Se tiver de eleger dois grandes desafios a que as sociedades atuais têm de responder, a minha escolha será a seguinte:
- Desenvolvimento sustentável nas vertentes ambiental, social e económica;
- Qualidade da democracia.
Há pouco mais de um ano referi, nesta coluna, algumas abordagens que as empresas poderiam seguir de forma a gerir pessoas numa sociedade sustentável. Hoje a qualidade da democracia estará na agenda.
Temos vindo, cada vez mais, a assistir a demonstrações de radicalismo, autoritarismo, falta de tolerância e todos estes indícios nos chegam de sociedades tradicionalmente democráticas.
Além de votantes, e corresponsáveis pelas soluções políticas que nos governam, como podemos nós contribuir para melhorar a qualidade da democracia nas sociedades onde vivemos? Que comportamentos devemos incentivar e em que sedes?
Em primeiro lugar, na família: como educamos os nossos filhos e que valores lhes queremos transmitir? Respeito pela autoridade? Tolerância pela diversidade? Empatia pelos outros?
Em segundo lugar, nas instituições onde trabalhamos: as políticas de recursos humanos devem contribuir para o desenvolvimento de um clima organizacional que aposte na contribuição de todos, que dê voz aos colaboradores, que promova atitudes positivas no relacionamento interpessoal.
Contribuição de todos, ter voz, relacionamento positivo, afiguram-se-me boas sementes para fazer germinar um regime democrático. As experiências que vamos acumulando nos grupos onde nos movimentamos vão ter naturalmente influência na forma como nos vamos comportar em sociedade.
E a que instrumentos pode a gestão de recursos humanos recorrer para fomentar o desenvolvimento de um clima pouco recetivo a práticas de autoritarismo, discriminação, preconceitos e estereótipos sobre o valor e o potencial dos outros? Ficam algumas sugestões.
Desenho dos postos de trabalho com enfoque na valorização do contributo individual: é um instrumento fundamental para promover o desenvolvimento pessoal e profissional, proporcionar uma melhor integração dos indivíduos na sociedade, através de condições remuneratórias adequadas e reforço da autoestima.
Liderança colaborativa: incentivando a contribuição de todos, o debate de ideias, integrando a equipa em torno de propósitos partilhados.
Organização de equipas fomentando a diversidade: de culturas, de género, de idade, integrando elementos que a sociedade tende a marginalizar. O contacto com a diferença, o confronto de pontos de vista enriquece-nos, ensina-nos, contribui para sermos tolerantes com a diferença porque passámos a lidar com ela de perto e, por essa razão, o que era “diferente” passa a ser “familiar”.
Dar prioridade às apreciações positivas: se alguém está atrasado para uma reunião online, é porque “deverá estar a acabar uma tarefa que tem em mãos”, e não porque “está a fazer o enésimo intervalo para tomar café”. Apreciações precipitadas depreciativas, não fomentam o respeito pelos outros.
Não tolerar comportamentos discriminatórios nem qualquer tipo de assédio: a discriminação e o assédio fomentam o medo, o confronto, a desconfiança, a polarização de posições, levam a comportamentos destrutivos e têm na sua base a mais profunda falta de respeito pelo seu semelhante.
Todas estas sugestões têm um denominador comum: respeito pelo contributo de todos e tolerância. Duas boas sementes para que a qualidade da democracia não se deteriore.