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Thomas Koehler/photothek.net

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Steinmeier, MNE da Alemanha: "Sabemos que o caminho tem sido difícil"

Em entrevista, o MNE alemão diz que Portugal "é um exemplo para a Europa", admite que só a negociação deu à UE "grandes avanços" na resolução da crise. E vê com ceticismo o conflito Rússia-Ucrânia.

O resolução do conflito na Ucrânia está longe de chegar ao fim e o processo continua a sofrer reveses, admite o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, em entrevista ao Observador. Em Lisboa para participar no III Fórum Portugal-Alemanha, diz que Portugal é um exemplo para a Europa, que o Governo alemão sabe que tem de negociar e fazer compromissos no que à Grécia diz respeito e que quer o Reino Unido como parceiro empenhado na União Europeia.

Social-democrata, começou em 1991 a trabalhar para o governo regional da Baixa Saxónia e desde aí fez toda a sua carreira na política. Foi conselheiro do chanceler Gerhard Schröder entre 1999 e 2005, altura em que ficou encarregue dos serviços secretos alemães e apoiou a decisão de Schröder de fazer uma aliança com a França e a Rússia contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos.

Entre 2005 e 2009 teve o seu primeiro mandato como ministro dos Negócios Estrangeiros, e entre 2007 e 2009 foi também vice-chanceler. Em 2009 defendeu a retirada das tropas do Afeganistão até 2013 e era favorável à entrada da Turquia na União Europeia, uma visão não partilhada por Angela Merkel, que o nomeou para o cargo.

Entre 2009 e 2013 liderou o grupo parlamentar do SPD, até que em 2013 foi novamente nomeado por Angela Merkel como o líder da diplomacia alemã da Grande Coligação.

Frank-Walter Steinmeier mantém que a via da diplomacia tem de continuar aberta com a Rússia no conflito com a Ucrânia, mas também que a Europa tem de manter uma posição forte. Sobre os mais recentes problemas em relação à troca de informações entre os serviços secretos alemães (o BND) e a agência de segurança norte-americana (NSA), diz que os serviços secretos têm de cumprir a lei, mas garante que a parceria com os EUA não está em causa.

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"Nós, alemães, sabemos muito bem quão difícil tem sido o caminho dos portugueses ao longo dos últimos anos. E temos o maior respeito pelos esforços que o país tem realizado no âmbito das reformas. É um exemplo para a Europa. Agora, o importante é consolidar esse sucesso e, ao mesmo tempo, manter o equilíbrio social"

Este Fórum foi lançado com o objetivo de estreitar as relações entre Alemanha e Portugal. Que resultados acha que tem conseguido, considerando especialmente a visão de uma Alemanha dominadora em países sobre bailout como Portugal?

O grande número de crises e de guerras que existem no mundo tornam a vida de um ministro dos Negócios Estrangeiros bastante agitada. Ter a oportunidade de visitar Lisboa durante dois dias para realizar conversas aprofundadas com o meu estimado colega Rui Machete, mas também com os chefes do Estado, do Governo e da oposição e isso é, para mim, expressão do mútuo respeito que nutrimos uns pelos outros. É importante que as nossas relações correspondam a uma parceria de igual para igual, com o compromisso de criar uma Europa forte e solidária.

Nós, alemães, sabemos muito bem quão difícil tem sido o caminho dos portugueses ao longo dos últimos anos. E temos o maior respeito pelos esforços que o país tem realizado no âmbito das reformas. É um exemplo para a Europa. Agora, o importante é consolidar esse sucesso e, ao mesmo tempo, manter o equilíbrio social. Também aqui, a Alemanha quer ser um parceiro. O Fórum Portugal-Alemanha, que este ano entrará na sua terceira edição, oferece a oportunidade para que, de futuro, possamos aproveitar ainda melhor a base sólida das nossas relações.

A Grécia tem sido o caso mais evidente de tensão entre povos com a Alemanha. Depois de uma muito pública intransigência de Wolfgang Schäuble, se o acordo só acontecer nos moldes que o Eurogrupo impõe, como é que a Alemanha recupera a sua relação já castigada com estes países do sul?

Ao longo dos últimos anos conseguimos dar um grande avanço na superação da crise financeira e económica europeia, conforme sublinham as atuais previsões da Comissão Europeia. O nível de dívida está a diminuir e o crescimento a aumentar. Todos ganhamos com isso. Na Europa, apenas em conjunto e em constante diálogo foi possível darmos os passos decisivos para a estabilização. Não teria certamente sido possível introduzir mecanismos como a união bancária ou a supervisão comum dos orçamentos nacionais se tivesse havido uma situação de confronto. A introdução dos mecanismos foi subscrita por todos os Estados-membros.

Qualquer membro do Governo Federal está perfeitamente ciente de que é a disponibilidade para negociar e para chegar a compromissos que faz com que a Europa avance. Estou convicto de que o combustível do motor europeu é composto, em grande medida, por solidariedade e pelo cumprimento de compromissos.

Sobre o conflito Rússia-Ucrânia: "Nem para o conflito da Ucrânia, nem para as relações com a Rússia existem respostas fáceis. Reagimos com firmeza à atitude da Rússia no Leste da Ucrânia. (...) Estamos longe de chegar ao fim e infelizmente continuamos a sofrer reveses. Mas não podemos desistir, é isso que devemos às pessoas na Ucrânia que querem viver em paz."

A Europa enfrenta nesta altura grandes desafios com os seus países vizinhos. Com o conflito Rússia/Ucrânia longe de ter fim, o que pode a Europa fazer se a Rússia continuar a desrespeitar Minsk II, sem parecer fraca?

Nem para o conflito da Ucrânia, nem para as relações com a Rússia existem respostas fáceis. Reagimos com firmeza à atitude da Rússia no Leste da Ucrânia. No contexto europeu, aumentámos a pressão política e económica sobre a Rússia, que iremos manter enquanto Moscovo não regressar ao caminho da resolução pacífica dos conflitos de acordo com os critérios estabelecidos no acordo de Minsk.

Ao mesmo tempo, não podemos permitir que os canais de diálogo com Moscovo se encerrem. Na Europa e nos EUA existe um grande consenso de que os acordos de Minsk devem continuar a servir de linha de orientação aos nossos esforços. O pacote de medidas adotado em fevereiro é precisamente um roteiro para a redução gradual da tensão no conflito da Ucrânia, algo que a Rússia também se comprometeu a respeitar. Estamos longe de chegar ao fim e infelizmente continuamos a sofrer reveses. Mas não podemos desistir, é isso que devemos às pessoas na Ucrânia que querem viver em paz.

A Europa apresentou novas medidas para conter a crise de imigração no Mediterrâneo, mas tem sido muito criticada por aumentar o financiamento do programa Tritão para níveis ainda muito inferiores ao programa que Itália tinha, e por apresentar um plano de ataques aos traficantes na Líbia. Como é que a UE espera efetuar estes ataques sem ter um exército e para quando uma solução abrangente?

Sem uma abordagem abrangente, que vá à raiz do problema da pressão migratória, não será possível resolver a crise dos refugiados. Uma política europeia ampla em matéria de refugiados já começa a ganhar forma: desde abril que os países europeus reforçaram de forma substancial as ações de salvamento no mar Mediterrâneo, também a Alemanha está a contribuir com dois navios. Salvar vidas deve continuar a ser a nossa prioridade absoluta. Ao mesmo tempo, não podemos deixar que os grupos de traficantes continuem a agir como têm feito até aqui.

Por este motivo, apoiamos a estratégia que, através de uma missão no âmbito da Política Comum de Segurança e Defesa, visa incomodar seriamente o modelo de negócio desses criminosos. É claro que isso só funciona se forem devidamente esclarecidas as questões jurídicas e práticas que ainda permanecem em aberto. Mas a Alemanha, que já acolhe muitas pessoas em busca de asilo, também defende que todos os Estados-membros da UE devem participar de forma justa e solidária no esforço de acolhimento de refugiados na UE. Contudo, o maior desafio continua a ser o de, através da redução da tensão provocada pelas crises e pelas guerras na nossa vizinhança e através de uma cooperação eficaz em matéria de ajuda ao desenvolvimento, reduzir as verdadeiras causas que levam pessoas a arriscar a sua vida para chegar à Europa.

Sobre o Reino Unido: "O que desejamos é que os britânicos continuem a fazer parte do centro de tomada de decisões sobre rumo europeu, e não limitar-se a assistir da bancada".

No extremo oposto, depois de um resultado eleitoral muito positivo, David Cameron sinalizou a intenção de avançar com um referendo sobre a relação do Reino Unido com a UE. Como é que encara a hipótese de saída de um dos mais importantes membros da UE e como acha que isto pode afetar a coesão da própria União? Estaria a Alemanha disposta a fazer concessões ao Reino Unido para manter o país na União, ou esta é uma questão de ‘in or out’?

O que desejamos é que o Reino Unido continue a ser um parceiro empenhado numa União Europeia de sucesso. Os nossos amigos britânicos têm contribuído em muito para o sucesso do projeto europeu de paz e de bem-estar. Com o grande dinamismo económico e o pragmatismo político que os carateriza, devem continuar a fazer parte do centro de tomada de decisões sobre rumo europeu, e não limitar-se a assistir da bancada. Para nós alemães é claro que, face à globalização, o cerrar de fileiras europeu é o caminho certo para os países da Europa que, em comparação com os grandes centros de poder que existem no mundo, são todos de facto bastante pequenos. Temos, portanto, um profundo interesse em tornar a Europa melhor, mais eficaz e mais democrática. Não nos fechamos a propostas que visam esse objetivo.

Na Alemanha têm surgido críticas em relação à cooperação entre o BND e a NSA. Como reage o Governo alemão a essas críticas? A controvérsia prejudica as relações com os EUA na luta contra o terrorismo?

O debate atual diz respeito a uma questão importante que se coloca não apenas na Alemanha: como garantir a segurança dos nossos cidadãos, por exemplo na luta contra os terroristas, e, ao mesmo tempo, proteger da melhor forma a privacidade das pessoas. Para nós, uma questão central é que os serviços de informação devem respeitar a lei. Por isso, o Governo Federal está a envidar todos os esforços para que as questões que têm surgido em relação à cooperação entre serviços secretos sejam esclarecidas. Não está em causa a amizade entre os Estados Unidos da América e a Alemanha. A parceria transatlântica é um dos pilares da política externa alemã – não por uma questão de hábito, mas porque partilhamos com os EUA convicções, valores e interesses.

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