Após três semanas de «confinamento», torna-se urgente fazer as pessoas voltar ao trabalho pois só em caso de extrema necessidade deve o Estado financiar empresas e negócios sem capacidade financeira para eles aguentarem mais tempo sem vender e sem pagar salários. Já indiquei um modo esquemático para regressar ao trabalho e, concretamente, à economia real. Não tenho competência para dizer quando é que a pandemia vai permitir o regresso. Resta saber quem tem? Os políticos não.

O retorno a um «novo normal» nunca se fará antes de a vacina contra o coronavírus estar à venda no mercado. Mesmo assim, já são de prever transformações importantes que substituirão muitas técnicas e práticas actuais, conforme as actividades profissionais e não profissionais, como a formação educativa por exemplo. Antes de tal processo se iniciar, o que não levará menos de ano e meio, convém que os decisores abandonem a ideia de um retorno automático a uma normalidade que continua a ser concebida como o regresso ao «statu quo ante».

Isso porém não vai acontecer, por mais que os agentes políticos preferissem que tudo ficasse como antes. Como é aqui explicado, se queremos manter a democracia a funcionar minimamente e não apenas ganhar eleições, é preciso que o Estado providencie à economia a liquidez que puder a fim de minimizar as perdas já verificadas mas que não vão ser ultrapassadas com meras injecções monetárias que só aumentarão a dívida. Sobretudo, o Estado tem de se abster da tentação de se substituir às empresas e de as transformar em repartições públicas e reserva eleitoral, como sucede com o PS.

Independentemente do modo como foram conduzidos até aqui a reacção ao vírus e o confinamento das pessoas, a primeira coisa que o governo tem de assumir agora, além de ter em conta as condições sócio-económicas que definiram o perfil epidémico do país, é o facto de a suspensão da vida económica, segundo o economista António Afonso, fazer perder no mínimo 5% do PIB este ano nacional, o que me parece optimista… Só o turismo valia em Portugal 14% do PIB.

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Outra dimensão do anunciado «desconfinamento» remete para algo que mencionei noutra ocasião, a saber, a possibilidade de só levantar a totalidade das normas do «estado de emergência» em determinadas zonas do país de menor densidade populacional, como Trás-os-Montes, a Beira fronteiriça, o Alentejo e os seus concelhos limítrofes no Algarve, bem como os Açores e a Madeira… O abandono da ideia de um «cerco do Porto» poi a prova dos malefícios da baixa política nas tomadas de decisão públicas!

Deixo aos especialistas a definição dessas áreas exactas. O que importa é acelerar o «desconfinamento» de forma gradual a fim de permitir uma gestão diferenciada das áreas mais populosas e industrializadas. Veja-se a título de exemplo o caso inesperado de uma cidade como Setúbal com apenas 43 casos de contaminação, comparados com os milhares do Porto, Lisboa e as suas coroas urbanas. Diria mesmo que o Porto e a sua coroa industrial requerem um «desconfinamento» não só mais lento como, sobretudo, mais rigoroso no sentido de manter os reformados e as crianças em casa, enquanto as pessoas cujas ocupações profissionais requerem a sua urgente presença no lugar de trabalho!

Resta a questão do «regresso às escolas» das quais as crianças e os estudantes foram fisicamente afastados pelo «confinamento» quando eles se encontram entre os menos atingidos pela contaminação e, felizmente, pela morte… Pelo que se se sabe, o governo quer mandar as crianças para as escolas a fim de os pais irem trabalhar (o tele-trabalho não é para todos nem para tudo) mas tem receio, o que se percebe. Aquilo que não tem sentido nenhum, nem nas escolas nem tão pouco nas universidades, são as passagens de ano sem ensino directo e sem exames. Com efeito, a qualidade média do ensino já é demasiado baixa para a fazer baixar ainda mais, mas não é certo que o governo tenha coragem para fazer o que deve.

Com efeito, a política contra o vírus tem sido errática dando constantemente o dito por não dito: primeiro, foi o fecho das escolas; depois, as contradições da DGS acerca dos testes, das máscaras e, agora, de um «pico» que não sabemos se já atingimos ou não; e por fim, a manipulação sistemática dos dados, nunca a DGS explicando em que consistem os 115.000 «suspeitos» nem facultando ao público a percentagens de óbitos por idade e localidade. Mas pior que a política do vírus é o vírus da política, quando um governo envia SMS de propaganda aos particulares e anuncia: «Já há 900 mil portugueses a receber apoios do Estado»! O PS não perde uma ocasião de arrebanhar votos!