O médico norte-americano, defensor da cloroquina para o tratamento da Covid-19, é um dos últimos protagonistas das publicações que circulam nas redes sociais sobre a doença. Vladimir Zelenko defendia a utilização de um cocktail de medicamentos para tratar uma infeção pelo coronavírus e tornou-se conhecido depois de Donald Trump se ter referido ao suposto tratamento. Várias publicações partem da alegação de que Zelenko foi nomeado para a atribuição do Prémio Nobel da Paz e que isso valida a posição de quem, como Jair Bolsonaro, defendeu o recurso à cloroquina para o tratamento da Covid — e isso torna esta publicação falsa.

Zelenko começou a utilizar hidrocloroquina, azitromicina e zinco quando a Covid-19 começou a surgir na sua comunidade, no estado de Nova Iorque, como explica esta notícia do New York Times. A autoridade do medicamento norte-americana, a Food and Drug Administration, deu uma autorização de emergência para que os médicos pudessem prescrever hidroxicloroquina e cloroquina, para tratar a Covid-19. No entanto, vários estudos mostram que o tratamento não é eficaz. Um deles, publicado no New England Journal of Medicine, conclui que, “após exposição de alto risco ou risco moderado” ao novo coronavírus, “a hidroxicloroquina não preveniu doenças compatíveis com a Covid-19 ou infeção confirmada quando usada como profilaxia pós-exposição dentro de quatro dias após a exposição”.

Fact Check. Novos estudos comprovam eficácia da Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19?

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a utilização de cloroquina para prevenir a Covid-19. A OMS cita seis estudos, com mais de seis mil participantes para concluir que “o uso de hidroxicloroquina para prevenção teve pouco ou nenhum efeito na prevenção de doenças, hospitalização ou morte por Covid-19”.

Nomeação para Nobel

Qualquer pessoa pode ser nomeada para uma candidatura à atribuição de um Nobel. E, por isso, ao contrário do que indica a publicação, uma suposta nomeação não comprovaria, só por si, que o tratamento com cloroquina para a Covid-19 estava correto.

Além disto, não é possível apontar, com rigor absoluto, os nomeados para os Prémios Nobel mais recentes. Os nomes só podem ser conhecidos 50 anos depois da data de nomeação, como refere a página desta distinção onde são explicadas as regras de nomeação. No site do Prémio Nobel da Paz é explicado que “nenhum dos comités do Nobel anuncia os nomes dos indicados, nem para os meios de comunicação social nem para os próprios candidatos. Certos nomes surgem nas especulações antecipadas de potenciais indicados ou candidatos – mas ou é pura suposição ou informação fornecida pela pessoa ou pessoas por trás de uma indicação”.

Mas, entre os critérios que tornam uma pessoa elegível para ser nomeada para um Prémio Nobel, há um que deixa Vladimir Zelenko de fora. “Todas as pessoas vivas e as organizações ou instituições ativas são candidatos elegíveis para o Prémio Nobel da Paz”, refere a instituição nas regras de nomeação. Ou seja, o regulamento não permite que uma pessoa que já morreu seja nomeada e o médico norte-americano faleceu no dia 30 de junho de 2022, na sequência de doença prolongada.

Quanto à edição deste ano, a organização refere que há 305 candidatos em análise, “dos quais 212 são [nomes] individuais e 93 são organizações”.

O jornal brasileiro Estadão também já desmentiu publicações semelhantes àquela que está em análise neste artigo. No artigo de verificação de factos é avançado que foi o site The Internet Protocol, administrado por Vladimir Zelenko, a fonte que originalmente anunciou a nomeação. Mas o texto terá sido apagado da página entretanto.

Conclusão

Não é possível confirmar ou desmentir nomeações para o Prémio Nobel da Paz, a menos que tenham acontecido há mais de 50 anos, porque a instituição só revela os nomes em avaliação passadas cinco décadas de cada edição. Apesar de todas as pessoas serem elegíveis para serem nomeadas, os nomes não são conhecidos oficialmente. No site do Nobel, lê-se que os nomes tornados públicos são “pura suposição ou informação fornecida pela pessoa ou pessoas por trás de uma indicação”. Há um critério que afasta Zelenko de uma possível nomeação: as pessoas que já morreram não são elegíveis.

Além disso, a possibilidade de que Zelenko tivesse — mesmo que em contraponto com as regras do Prémio Nobel — sido nomeado candidato à atribuição da distinção, isso não valida a tese de que a cloroquina é um fármaco eficaz para o tratamento da Covid-19. Os estudos científicos validados não o comprovam.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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