Quando Ricardo Arroja, Carlos Guimarães Pinto e outros, respondiam à questão de a Iniciativa Liberal (IL) ser de esquerda ou de direita, dizendo que esta se posicionava no ponto superior de uma linha traçada ao centro, ou afirmando apenas “somos liberais”, a reacção foi de desdém, menosprezo e vista como aproveitamento político para colher votos de todos as sensibilidades políticas da sociedade.

Esta reacção, estou em crer, foi motivada em grande parte pelo desconhecimento, de grande parte das pessoas, dos ideais liberais; pela formatação imemorável e simplista da realidade política no eixo esquerda/direita; mas também pelo receio dos partidos instalados de que o surgimento duma força política liberal poderia instigar os cidadãos a querer explorar um universo antagónico àquele que sempre lhes foi proposto e imposto. Se provocatoriamente me perguntarem se a IL é de esquerda, recusarei prontamente, não sem antes afirmar que socialista não é certamente. E felizmente temos o liberalismo como contraponto ao socialismo reinante.

Nestes cinco meses após as legislativas, a Iniciativa Liberal, concordando-se ou não com as suas posições nos mais diversos temas levados a plenário da Assembleia da República para discussão e votação, já demonstrou que não é um partido faccioso ou que padece de “partidarite crónica”, mas que radica as suas posições numa ideologia humana, filosófica e económica que a leva a ter posicionamentos, perante a ambivalência política clássica, quer de direita quer de esquerda. Creio mesmo que já votou a favor e contra resoluções e propostas apresentadas por todos os partidos de distinto cariz ideológico representados no Parlamento.

Ao contrário dos outros partidos, a IL não funciona numa lógica de barricada e de política de trincheira. A sua actuação é pautada pela aplicação dos seus princípios, valores e ideologia. É esta conduta que leva ao que muitos designariam por umas vezes estar “à direita” e outras “à esquerda”.

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Dois exemplos que bem atestam esta realidade foram o posicionamento da IL ao lado da “esquerda” no tema da eutanásia, e ao lado da “direita” na recomendação do alargamento da ADSE a todos os portugueses.

E é também este seu perfil e coerência que já fizeram com que o deputado liberal votasse solitariamente, mas estóico, várias propostas.

Os partidos liberais ou de matriz liberal são, em todos os países onde existem, reconhecidos pelo eleitorado como sendo sempre “fact based parties”, isto é, a sua actuação e conduta é orientada naturalmente à luz da sua ideologia, mas baseada sempre no conhecimento científico, e na análise e interpretação dos dados. A um liberal fará sempre confusão uma política não quantificada e cujos impactos não sejam, em boa medida, estudados e conhecidos. Esta é, de resto, uma das razões para o Liberalismo ser céptico quanto à intervenção exacerbada do Estado. Ao contrário da Esquerda, que acredita numa elite iluminada que tudo sabe, tudo vê, tudo antecipa e por isso tudo impõe a todos, para um Liberal tal concepção não é aceitável e como tal deverá ser deixado aos indivíduos o máximo de liberdade para decidirem e agirem. Não só eles, com as suas crenças e vontade, estão mais perto da realidade e dos milhões de microcosmos que existem numa economia, como serão eles os responsáveis pelas suas acções. Liberdade com responsabilidade. Este tem sido também, pelo que temos podido observar, o posicionamento da IL.

Assim sendo, podendo não concordar com o que é proposto ou defendido, e antes de alguns desferirem ataques básicos e vazios de conteúdo às várias intervenções do deputado João Cotrim de Figueiredo, penso que seria da mais elementar justiça reconhecerem o trabalho, o estudo, o pôr em cima da mesa os dados e o querer trazer seriedade e objectividade ao debate parlamentar e à discussão partidária.

Ainda numa das últimas intervenções do deputado, a propósito duma proposta sobre resíduos de embalagem, o mesmo abordou a forma como se legisla em Portugal e passo a citar:

Passo 1: Arranjar uma causa meritória. Passo 2: Garantir que tem um ângulo popular ou populista. Passo 3: Arranjar uma janela de agendamento e bumba, lá vem projecto.” Em antagonismo a este modus operandi partidário o deputado demonstra a sua orientação liberal questionando: “pergunta:1. Há algum parecer a acompanhar os projectos? Não! 2. Alguém pensou na disrupção da cadeia de valor dos resíduos de embalagem? Não! Alguém previu um período de adaptação para os sectores afectados? Não! 3. Alguém pensou na harmonização de regras entre sectores e tipos de embalagens secundária e terciária? Não! 4. Mostraram alguma, mesmo que mínima, fundamentação técnica? Não! 5. Fundamentação económica? Não! Ninguém sabe quanto vai custar. 6. Fundamentação ambiental? Não! Ninguém sabe se o impacto global final no ambiente é positivo ou negativo.7. Alguém se apercebeu que normas que alterem o tratamento de materiais constantes na directiva da U.E. 1535, têm que ser previamente informadas à U.E? Não!

Sou liberal e sinto-me orgulhoso quando o deputado da IL diz que mais importante do que o mediatismo das personalidades do partido, são  as ideias que se defendem. Isto porque, como todos sabemos, as pessoas passam mas as ideias ficam. Como diria “V” na obra cinematográfica “V for Vendetta”: “Não há carne ou sangue para matar por detrás desta capa. Apenas há uma ideia e as ideias são à prova de bala”.

Porém, estou consciente de que fazer passar uma ideia complexa requer tempo, um eleitorado com conhecimento, inteligência e capacidade de ver para além do óbvio. Por isso, o caminho da IL far-se-á com passos eventualmente lentos, mas seguros e sólidos, sem atalhos e por isso, enquanto defender o ideal Liberal eu serei um dos caminhantes.