A ideia de investigar a história da venda da mansão cor de rosa da família Espírito Santo, junto à Boca do Inferno, em Cascais, surgiu no final de maio. A mítica casa foi comprada em 1936 por Ricardo Espírito Santo e ficou nas mãos do clã até 2023. Não foi fácil descobrir o que se tinha passado. A Ana Suspiro, o Edgar Caetano e a Rita Pereira Carvalho fizeram muitas perguntas, foram a muitas conservatórias e consultaram muitos documentos. |
A dada altura, depararam-se com um obstáculo inesperado. Como a mulher de Ricardo Salgado era uma das proprietárias da casa, o negócio teve de ser autorizado por um tribunal, por causa do caso BES. Isso queria dizer que, para obter mais detalhes, era preciso consultar o processo. Havia uma boa notícia: com tantas páginas onde procurar, sabíamos, pelo menos, que os dados referentes à venda não estavam no processo principal, mas num apenso. Havia uma má notícia: o caso tem centenas de apensos que ocupam uma das salas de audiências do tribunal, que teve de deixar de funcionar para se transformar numa zona de arquivo do caso. |
Havia outra boa notícia: a Rita Pereira Carvalho lembrava-se de ter visto uma referência a bens arrestados no apenso “A”. Havia outra má notícia: o apenso “A” tem 130 volumes. Depois de um dia inteiro de consultas, a Rita teve outra ideia: como o primeiro pedido para a venda da casa tinha sido recusado pelo Tribunal da Relação, aquela decisão devia ter alguma referência útil. |
E tinha mesmo. Pelos vistos, a informação de que precisávamos estava no apenso “CE”. Quando pediu para o consultar, veio uma péssima notícia: “Esse apenso não está cá”. Depois de muitas voltas e reviravoltas, para cima e para baixo, a Rita concluiu que o apenso tinha mesmo de estar ali. E estava: uns dias mais tarde, apareceu. A partir dali, bastou meia hora de consulta para conseguir todas as informações. A Justiça portuguesa tem, de facto, muitos labirintos — neste caso, até haveria mais para contar, mas não vale a pena estarmos agora a perder tempo com isso. |