Um utilizador do Facebook queixa-se de que a Europa está a “perder toda a sua identidade”, numa referência a uma suposta decisão exposta, de forma sucinta, num título de uma notícia que também é partilhado nesta publicação e que diz: “Europa quis ‘abolir’ o Natal ’em nome da inclusão e da diversidade'”. O mesmo utilizador que faz esta partilha questiona: “Será que não pretendem amputar-nos da liberdade de pensamento e das tradições judaico-cristãs?”

A publicação coloca lado a lado o recorte de uma notícia do Correio da Manhã e uma imagem do presépio sem qualquer contextualização, como se pode ver de seguida. Por baixo, surge uma mensagem: “Portugal é país de tradições cristãs. Inclusão não é sinónimo de abolição.” A sugestão é mesmo a de que chegou a existir uma proposta para abolir o Natal.

Não foi, no entanto, isso que aconteceu. Aliás, no título partilhado, a palavra abolido aparece entre aspas simples que por vezes são usadas para indicar uma força de expressão (embora a utilização correta seja para expressões que fazem parte de uma frase que já está entre aspas duplas). No caso, bastava ler o corpo da notícia cujo título é destacado para perceber que a intenção da proposta em causa não era abolir o festejo do Natal, mas sim o uso da palavra nas comunicações internas da Comissão Europeia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A proposta veio da comissária europeia para a Igualdade e causou alguma polémica, tendo sido retirada pela própria Helena Dalli. Inicialmente, a ideia era substituir o uso de palavras como “Natal” por “festividades”, com o argumento de que se pretendia garantir uma comunicação mais “inclusiva” na União Europeia. “Nem toda a gente celebra os feriados cristãos e nem todos os cristãos os celebram nas mesmas datas”, considerava a comissária.

As críticas que surgiram às “diretrizes para uma comunicação inclusiva” fizeram a maltesa recuar e reconhecer, num comunicado, que a versão “não servia adequadamente o propósito” inicial e não “correspondia aos padrões da Comissão”. Na proposta constavam, segundo as notícias que foram sendo publicadas, outras sugestões como acabar com o uso de palavras como “senhoras e senhores” ou “chairman“, também em nome de uma maior inclusão.

A questão da palavra Natal foi aquela que mais atenções e críticas centrou, nomeadamente do Papa Francisco que, citado pela Agência Ecclesia, considerou a proposta “um anacronismo”, aconselhando a União Europeia a não abrir “caminho a colonizações ideológicas”, já que isso poderia levar à “divisão de países” e mesmo “ao colapso da União Europeia”. Uma posição que levava em linha de conta o risco que esta posição poderia significar para o crescimento de  populismos.

Conclusão

A publicação leva a crer, erradamente, que o que esteve em causa foi a abolição do Natal e não foi exatamente isso que aconteceu. O que foi proposto foi que as comunicações na Comissão Europeia passassem a referir-se à época natalícia como “festividades”, por se tratar de um feriado cristão e, por isso mesmo, não ser festejado por toda a população ali representada.  A proposta acabou por ser retirada por pressão de fortes críticas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge