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KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

Vieira da Silva. "Nenhum governo é imune a crises com esta dimensão"

Em vésperas do PS tomar uma decisão sobre Presidenciais, o antigo ministro socialista não toma partido, mas diz avaliar de forma "globalmente positiva" o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa.

Na véspera da Comissão Nacional do PS que vai decidir quem o partido vai ou não apoiar nas eleições Presidenciais, o antigo ministro de três governos PS, António Vieira da Silva, diz que “embora não tenha sido votante” em 2016 de Marcelo Rebelo de Sousa avalia de “forma globalmente positiva” o seu mandato. Sobre o desgaste de António Costa com a pandemia, o antigo ministro socialista diz que “nenhum governo é imune” a uma crise como esta, embora deixe rasgados elogios ao primeiro-ministro. O antigo governante diz ainda não compreender as razões do Bloco de Esquerda ter votado contra o Orçamento do Estado para 2021. Por fim, quando pressionado à escolha múltipla recusou-se a escolher entre o Sporting ser campeão e a sua filha, a ministra da Presidência Mariana Vieira da Silva, ser primeira-ministra.

[Ouça aqui a edição da Vichyssoise desta semana na íntegra]

Churchill, cavalos cansados e um direto à Pensilvânia

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Foi recentemente escolhido como novo conselheiro especial do Comissário Nicolas Schmit. A direita diz que foi uma escolha do governo português — o comissário é dos S&D — a esquerda que foi uma escolha de Bruxelas. Quem é que o convidou afinal?
Não me ofereci a ninguém e o convite foi feito pelo comissário Schmit naturalmente que, sendo a presidência portuguesa um dos temas desta minha relação com a Comissão Europeia, tenho também uma relação com o Governo português, que vai assumir a presidência a partir de janeiro. Um dos objetivos é a preparação da cimeira social que é um dos pontos importantes da Presidência portuguesa.

Vai ser uma das bandeiras? 
Sem dúvida. Obviamente que os seus contornos… não vai ser feita nos modos costumeiros, não sabemos ainda como a cimeira social poderá ser consumada nem sequer qual a natureza da conjuntura que estaremos enfrentar em maio de 2021. É um trabalho complexo, exigente e tenho a experiência de ter participado muito intensamente nas duas últimas presidenciais portuguesas e também, provavelmente por isso, o comissário Schmit teve a ideia de me pôr a fazer esta ligação.

Não sabemos como estaremos em maio de 2021, mas sabemos que a partir da próxima segunda-feira estamos já em estado de emergência. Concorda com esta medida, não havia volta a dar que não recorrer a este estado de exceção?
Não tenho conhecimento tão detalhado sobre os condicionalismos sobre os dados sanitários e da pandemia como quem teve a responsabilidade de tomar esta medida. Agora julgo que a forma como eu a percebi, é que é um pouco diferente da que marcou a primeira fase da pandemia, julgo que é adequada face à necessidade de controlar o crescimento que tem sido muito relevante em quase todos os países da Europa incluindo Portugal.

"Desconhecia que em Portugal havia tanta gente tão perita em saúde pública e em pandemias"

Alguns partidos já vieram dizer que estão contra.
Desconhecia que em Portugal havia tanta gente tão perita em saúde pública e em pandemias. Não estou a ver que outros países da Europa com sistemas e serviços de saúde, pelo menos, equivalentes ao português — se não melhores — que tenham feito coisas muito diferentes. Ou estejam a abdicar deste instrumento de distanciamento social que tem de te r uma componente legislativa.

Não é especialista em questões sanitárias, mas em política é. António Costa tem gerido bem esta crise?
Na minha opinião o António Costa é das pessoas mais bem preparadas para enfrentar uma situação com a complexidade desta. De uma maneira genérica, a forma como Portugal e os portugueses e o Governo tem reagido a esta crise das nossas vidas — nada parecido com isto aconteceu no passado recente — e o grau de indeterminação sobre o futuro é ainda extremamente elevado. Eu tenho uma visão um pouco pessimista sobre a dureza das consequências para a economia e para a sociedade que esta pandemia vai trazer. E para a duração dessas consequências, porque as sociedades contemporâneas desta crise tiveram de tomar opções que nunca tinham acontecido. Tiveram que tentar congelar ou manter em coma induzido uma parte importante das nossas economias.

"António Costa é das pessoas mais bem preparadas para enfrentar uma situação com a complexidade desta."

E podem ser também uma consequência para o Governo de António Costa?
Nenhum governo é imune a crises com esta dimensão. Estas pessoas também sabem avaliar e ao longo deste período têm-se visto que diferentes países têm avaliado de forma distinta a forma como as opções políticas têm sido construídas.

O Presidente Marcelo diz que até Churchill perdeu as eleições depois da guerra…
Não gosto muito de comparar isto com uma guerra, porque a guerra tem uma dimensão trágica de natureza distinta. O que não quer dizer que esta crise não tenha consequências no plano económico e social por vezes equiparáveis às que conflitos militares tiveram. Agora, quando alguns dizem que pode existir a retrocessos relevantes até no plano civilizacional, é bom que estejamos atentos a essas vozes porque esses riscos existem e há níveis de tensão social e de confronto, de radicalização que começam a estar associados.

E há outra questão a somar a essas que este Orçamento deixou clara que é o apoio político do Governo. A partir de agora a estabilidade política está comprometida?
O que diz faz sentido. Numa situação de enorme dificuldade que exige medidas difíceis e duras, por vezes pode levar a algumas forças acharem mesmo interessante estarem de alguma forma associadas a quem tem de tomar essas medidas. É compreensível. Pode ser criticável, e para mim é. A gravidade da situação que vivemos aconselha a que todos tenham um comportamento menos radical e que tenham mais propensão ao compromisso e ao consenso. Julgo que é isso que os portugueses querem.

O BE esteve mal neste voto contra?
Tenho muitas dificuldades em compreender as razões do Bloco de Esquerda, para não dizer que — de todo — não compreendo. Com um ambiente de negociação que parece ter existido e, depois, com a inclusão quase instantânea desta transformação radical nas nossas vidas. julgo que era preciso ter feito um pouco mais. Todos deviam ter feito mais.

"Tenho muitas dificuldades em compreender as razões do Bloco de Esquerda [em ter votado contra o Orçamento do Estado], para não dizer que -- de todo -- não compreendo"

Todos incluindo o Governo?
Acho que o Governo fez a sua parte. Se olharmos para as medidas que estão no Orçamento não me parece que seja aceitável que qualquer força política, no Governo na oposição ou entre as duas situações, utilize a gravidade da situação para dai retirar dividendos políticos. Penso que olhando para os estudos de opinião, que os portuguesas e portugueses estão muito atentos a esses comportamentos. Não vi nenhum onde não estivesse refletida a incompreensão do eleitorado do BE face à posição que ele tomou. Mas vamos ver.

Há uma nova prestação social, são valorizadas outras que já existiam. A Segurança Social portuguesa vai sobreviver a esta crise?
Posso responder-lhe da forma mais dura, talvez até mais brutal, que não estarei muito afastado da realidade. Aquilo que está em causa não é a sobrevivência da Segurança Social a esta crise. É a sobrevivência do modelo de vida que nós temos, que desenvolvemos, e do modelo de sociedade que criámos. A Segurança Social não está isolada, não é uma componente. A Segurança Social foi criada para dar resposta àquilo que tecnicamente se chama um conjunto de eventualidades: o desemprego, a doença, a velhice, por aí fora. Não foi desenhada, nem é financiada para reagir e para sustentar crises da dimensão de uma pandemia, em que é o próprio Governo que manda fechar atividades económicas.

"Aquilo que está em causa não é a sobrevivência da Segurança Social a esta crise. É a sobrevivência do modelo de vida que nós temos"

Terá de ser repensada?
Nenhuma segurança social, repare. Aqui os debates sobre se a Segurança Social deve ser mais pública ou mais privada, mais capitalizada, mais de repartição, são debates altamente irrelevantes face à dimensão desta crise. Porque aquilo que acontece é que a sociedade como um todo está a criar menos riqueza do que aquela que criava e aquela que necessita para distribuir por aqueles que já não produzem.

Que modelo pode sair daqui depois desta crise?
Não tenho nenhuma bola de cristal.

Diversificar as fontes de financiamento da Segurança Social, por exemplo?
Vejo mais essa resposta como uma resposta a transformações estruturais do que como resposta a esta crise. Esta crise tem de ser financiada pelos instrumentos que nós temos ao nosso dispor, sejam nacionais, sejam europeus.

A União Europeia já deu essa resposta, em parte.
Deu uma resposta que, a mim pessoalmente, me surpreendeu. Muito mais robusta do que eu estava à espera que acontecesse.

Acredita que se vai falar em questões como o plafonamento da segurança social?
Cada vez há menos condições para pensar a Segurança Social nessa base. O plafonamento na Segurança Social tem implícito um período de transição que explico de uma forma muito simples: a Segurança Social terá de continuar a pagar as pensões que são os pensionistas e terá menos financiamento para suportar esses custos e os custos futuros. E, portanto, sempre que se discutiu um plafonamento, este foi associado a uma qualquer forma de maior endividamento do Estado. Ora, se há coisa que nós não podemos fazer neste momento, e já há uns anos, é aumentar o nosso endividamento. Aliás, se tivermos atentos temos acompanhado o aparecimento de outras ideias, não muito originais, permita-me que lhes diga, mas a ideia do célebre plafonamento não me parece que esteja no topo das preocupações. O modelo de repartição é um modelo dominante na maior parte dos países. O problema é sempre o mesmo: em cada momento nós temos de ter capacidade de criar riqueza para aqueles que estão a trabalhar e recebem os frutos dessa riqueza pelo seu salário e para aqueles que já não podem trabalhar e que recebem os seus rendimentos através de qualquer processo de redistribuição, seja ele público, seja ele privado. Não pensemos, que a economia não funciona assim, que há uma forma de meter muito dinheiro num qualquer cofre ou debaixo do colchão para os tempos maus. Isso é uma imagem do passado que hoje em dia não tem correspondência. Se olharmos para os países da OCDE, as pessoas com mais de 65 anos, têm um rendimento que corresponde a cerca de 60% do rendimento dos ativos. Nunca na história isso aconteceu. E grande parte deles já não têm rendimentos do trabalho. Houve uma redistribuição muito elevada e que eu acho que as nossas sociedades não estão disponíveis para abdicar delas.

Passando para um tema radicalmente diferente. Vai seguir com interesse a comissão nacional do PS deste sábado? O que preferia que saísse dali: um partido a apoiar Ana Gomes ou Marcelo Rebelo de Sousa?
Não creio que essas sejam as duas únicas alternativas que existam. Vou seguir com atenção. Já disse publicamente que, apesar de não ter sido votante de Marcelo Rebelo de Sousa, avalio de forma globalmente positiva o mandato do Presidente Marcelo.

"Apesar de não ter sido votante de Marcelo Rebelo de Sousa, avalio de forma globalmente positiva o mandato do Presidente Marcelo."

Não o incomodaria que ele continuasse em Belém?
Repare. Julgo que numa situação tão exigente como aquela que estamos a viver, o que devemos privilegiar é a criação de ambientes de estabilidade e convergência tão amplos como possível.

E isso não seria possível com uma candidata socialista como Ana Gomes?
Seria possível, naturalmente, com outro tipo de candidatos. Mas a realidade é o que é. Os portugueses já têm manifestado de forma muito clara, nos estudos de opinião, o que é que pensam sobre o futuro ciclo presidencial.

Do seu ponto de vista é isso: não vale a pena mexer porque está a funcionar bem? Vale mais Marcelo do que mudar?
Não estou a ver é que haja condições objetivas e subjetivas para haver essa mudança. Ainda não conhecemos exatamente como é que Marcelo Rebelo de Sousa se irá apresentar no segundo mandato. E isso também importância.

Não foi votante de Marcelo, mas agora será?
Não disse isso. Vou esperar pela reunião do PS. Sou militante do PS não tenho neste momento já cargos executivos.

E ainda não decidiu em quem vai votar.
Já decidi, mas não vou dizer aqui.

[Entramos agora no segmento carne ou peixe, em que o convidado tem de escolher entre duas opções:]

Preferia o Sporting campeão ou ver Mariana Vieira da Silva como primeira-ministra de Portugal?
Porque é que as duas coisas não podem acontecer ao mesmo tempo? Não sou capaz de fazer essa escolha porque não tenho estados de alma relativamente às opções e às condições de desenvolvimento de vida da minha filha. Ela é um ser autónomo e independente. Ambos, ela e eu, gostaríamos muito que o Sporting fosse campeão.

Com quem mais gostava de almoçar quando esteve com eles no governo: com Fernando Medina que foi seu secretário de Estado ou Pedro Nuno Santos, que foi seu colega no último governo?
Bem, eu almocei muito mais vezes com o Fernando Medina porque trabalhei com ele. Foi meu secretário de Estado, trabalhei com ele durante muitos anos e ainda aqui ou acolá me encontro com ele para almoçar com ele, sem nenhuma leitura política. Do ponto de vista pessoal tenho uma ligação mais forte ao Fernando porque o conheço há muitos anos e porque trabalhei com ele de forma muito próxima e vejo com muito interesse o trabalho dele na câmara municipal de Lisboa.

A quem comprava um albúm raro dos Beatles em segunda mão: José Sócrates ou António Costa?
Eu acho que tenho todos os álbuns dos Beatles. Não estou comprador a não ser que apareça uma raridade. E se aparecer uma raridade, valorizo mais a raridade do que o comprador. A minha biblioteca e fonoteca sobre os Beatles é muito extensa.

Numa segunda volta presidencial, sobravam-lhe dois candidatos: Passos Coelho e Cavaco Silva. Em quem votaria
Ó Diabo. Não gostaria de ser confrontado com essa opção, mas não consigo escolher. Estive quase para dizer: ‘Apesar de tudo, Cavaco Silva”.

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