os separa nas sondagens —, os mais bem posicionados candidatos à Presidência da República, nas eleições de 24 de janeiro. Na sondagem Observador/TVI/Pitagórica, os inquiridos revelam opiniões contrastantes, censurando a atitude da ex-eurodeputada e elogiando a gestão de Marcelo.

Um caso de cada vez. Primeiro, Ana Gomes. Um tweet, no início de dezembro, acabaria por tornar-se num dos episódios mais marcantes da pré-campanha da antiga embaixadora. “Farta de esperar” para ser chamada para tomar a vacina da gripe, escrevia Ana Gomes, decidiu tomar uma dose que lhe tinha sido “trazida por uma amiga de França”. O post, que denunciava as reservas de grandes quantidades de vacinas por parte de “certas empresas”, ainda desafiava as autoridades de Saúde: “Como é q é, @DGSaude?”

Os seguidores não deixaram passar o episódio em branco. “Ilegal”, “cunha”, “retire-se da campanha”, “belo esquema”. Houve comentários nas mais diversas formulações, quase todos a censurar a decisão de Ana Gomes de contornar a escassez de doses da vacina contra a gripe sazonal.

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Na sondagem do Observador/TVI/Pitagórica, 46% dos inquiridos consideram que a ex-eurodeputada socialista merece ser “censurada” pelo episódio. Outros 28% dizem que o caso não justifica qualquer censura ou elogio. E, por fim, há um grupo que sai em defesa de Ana Gomes. São 20%, um quinto dos inquiridos, aqueles que saem em defesa da socialista.

Ana Gomes tomou vacina da gripe que amiga lhe trouxe de França. Ato é proibido pelo Infarmed

Numa análise por partido (quem diz que votou em determinada força política nas legislativas de 2019), é o eleitorado do CDS quem mais sai em defesa do elogio à socialista. As mulheres, os inquiridos com mais de 54 anos e de um estrato social mais desfavorecido também reforçam essa barreira (minoritária) contra as críticas.

Pelo contrário, os homens que responderam ao inquérito penalizam mais a atitude, assim como o grupo de inquiridos entre os 35 e os 44 anos. Na estratificação social, são as classes mais altas quem mais se evidencia nessa crítica.

Marcelo demorou demasiado a recandidatar-se?

Outro caso, outro desfecho. Foi a 7 de dezembro que Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que seria recandidato à Presidência da República. “Porque não vou sair a meio de uma caminhada exigente e penosa, nem vou fugir às minhas responsabilidades, não vou trocar o que todos sabemos irem ser as adversidade e impopularidades de amanhã pelo comodismo pessoal e familiar de hoje. Porque tal como há cinco anos cumpro um dever de consciência.” Foi assim que se justificou, naquele espaço improvisado que escolheu para o anúncio, numa pastelaria de Belém.

Recandidatura de Marcelo. País precisa de “um Presidente independente, que não instabilize”

Nesse momento, já todos os seus adversários estavam no terreno, não só a recolher assinaturas para formalizar as respetivas candidaturas mas, também, em encontros, debates, algumas entrevistas, enfim, numa espécie de pré-campanha muito antecipada. Marcelo continuou, durante toda essa fase, a ser o Presidente. Ou seja, beneficiou desse palco que estava à disposição de nenhum outro candidato e escudou-se nessas funções para não entrar em despique com os futuros adversários.

Com todo este contexto em mente, como é que os inquiridos avaliam esta “demora” na decisão de Marcelo em dar o passo em frente?

Bastante ancorado no seu eleitorado — o eleitorado social-democrata —, o Presidente da República vê a gestão que fez do anúncio da recandidatura ser “elogiado” por 39% dos inquiridos. São, sobretudo, as mulheres, os participantes com mais de 54 anos, residentes no sul do país e de uma classe social média baixa aqueles que, além dos votantes no PSD, mais contribuem para esta avaliação.

Do outro lado estão 22% dos inquiridos que censuram abertamente a gestão deste processo por parte de Marcelo Rebelo de Sousa. E aí estão os eleitores do sexo masculino, mais jovens (18-34 anos), classes sociais mais elevadas e residentes na zona do Porto.

Há outro grupo com peso relevante, mas que opta por uma posição neutra: 34% não censuram nem elogiam o Presidente da República.

Ficha técnica

Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vão ser publicadas pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.

Semana 1 Publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 13 de Dezembro. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).

O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições, nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos. A taxa de resposta foi de 55,32% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.

A taxa de abstenção na sondagem é de 56,6% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.

A Ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará oportunamente para consulta online.