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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Um mercado, três comícios e dois barões. A corrida louca de Montenegro em dia de Costa

Arrancou embalado por Cavaco, mergulhou num mercado, teve apoio de Moreira e Menezes, teve três comícios e fez três discursos. Pelo meio, ainda cantou Rui Veloso e Tony Carreira num autocarro de jotas

Luís Montenegro ainda mal tinha acabado de engolir a carne de porco à alentejana que lhe puseram no prato quando recebeu sinal para que deixasse a mesa de honra da tenda gigante improvisada na Trofa para zarpar rumo a Braga, onde o esperavam outras duas mil pessoas – tem sido sempre assim, militantes, simpatizantes, curiosos aos magotes. O líder social-democrata acabara de discursar, estava ainda a dar as primeiras garfadas na comida, mas não havia tempo para mais. Faltam 20 minutos para as quatro da tarde, entre a Trofa e Braga demoram-se outros tantos a andar bem e a caravana tem de acelerar.

No dia em que António Costa se juntou à campanha de Pedro Nuno Santos, facto que a equipa da Aliança Democrática não conseguiu antecipar, Montenegro teve um dia de loucos: acordou com um artigo de opinião de Cavaco  Silva, arrancou num mercado em Amarante, discursou na Trofa, onde teve a companhia de Rui Moreira, discursou em Braga, onde teve como convidado de honra Luís Filipe Menezes, e discursou em Famalicão, onde se rodeou de jovens, o segmento eleitoral onde o PS é menos competente e onde a IL e, sobretudo, o Chega têm uma base de simpatizantes muito relevante. Pelo meio, meteu-se no autocarro da jota da AD que acompanha o líder e ainda cantou Rui Veloso e Tony Carreira.

Sempre assim, em passo de corrida, com objetivo assumido de chegar a muita gente (mais de 2 mil na Trofa, mais de 1800 em Braga, largas centenas em Famalicão), fazer uma grande demonstração de força e compor o boneco para as televisões – além da feira de Amarante, a primeira vez nesta semana de campanha, com muito barulho e muita chuva, a equipa de Montenegro permitiu aos repórteres de imagem que acompanhassem o líder social-democrata durante a viagem entre Braga e Famalicão, numa rara demonstração de abertura de uma campanha que tem sido muito controlada (este sábado não houve sequer espaço para declarações à imprensa).

No essencial, este sábado, com direito a discursos de duas figuras de referência da direita, Rui Moreira e Luís Filipe Menezes, reforçou outra tendência na campanha da Aliança Democrática: um apelo claro ao voto dos mais indecisos, sobretudo aqueles que estão inclinados a votar no Chega (nunca nomeado) como forma de protesto. Houve o primeiro ataque (indireto e não pela voz de Montenegro) à Iniciativa Liberal e mais uma frase que pode virar a criar algum embaraço a Montenegro.

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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O sonho de Moreira, o calhambeque de Menezes e nova polémica

Rui Moreira foi o primeiro a fazê-lo, na qualidade de convidado de honra do almoço-comício na Trofa, tendo fazer ver aos mais distraídos as características pessoais e políticas do líder social-demiocrata. “Ao contrário do que algumas pessoas diziam, Luís Montenegro é um homem de convicções, com uma personalidade forte e de grande carácter, com todas as condições para presidir ao governo de Portugal. Quero um Portugal melhor e acredito que podemos ter um Portugal melhor”, começou por dizer, antes de explicar o porquê de estar ali.

“A independência não é neutralidade. Fiz a minha escolha. Não nos proíbam de sonhar. Não nos tentem meter medo. Não temos medo e o país não vai votar por medo. Vou votar AD e espero que votem AD”, foi pedindo o autarca do Porto. Curiosamente, no mesmo dia em que Rui Moreira manifestou o apoio a Luís Montenegro, também Luís Filipe Menezes, velho rival de Moreira (foram adversários nas autárquicas do Porto, em 2013), a juntar-se à caravana.

Se ao dia de hoje Moreira e Montenegro são assumidamente próximos, nesse longínquo ano de 2013, Montenegro foi um dos homens mais importantes da campanha mal-sucedida de Luís Filipe Menezes à sucessão de Rui Rio – que, como é sabido, patrocinou a campanha de Rui Moreira por discordar pública e frontalmente da aposta do PSD em Menezes. Já agora, o mesmo Luís Filipe Menezes de quem Luís Montenegro se tinha tornado apoiante (e diretor de campanha interna) depois de puxar o tapete ao então líder do PSD Luís Marques Mendes, hoje uma das figuras políticas mais próximas de Montenegro. O PSD na sua tômbola.

Voltando a Braga. Num discurso essencialmente focado em Pedro Nuno Santos, antigo presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, que se tinha queixado publicamente de não ser convidado para eventos da Aliança Democrática, começou por acusar o líder do PS e principal adversário de Montenegro de viver focado na campanha da AD.  “Sempre que aparece um ex-líder do nosso partido lá vem ele criticar. O Doutor Nuno Santos veio comparar-se ao Professor Cavaco Silva? Sei que o líder do PS adora automóveis de luxo – agora parece que os esconde – mas o comparar o doutor Nuno Santos com o professor Cavaco Silva é comparar um Ferrari com um calhambeque encostado numa garagem. Não se compare”, atirou o antigo presidente do PSD.

Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador na campanha da AD entre Porto e Braga

Rui Moreira e Menezes. Vozes do norte apoiam AD

De resto – e essa foi uma nota igualmente deixada por Nuno Melo e Hugo Soares, secretário-geral do PSD –, Menezes tentou aproveitar a presença de António Costa na campanha de Pedro Nuno Santos para provar que os socialistas entraram em modo “desespero total”. “O Doutor Nuno Santos já não sabe a quantas anda. É o desespero total, uma tentativa desesperada de branquear o falhanço do atual líder do PS.”

O discurso (aparentemente improvisado, uma vez que Menezes rasgou os cartões que trazia para ler) entrou depois num ataque dirigido diretamente ao currículo de Pedro Nuno como ministro e, antes disso, como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e pivô da ‘geringonça’. Nesta fase, aliás, Menezes deixou uma frase que já mereceu críticas dos partidos à esquerda do PS, ao dizer que Pedro Nuno “só tinha olhos para as meninas do Bloco de Esquerda”. O potencial para criar polémicas parece não largar a AD.

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O Chega que não é direita e o primeiro beliscão à IL

Depois de Braga, Luís Montenegro meteu-se no autocarro da juventude da AD e rumou até Famalicão. Animados, os jotas começaram a puxar pelo líder, que foi acompanhando os gritos de apoio com que costuma ser brindado. Perguntaram-lhe pelos dotes culinários, claro, e Montenegro lá explicou que aprendeu o gosto pela cozinha com o pai e que o transmitiu à mulher, repetindo a tradição familiar – também foi o pai, Henrique Luís, que ensinou a mãe, Maria Virgínia, a cozinhar.

Montenegro não resistiria também ao desafio de cantar (a solo e de olhos fechados) “A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)”, de Rui Veloso, quis o público que fosse mais conhecida como “Anel de Rubi”, e os “Sonhos de Menino” de António Manuel Mateus Antunes, Tony Carreira para o grande público. Garantem as testemunhas que não deslumbrou, mas também não envergonhou.

No Mercado de Famalicão, com um palco ao meio e cadeiras dispostas à volta dele, a equipa de Montenegro parecia prometer um encontro com jovens em forma de Ted Talk. Não foi bem assim. Na verdade, o que aconteceu foi mais um comício (o terceiro do dia) mas desta vez sem direito a palanque e com um microfone mais moderno. Valeram as nuances introduzidas no discurso: pela primeira vez nesta campanha, houve um piscar de olho ao eleitorado da Iniciativa Liberal.

Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador na ação de campanha da AD no mercado de Famalicão

AD tenta caçar jovens da IL e travar “fugas”

Falando para para os jovens que ponderam votar nos liberais, Alexandre Poço, líder da JSD, tentou explicar que “muitas das boas ideias que até atraem os jovens para a Iniciativa Liberal” só verão “a luz do dia” se “a Aliança Democrática ganhar”. “Não é voto útil. É o voto inteligente”, sublinhou o social-democrata.

Ora, Nuno Melo faria o discurso para os eleitores do outro partido que, à direita, ameaça a AD — o Chega. Voltando a um tema que tinha marcado as suas primeiras intervenções enquanto parceiro júnior da coligação, o líder do CDS apelou ao voto daqueles que, sendo mais jovens, podem estar tentados em votar em partidos dos extremos. “Muitos jovens optam hoje pelos extremismos. Não se permitam em transformar a revolta que é legítimo e em protesto que não resolve coisa nenhuma”, disse, tentando depois provar que o Chega não é de direita e está muito mais próximo do PS e do Bloco de Esquerda.

“Um partido que é mais taxas, mais impostos, mais Estado, que quer a TAP nacionalizada, um partido que quer de repente o Estado a ser fiador dos privados, que quer o PRR transformado em subsídio e quer as forças de segurança a fazer greve, um partido assim não é de direita; a direita somos nós, lúcida e que pensa no vosso futuro”, rematou o democrata-cristão. É a segunda vez que Melo faz marcação homem a homem a André Ventura nesta campanha.

Montenegro, que começou o dia a responder àqueles que dizem que a Aliança Democrática está dependente das figuras do passado (“vão continuar a vir porque estão ao nosso lado, porque nós estamos juntos; não se cansem já a mandar piropos“), que procurou centrar a mensagem política na relação entre impostos, rendimentos e trabalho (“aquilo que queremos dizer aos cidadãos com a política fiscal é que vale a pena trabalhar e trabalhar bem”), acabou o dia a renovar o apelo ao voto dos desiludidos e descrentes, sobretudo os mais jovens.

“Sentimos que há uma grande força de mudança. Mas também sentimos em muitos eleitores que estão desgastados, desiludidos e frustrados. Eu compreendo. É apelativo utilizar o voto para dar nota dessa desilusão. Mas eleições devem ser aproveitadas para exprimir uma opção de solução. A dispersão do voto vai favorecer o PS. O único voto que muda de governo é o voto na Aliança Democrática”, despediu-se Montenegro. Este domingo há mais.

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