Afinal, a vacina chegou – ou vai chegar – mais cedo do que julgavam muitos cientistas e médicos familiarizados com os problemas levantados pela inesperada pandemia provocada pelo surto da Covid-19 na China e acerca do qual ainda hoje se sabe muito pouco… Muitos países pretendem ter descoberto vacinas para o vírus, mas, como previsível, as duas primeiras anunciadas pelos media provêm de países como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Alemanha, de onde provêm dois dos maiores laboratórios farmacêuticos do mundo, os quais já venderam milhões de futuras vacinas à União Europeia a fim de serem encaminhadas para os países-membros assim que possível.

Trata-se da Astrazeneca e da Pfyzer, que conhecemos das farmácias. A primeira é feita em colaboração com a Universidade de Oxford e a Pfyzer colabora com uma nova empresa alemã, a BioNTechs. Segundo as notícias, esta última vacina deverá ser conservada a uma temperatura inferior a 70º Celsius negativos e já está nas mãos da supervisora norte-americana dos medicamentos a fim de ser certificada o mais depressa possível.

Este curto introito, que pode ser escutado em todos os canais de televisão como um hino salvífico, serve para assinalarmos, por nossa vez, como será complexo e necessariamente prolongado o processo de certificação, transporte, conservação e, finalmente, a aplicação da vacina às diferentes categorias de utentes. Entretanto, a vacina continua a ser a único modo possível de tratar a pandemia antes que esta impeça as tentativas frustradas da Europa para repor a economia em marcha.

As margens de êxito indicadas até agora pelos dois grandes laboratórios variam entre 70 e 95%. Desconhece-se ainda, contudo, quanto tempo durará o efeito das vacinas e se não será necessário repeti-las tantas vezes quantas for preciso. Acresce, que a vacina com mais hipótese de êxito rápido é a da Pfizer, cujas exigências de conservação nos levam a perguntar se Portugal terá condições para isso… Por outras palavras, a tentativa governamental para nos tranquilizar com a pronta vacinação da população corre o risco de demorar muito mais tempo do que se imagina!

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Bastam as enormes dificuldades que tem havido presentemente com a velha vacina contra a gripe para imaginarmos que, entre a chegada de uma vacina como a de Oxford, com uma percentagem de êxito menor do que a da Pfizer, e uma vacinação significativa da população, dificilmente demorará menos de um ano, abrangendo, portanto, em pleno, as eleições previstas para 2021. Ora, qualquer candidato afecto ao actual Governo sabe que, quanto maior for a demora, pior para ele, a começar pelas eleições presidenciais marcadas para daqui a dois meses, altura em que é improvável que o processo de vacinação tenha, sequer, começado. Para não falar das autárquicas lá para o fim do ano.

Isto significa que a pandemia continuará, por ora, a reproduzir-se a níveis tão altos, ou mais, do que neste momento. Os profissionais de saúde estão mais exaustos do que nunca, enquanto os cidadãos assistem, impotentes, à quebra contínua da economia e ao aumento da dívida pública, que já vai em mais de 130% do PIB, bem como às dificuldades crescentes de acesso às outras consultas e cirurgias no SNS. Com efeito, no mês corrente, o número de contágios aumentou à média diária de quase 5200, morrendo, entretanto, 1500 pessoas à média de 65 por dia. Tão preocupante, é o facto de o número de internamentos ser actualmente de 3275 pessoas, das quais mais de 500 em cuidados intensivos. Entretanto, o chamado “excesso de mortalidade” continua a ser mais do dobro dos óbitos atribuídos pela DGS à Covid-19!

Nada disto permite pensar que a situação política evoluirá favoravelmente aos partidos que sustentam o Governo, como também não será fácil para opositores destituídos de estratégias alternativas. A abstenção arrisca-se, pois, a ser a resposta mais frequente do eleitorado, a começar pela eleição do Presidente da República, que o actual mandatário ganhará sem dificuldade, mas terá, possivelmente, menos votos do que teve há cinco anos, apesar do apoio do Primeiro-Ministro e da falta de candidatos susceptíveis de provocarem um segundo turno… Ou seja, num dos momentos mais difíceis da vida do país, o partido governamental abstém-se ou fragmenta-se em débeis apoios a vários candidatos sem “chances”…

O cenário partidário chegou, pois, ao ponto mais baixo da vida política do país, ao mesmo tempo que as perspectivas económicas são as piores dos últimos 40 anos, com uma redução provável do PIB de mais de 10% este ano e poucas esperanças de recuperação significativa no ano que vem. Perante um cenário destes, percebe-se a debilidade das oposições, assim como as trocas à açoreana. Longe de uma solução, o mais provável é o sistema político-partidário continuar a afundar-se, sendo entregue aos demagogos por eleitores aflitos com o que se está a passar.