Aquilo que o «Expresso» de sexta-feira passada veio denunciar acerca da famosa «bazuca» usada pelo governo como promessa da nossa salvação não é um mero «segredo» escondido ao eleitorado, mas sim uma enorme mentira, como talvez não se tenha visto desde o tempo em que Sócrates apregoava aquilo que lhe passava pela cabeça e já deveria tê-lo levado ao tribunal onde revelaria de que massa é feito o PS.

Trata-se de uma mentira tão gigantesca que, num país governado decentemente, já teria obrigado o actual governo a demitir-se e o Presidente da República a dissolver o parlamento e convocar eleições no mais curto prazo! Para começar, o eleitorado quer saber se o PR estava ao par da mentira e, portanto, se é cúmplice da operação promovida pelo PM. Se estava, a questão é ainda mais grave; se não estava, passou a estar e não pode continuar a presidir passivamente à mentira como método de governo, conforme temos vivido desde o primeiro dia em que o PS voltou ao poder em 2015. Ficamos à espera, sejam quais forem os resultados das sondagens que o PS já deve ter mandado fazer!

O caso é de tal modo aberrante que os próprios jornalistas do «Expresso» ficaram surpreendidos com este novo golpe governamental como o PS já nos habituou… Esclarecem, todavia, que o governo, dúplice como é, elaborou não um mas sim dois documentos: «um para Bruxelas… e outro para consumo interno». Como era de esperar por parte de quem nos governa, o PS omitiu ao bom povo que grande parte da «bazuca» com que o governo português se propunha banquetear-se, está condicionada – cito – às habituais «reformas estruturais» que Bruxelas exige há anos mas nunca foram cumpridas, daí aliás que o desenvolvimento económico tenha desaparecido de Portugal há 20 anos!

Segundo o «Expresso» e, por mais que Costa e o seu pessoal estrebuche, não há motivo para duvidar que a UE usará um método de controlo «semelhante ao da ‘troika’» e não transferirá os «triliões» prometidos. Aliás, a trapaça é evidente: o governo «transmitiu 1.654 indicadores de metas de marcos a cumprir» mas só deu a conhecer aos portugueses 300: menos de um quinto! Depois de apertado (volto a citar), «o executivo de Costa continua a ocultar os pormenores, deixando de fora muitas das reformas comprometidas em Bruxelas»: aqui é o silêncio obstinado que faz as vezes da habitual mentira.

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Só é pena que o «Expresso» não tenha revelado quais são «os temas de enorme sensibilidade» escondidos até hoje, os quais, segundo o semanário, levantarão no futuro próximo grandes dificuldades à coligação esquerdista que nos tem governado desde 2015, como seria de esperar! Como prémio de consolação, a reportagem termina dizendo que não é só cá que o governo se comporta desta vergonhosa forma anti-democrática. Em Espanha também, como se o governo dos nossos vizinhos fosse modelo para alguém, o qual obteve autorização da UE a fim de adiar para o ano que vem a reforma do sistema de pensões…

Como se questão idêntica – mas até aqui silenciada – não se colocasse em Portugal, onde a maior rubrica do orçamento de Estado são as reformas, pensões e outros subsídios familiares de todo o género e feitio. Com efeito, se o governo tivesse aprendido algo com a pandemia, deviam ser as óbvias relações que existem entre o envelhecimento da população; as reformas, pensões e subsídios; a saúde e a doença; bem como a morte certa dos idosos nos funestos lares! Ora, é seguramente nestes campos interligados que a UE exigirá a Portugal algo de parecido à Espanha, desde a reforma das pensões às da saúde e dos lares. Ao governo, porém, não convém abrir esta caixa de surpresas!

Finalmente, as exigências europeias situam-se, inevitavelmente, na linha da «troika»: ou fazemos as reformas ou não há dinheiro! Terão, pois, consequências negativas para a aliança parlamentar oportunista da «geringonça», a qual prefere manter os corporativismos que têm voltado a dominar o país e cortado pela raiz qualquer veleidade de desenvolvimento social e económico.

Há tempos já, remeti os leitores para um livro antigo mas não ultrapassado, antes pelo contrário, como «Democracy and Complexity: a realist approach» de Danilo Zolo (1992), o qual já então mostrava, a partir da experiência falhada da Itália, as dificuldades cada vez maiores em conciliar e maximizar, por um lado, as exigências democráticas e, por outro, todas as dimensões sócio-económicas, a fim de um país funcionar bem e decentemente, o que não é com certeza o caso de Portugal!

À margem, pergunto o que faz ao lado desta crítica do «Expresso» ao comportamento do governo, um anúncio «feminista» sobre os males do trabalho digital assinado pelo governo português, a União Europeia e… um centro de estudos sociais conhecido pelas suas campanhas de propaganda?