A imagem mostra um ícone de mulher e outro de um homem que agarram juntos um guarda-de-chuva sobre a cabeça de duas crianças, um menino e uma menina. O objeto impede que seis cores do arco-íris caiam sobre a alegada família, com a inscrição em árabe al-Sharia (lei islâmica).

As palavras que acompanham a publicação da imagem – replicada várias vezes nas redes sociais, em vários idiomas – não deixa dúvidas sobre a intolerância em relação à comunidade LGBTI+: “Qatar começa a espalhar outdoors anti LGBT pelas cidades onde serão realizados os jogos da copa do mundo 2022. O país muçulmano diz que não vai tolerar qualquer tipo de manifestação ou militância gay durante o evento”.

Mas como em tantos outras situações que se tornam virais nas redes sociais, a imagem não diz respeito à situação que é descrita. Neste caso, o cartaz existe, mas foi colocado Centro Islâmico Al Hedaya, na cidade de Riffa (Bahrein), como é possível ver na fotografia publicada pelo Gulf Daily News Online e analisada pela plataforma jornalística Aos Fatos. A imagem, que depois foi convertida em cartaz, terá sido inicialmente publicada na conta do Twitter da Sociedade de Orientação Islâmica do Bahrein, como uma manifestação contra o mês do orgulho LGBTI+ (em junho).

Publicação Facebook anti LGBT

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Porém, é verdade que no Qatar as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, homens ou mulheres, são punidas com uma multa e prisão — ou até pena de morte por apedrejamento no caso dos homens muçulmanos, de acordo com a sharia (lei islâmica). O país também não permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo e pode punir com pena de prisão as manifestações de apoio a pessoas da comunidade LGBTI+.

O Qatar não está sozinho nesta discriminação à comunidade de gays, lésbicas, bissexuais e outras pessoas que têm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo — Arábia Saudita, Emirados Árabes e Oman, são apenas outros exemplos. O problema com o Qatar tornou-se mais visível porque se prepara para receber o Mundial de Futebol em novembro e dezembro deste ano. Vários atletas e associações já vieram criticar a realização de uma prova tão importante num país que persegue e criminaliza pessoas LGBTI+.

Os jogadores e os adeptos receiam não estar em segurança no país. Associações como a Coligação Desportiva de Direitos Humanos LGBTIQ ainda não tiveram garantias categóricas da segurança destes adeptos por parte das autoridades do Qatar. O jornal The Guardian também não conseguiu obter respostas concretas sobre as questões de segurança da comunidade LGBTI+ junto da organização do evento ou junto da FIFA (Federação Internacional de Futebol), que disse ter recebido garantias suficientes, mas sem detalhar.

Todos serão bem-vindos ao Qatar em 2022, independentemente da sua raça, origem, religião, sexo, orientação sexual ou nacionalidade. Somos uma sociedade relativamente conservadora — por exemplo, as demonstrações públicas de afeto não fazem parte da nossa cultura. Acreditamos no respeito mútuo e, por isso, embora todos sejam bem-vindos, o que esperamos em troca é que todos respeitem a nossa cultura e tradições”, responderam os organizadores do Mundial 2022 ao The Guardian.

Declarações equivalentes já haviam sido proferidas por Nasser Al Khater, diretor-executivo do Comité de Organização do Mundial 2022, no final do ano passado. Mas já este ano, em abril, o chefe de segurança do torneio disse que as características bandeiras com as cores do arco-íris poderão ser retiradas aos adeptos para os proteger de serem atacados. “Se um fã levantar uma bandeira do arco-íris e eu lha tirar, não é porque eu realmente queira tirá-la para insultá-lo, mas para o proteger. Porque se não for eu, outra pessoa à sua volta pode atacar”, disse o major general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, à Associated Press.

“Querem demonstrar a sua opinião sobre a situação (LGBTQ), demonstrem-na numa sociedade em que seja aceite”, disse o chefe de segurança do Mundial 2022. “Venham ver o jogo. Isso é bom. Mas não insultem toda a sociedade por causa disto”.

Conclusão

É falso que tenha sido o Qatar a espalhar os cartazes anti-LGBT nas cidades que vão receber os jogos do Mundial de Futebol 2022. Os cartazes foram colocados no Bahrein como manifestação contra o mês do orgulho LGBTI+.

No entanto, a posição do Qatar é semelhante: criminaliza as relações íntimas entre as pessoas do mesmo sexo e as manifestações de apoio à comunidade LGBTI+. Jogadores e adeptos estão preocupados com a sua segurança e com a impossibilidade de apresentarem os seus símbolos (como as bandeiras arco-íris) durante os jogos que decorrem entre novembro e dezembro deste ano, como resultado da falta de garantias e mensagens dúbias por parte da organização do evento.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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