A COP28, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas que teve lugar este ano no Dubai, conseguiu aprovar um acordo histórico, que menciona especificamente os combustíveis fósseis e a necessidade de fazer uma transição “para além deles”.  Com algum atraso é certo; em finalizar as negociações este ano e sem dúvida em relação à implementação ideal de políticas. Um compromisso menos ambíguo, isto é, explicitamente eliminar totalmente e rapidamente os combustíveis fosséis, é considerado fundamental para manter a subida das temperaturas globais abaixo dos 1.5ºC e minimizar as consequências mais graves das mudanças climáticas. Esta era a posição defendida pela grande maioria dos países.

Mas relembremos a magnitude do desafio: desenhar um plano de acção climática global, com que todos os países, sem excepção, concordem. As decisões, na COP, são tomadas por consenso. Um acordo desta ambição seria impensável até há alguns anos e para muitos, impensável apenas até há alguns meses.

Também nós, enquanto cidadãos, nos temos vindo a aproximar uns dos outros nas nossas opiniões sobre as mudanças climáticas, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Vários estudos mostram que, ainda que demasiado lentamente, também entre nós o consenso se alarga e nos tornamos mais ambiciosos. E, em parte, graças às COP.

Num estudo com Riccardo di Leo da Universidad Carlos III en Madrid, analisámos como a opinião dos cidadãos europeus sobre as mudanças climáticas tem mudado, usando um inquérito europeu representativo, o European Social Survey. No geral, com o tempo, os cidadãos europeus em média, e os portugueses especificamente, mostram-se significamente mais preocupados. Em 2020, apenas 8% dos portugueses indicaram não estar nada ou não muito preocupados com a questão (eram 12% em 2016), e 5.5% consideravam que as mudanças atuais têm causas predominantemente naturais. Estes números são baixos; ainda assim, refletem posições há bastante abandonadas mesmo pelos países menos colaborativos na COP.

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Considerámos, no estudo, como as anomalias de temperatura sentidas, e como vários eventos políticos, incluindo a COP26 em Glasgow em 2021 e a COP22 em Marrakesh em 2016, influenciaram a atitude dos cidadãos. Focámo-nos nestas duas conferências do clima porque ocorreram durante as entrevistas do European Social Survey, o que nos permite comparar opiniões imediatamente antes e depois.

Detetámos que os entrevistados que sentiram com mais frequência fenómenos metereológicos atípicos onde vivem se mostram mais preocupados com as mudanças climáticas. No entanto, o efeito que isolámos da COP26 é muito superior. Constatámos que os entrevistados na semana imediatamente posterior à COP26 em Glasgow mostraram-se substancialmente mais preocupados com as mudanças climáticas do que os entrevistados imediatamente antes, mesmo considerando fatores como a idade, educação ou país. Resultados semelhantes foram encontrados por outros estudos, que detetam aumentos na atenção (em vez de na preocupação) dada às mudanças climáticas, como um estudo realizado por Bakaki e Bernauer sobre a COP20. O estudo realizado por Sisco, Pianta, Weber e Bosetti,  indica um muito maior efeito tanto dos protestos climáticos como das COP comparado com anomalias metereológicas, nas pesquisas do Google sobre o tema. Não basta “sentir” as mudanças climáticas para estar ciente delas: precisamos debater a sua importância, de forma aberta.

Não notámos, pelo contrário, qualquer efeito da COP26 na ideia de que os cidadãos têm uma responsabilidade individual em minimizar as mudanças climáticas. Mais interessante é que uma análise aprofundada revela que as mudanças no nível de preocupação foram mais acentuadas nos grupos más céticos. Os indivíduos menos interessados em política e os que se identificam como de direita, antes, menos preocupados com o clima, foram os mais afetados. Os indivíduos que se identificam como de direita indicam ainda, após a COP26, uma maior convicção de que as causas humanas são um fator muito importante nas mudanças climáticas que estamos a viver hoje.

Este efeito é perceptível por um mês depois da conferência, indicando persistência dos impactos. O fenómeno é particularmente relevante uma vez que os grupos mais céticos tendem a não ser persuadidos por protestos climáticos.

Ao mesmo tempo, a cobertura mediática é fundamental para que haja discussão e eventual reacção. Encontrámos um efeito da COP26, e não da COP22, que atribuímos à grande cobertura mediática da conferência em Glasgow. O acordo a que se chegou foi considerado decepcionante, mas os enormes protestos climáticos durante o evento, liderados pelas Fridays for Future e outros grupos de ativistas, garantiram-lhe uma posição de destaque.

A única COP, até à de hoje, com semelhante expressão nas notícias à COP26 foi a COP21, um momento verdadeiramente histórico, em que foi assinado o Acordo de Paris. Todas as nações reconheceram a ameaça das mudanças climática e se comprometeram a reduzir as emissões de dióxido de carbono, independentemente das suas tradições ideológicas e partidárias.

Entre nós, as tradições ideológicas e partidárias ainda nos levam a negar o problema ou a minimizar a necessidade de agir. Estamos a mudar, mas devagarinho. A COP está a avançar devagar, mas está a avançar, e de várias perspetivas, ainda vai à nossa frente. Demonstrou-o novamente este ano, tendo conseguido um acordo sobre combustíveis fósseis, juntando países com prioridades tão díspares como as Ilhas Fiji e a Arábia Saudita.

Também todos nós, enquanto cidadãos, teremos de aceitar a nossa responsabilidade, tanto coletiva como individual, de reduzir as emissões, independentemente das nossas condições e preferências diferentes, e focar a nossa discussão em como fazê-lo de forma justa e eficaz. E teremos de discutir como implementá-lo na política nacional. Tal como a COP, estamos atrasados, e será uma discussão lenta e frustrante, mas fundamental.