1 Outubro, Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março, Abril…sete meses, pelo menos, é o tempo perdido para o país entre o anúncio de uma crise e o início do regresso à normalidade.

Dizem os especialistas que não vem mal ao mundo pelo facto de estarmos a ser governados em regime de duodécimos. Provavelmente não. Mas esse também não é o principal problema. A grande questão é outra. Num país em que praticamente toda a atividade depende do Estado, a ausência de um Governo capaz de tomar decisões é fatal para o país.

No início da crise, o presidente de uma empresa pública com quem a instituição onde trabalho tem relações disse-me taxativamente: no próximo ano não contem connosco. Vamos para eleições, ninguém decide nada nos próximos meses e, portanto, é um ano em que estamos parados. Era Novembro e as eleições já estavam marcadas para 30 de Janeiro. Pensei que o meu interlocutor não queria trabalhar e estava manifestamente a usar um subterfúgio para adiar decisões. Afinal enganei-me. O país real está mesmo bloqueado num horizonte que se estende pelo menos até ao início do Verão. Depois entram os novos ministros que têm que se inteirar das pastas e, de facto, a expetativa é que só lá para o fim do ano a máquina volte a aquecer os motores.

Será que é assim tão difícil perceber as razões do nosso atraso estrutural? Depois de dois anos marcados pela crise provocada pela pandemia, o que Portugal tem para oferecer é um ano de pausa em grande parte da nossa economia.

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Resta-nos o consolo de saber que, em princípio, com a maioria absoluta, este Governo é para quatro anos.

2 O PSD também entrou em modo pausa depois das eleições. Provavelmente já tinha entrado antes, mas ficou à espera do recado vindo do voto popular.

A grande questão agora nem é a troca rápida de um líder que, se não trouxer consigo uma agenda que permita repensar a proposta do PSD para o país, pouco mais tem para dar ao partido. A grande questão é que o PSD continua aprisionado por Rui Rio. Mesmo depois de mais um resultado desastroso, o ainda líder do PSD não quer largar o osso e o povo laranja, outrora rebelde, parece agora domesticado e preso na teia de um líder que pretende manter o PSD em stand by.

Rui Rio é uma personalidade complexa. Tão complexa que conseguiu manter-se quatro anos na liderança da oposição colecionando derrotas para o partido e vitórias internas. O homem do Norte que nunca de lá quis sair levou o partido consigo para o bairro onde vive no Porto e está com dificuldade em libertá-lo para outros voos.

Rio tem um problema de adesão à realidade. Acha possível fazer altos voos sem sair da sua zona de conforto. Ora isso é impossível. Num assomo de lucidez, ainda concluiu na noite eleitoral que já não era útil ao partido. Mas depois de uma noite bem dormida pensou que se calhar ainda consegue umas vitórias pessoais, como negociar com Costa a sua agenda de líder derrotado: justiça e regionalização.

A pergunta é: o PSD vai continuar enfeitiçado e deixar que Rui Rio faça o que quer, ou vai acordar deste sonho mau e começar a reerguer-se? O melhor é que acorde depressa sob pena de acordar tarde demais.