As crianças não nascem iguais. Não crescem iguais. Não têm oportunidades iguais. Não aprendem de forma igual. Não são iguais! Mas nada disso pressupõe que não devam – todas elas – deixar de ser iguais em dignidade e em direitos. Sendo assim, porque insiste a escola a querê-las a aprender da mesma forma, à mesma velocidade e a reproduzir de forma igual aquilo que pensam de maneira diferente? Como é que ainda se insiste que repetir é aprender?

E, não, que não se pressuponha que reconhecer as diferenças das crianças é legitimar as desigualdades com que a escola, muitas vezes, as trata. Quer quando faz alguma batotice na forma como constrói as turmas ou quando lhes atribui os seus professores. Ou como as acompanha em todo o seu percurso educativo sem que, muitas vezes, seja capaz de discernir as diferenças de cada uma. Reconhecer as diferenças não supõe acarinhar o individualismo. Nem, sequer, aceitar passivamente as condições com que as avaliamos de forma igual, mesmo quando as diferenças com que elas convivem, todos os dias, enviesam a sua capacidade de aprender. Mas dar à sabedoria de cada criança a oportunidade de ser escutada para ganho da escola. Como um bem plural com que todos aprendem.

Será que a maneira como muitas crianças manifestam tantas dificuldades na forma como aprendem algumas matérias tem a ver com a diferença com que as entendem ou com o modo como uniformizamos o ensino diante das diferenças de cada uma? Burocratizar, normalizar, estandardizar, quantificar e uniformizar não pode fazer com que a escola corra o risco de “esquecer” a importância da singularidade de cada professor e de cada aluno, uns e outros, felizmente, diferentes diante de objectivos escolares “iguais”? Querer as crianças a aprender de forma igual não pode transformar o conhecimento num obstáculo à forma como cada uma aprende, quando devia ser o contrário?

Para que serve a escola? Para dar a todas as crianças as mesmas oportunidades para aprenderem, de modo diferente, aquilo que só assim as torna iguais. Enquanto as diferenças de cada criança não tiverem o direito a espreguiçar-se, todos os dias, talvez a escola não seja o berço da democracia. Como devia ser.

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