Quantos casos de Covid-19 foram detectados entre alunos nas escolas? E quantos focos de contágio existem realmente em contexto escolar? Como já expliquei num outro artigo, estas perguntas teriam resposta se estivéssemos em França ou no Reino Unido — por exemplo, poderíamos saber quantas escolas da rede pública fecharam total ou parcialmente (turmas enviadas para casa). Em Portugal, a resposta permanece sujeita a especulação, incerteza e dados inconsistentes, atirados para o espaço público por sindicatos e por vezes contrariados pela DGS em conferência de imprensa.

Quando, há semanas, dei nota desta situação de vazio informativo, alertei para aquele que considerei ser um problema de transparência: o alarmismo nas escolas e o multiplicar de rumores ou de desconfiança estavam a minar o clima nas comunidades educativas, o que só se poderia conter com informação transparente, fiável e regularmente actualizada. Mas, hoje, está claro que subestimei o problema. É que, à falta de transparência, sobrepunha-se a impreparação na contenção da pandemia: o Ministério da Educação não conhecia esses números com rigor, remetendo as questões relacionadas com a Covid-19 para a DGS e instituindo um sistema lento e ineficaz para a comunicação de casos.

Só a partir da semana passada, concretamente no dia 5 de Novembro, foi estreada uma nova plataforma electrónica (que estava a ser preparada desde o arranque do ano lectivo), onde as escolas podem registar toda a informação relacionada com a Covid-19: os casos de infecção, os alunos em quarentena e os alunos recuperados — dados que, de resto, o Ministério manterá longe do escrutínio público. O que, dito de outra forma, se traduz assim: só há 7 dias é que o Ministério da Educação passou a conhecer, em tempo real e com rigor, o número de casos Covid-19 nas escolas, tendo passado as primeiras 8 semanas de aulas apoiado em informação parcial e atardada. Eis um exemplo manifesto de impreparação do Governo na gestão da crise pandémica, num sector definido há meses como determinante para a contenção da 2ª vaga.

Não é que se possa alegar falta de tempo ou argumentar, como faz o Primeiro-Ministro para justificar o caos no SNS, que a 2ª vaga da pandemia se antecipou no calendário. Primeiro, porque houve tempo: a 9 de Abril, o Governo comunicou a sua intenção de manter as escolas básicas encerradas até após as férias de Verão. Segundo, porque a reabertura das escolas tinha data marcada: o Governo anunciou a 23 de Junho que as aulas arrancariam na semana de 14 a 17 de Setembro, pelo que tudo teria de estar pronto até lá. Ora, durante os meses que separam estas decisões e a reabertura das escolas, tornou-se consensual que a gestão nas escolas seria chave para a contenção da pandemia. Havia que manter as escolas seguras e abertas por razões sociais, educativas, económicas e de saúde mental. Para tal, a monitorização de casos de infecção e eventuais focos de contágio nas escolas tinha de estar assegurada com rapidez e fiabilidade, usufruindo dos meios necessários. Não foi o que aconteceu. Ou melhor, não foi o que aconteceu em Portugal, porque, como vimos acima, noutros países essa monitorização em tempo real e sistematizada foi implementada atempadamente.

Este exemplo de impreparação na Educação não é mais grave do que outros, como na Economia ou na Saúde, onde, por exemplo, se demorou demasiado tempo a desbloquear recursos e a concertar esforços entre sectores público e privado — por motivos políticos e ideológicos. Mas este, da Educação, serve de mais um exemplo num conjunto já demasiado amplo de episódios que demonstram a grande impreparação com que o Governo tem lidado com a pandemia, sobretudo nesta 2ª fase, na qual se esperava uma resposta mais eficaz. Como explica o José Manuel Fernandes, o Primeiro-Ministro bem que pode afastar responsabilidades, colocando-as sobre os cidadãos, mas não conseguirá afastar-nos de perceber o óbvio: sem preparação ou planeamento, não há milagres.

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