Donald Trump foi reeleito Presidente dos Estados Unidos da América numa eleição histórica a 5 de novembro deste ano e as possíveis consequências do seu regresso — económicas, políticas e sociais — começaram imediatamente a ser analisadas.
Cerca de duas semanas depois da reeleição, a 21 de novembro, o jornal norte-americano The New York Times publicou um artigo de análise sobre os efeitos que a futura administração Trump poderá ter na guerra na Ucrânia, com o título “Trump’s Vow to End the War Could Leave Ukraine With Few Options”.
Um parágrafo do artigo diz que “vários oficiais norte-americanos chegaram mesmo a sugerir que Biden poderia permitir que a Ucrânia voltasse a ter armas nucleares, como acontecia antes da queda da União Soviética”, com o objetivo de reforçar a capacidade de defesa ucraniana.
Logo no dia seguinte, uma publicação no Facebook alegava que o jornal tinha escrito que a administração Biden queria entregar armamento nuclear a Kiev antes do regresso de Donald Trump à Casa Branca e ia mais longe, com o autor do post a afirmar que “os oficiais do governo norte-americano pretendem fornecer urgentemente à Ucrânia um arsenal de armas nucleares”.
Mas esta afirmação não é verdadeira.
Vamos por partes: o post cita, de facto, um parágrafo do artigo do The New York Times, já referido acima, sobre a possibilidade de Biden permitir que a Ucrânia voltasse a ter armas nucleares. Mas, além de não se tratar de uma posição oficial do atual Presidente e apenas de sugestões feitas por alguns oficiais, a permissão para ter armas nucleares é diferente do fornecimento das mesmas e significa um grau diferente de envolvimento na guerra.
A publicação feita na rede social deturpa o conteúdo real do artigo, acrescentado a frase inicial “Lets give nukes back to Zelensky” (“Vamos dar novamente armas nucleares ao Zelensky”) e ainda a alegação de que “os oficiais do governo norte-americano pretendem fornecer urgentemente à Ucrânia um arsenal de armas nucleares”, que não está sustentada com qualquer prova. Nenhuma destas frases foi escrita, em momento algum, no artigo do The New York Times.
Contudo, tanto o post como o próprio parágrafo do artigo original causaram polémica e provocaram alguma tensão, e a 30 de novembro o jornal acrescentou uma nota de correção onde faz a ressalva de que “os funcionários do governo norte-americano sugeriram que a administração Biden poderia permitir que a Ucrânia restabelecesse o seu arsenal nuclear (…), mas não sugeriram que a administração Biden poderia devolver estas armas à Ucrânia.”
A agência Reuters também confirmou a informação no dia 1 de dezembro, citando declarações do conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que disse: “O que estamos a fazer é reforçar a Ucrânia com várias capacidades, para que se possa defender eficazmente e lutar contra os russos, e não dar-lhes capacidades nucleares”.
Conclusão
Embora seja verdade que o The New York Times publicou um artigo no qual menciona que alguns funcionários do governo norte-americano sugeriram a possibilidade de a administração Biden permitir que a Ucrânia voltasse a ter armas nucleares, não é verdade que os Estados Unidos tenham qualquer intenção de fornecer armamento nuclear a Kiev.
O post feito na rede social utiliza a informação do artigo de forma descontextualizada para dar a entender que o atual Presidente norte-americano tem urgência em fornecer armas nucleares aos ucranianos, o que já foi desmentido oficialmente pelo conselheiro nacional de segurança da Casa Branca.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.