Vem este 1 de Dezembro a calhar para falar de seleção nacional. A do mundial que não só de futebol. A que agora se veste de encarnado e verde mas que já foi azul e branca e que tem no seu escudo a cruz de Cristo. Afinal, e se pensarmos bem, ela é em muito uma bela metáfora do país que somos. Que se comove ao ouvir o hino e se orgulha em ser português. Com talentos individuais inegáveis, capazes de ultrapassar os maiores obstáculos se focada num horizonte definido e bem dirigida, que ganha alma quando acredita. E em que grande parte dos principais protagonistas joga (no campo ou na sua vida) fora de Portugal. Mas a quem tantas vezes falta liderança, capacidade de trabalhar em equipa, ambição e estratégia para atingir o tal objectivo comum. E se perde, que não só dentro de quatro linhas. Ou principalmente fora delas.
É um bom exercício para este dia que é de festa pensar sobre quem é hoje a verdadeira seleção portuguesa. Onde está ela espalhada pelo Mundo. Porque é que o país não consegue captar os seus, e tantos dos nossos mais novos, formados nas e pelas nossas academias, transporta depois esse saber e essa energia transformadora para outras paragens. Porque é que a ideia de independência ou de soberania, de bandeira e de rivalidade (saudável, é claro) se esgota num torneio de futebol das arábias. Porque é que este povo, capaz dos maiores actos de pura generosidade, é incapaz de parar para refletir sobre si mesmo. Sobre o que conseguimos quando há rumo, sobre as tácticas e as entradas em campo, os passes certeiros que tornam possíveis as “assistências” que levam aos golos da nossa existência. Porque é que este querer português se esgota cada vez mais no imediato. E continua a procurar ou a esperar, conscientemente ou não, o seu eterno homem providencial. Assim um cruzamento entre Cristiano Ronaldo e D.Sebastião.
Em 1640 a bola era outra. A seleção também. Se melhor, não sei. Portuguesa, sem dúvida. Havia um líder natural, é certo. E uma declarada ameaça externa aos interesses de Portugal. Resta saber se mais forte do que hoje. Ou se antes tão só mais perceptível. O que é certo é que os 40 se multiplicaram, apoiados numa vontade colectiva de decidir o seu futuro e bem capaz de definir as regras do jogo. Não contra o outro, mas porque a nossa praia nunca foi só aqui. E, nem de propósito, já tínhamos sido nós, os portugueses, os primeiros ocidentais a chegar à península da Coreia, a estabelecer-se no território do Gana ou a ter o primeiro contacto com os habitantes do que é o hoje o Uruguai. O que é que isso acrescenta agora? Para alguns,demasiado. Para muitos e cada vez mais, provavelmente nada. E isso do patriotismo e do amor à bandeira é mesmo só para um jogo de futebol.
Extremos à parte, a verdade é que, entre sucessos e erros, não em 90 minutos mas em muitas horas e dias, fomos construindo uma alma que é a nossa. E de que faz parte esse desafio mundial em permanência que só pode ser vencido se potenciarmos o valor individual e colectivo de cada um. Como numa equipa que joga para ganhar, utilizando os seus melhores trunfos, que ajuda a formar para o sucesso do todo, e que não tem tempo a perder nem recursos que não saiba potenciar. Amigáveis ou a doer, que as competições só se ganham com uma preparação que tem em conta as necessidades presentes e futuras, capaz de antever dificuldades e de ir solidificando posições. Que, como tantos treinadores ou decisores sabem, ou deviam saber, uma selecção vencedora e que abre caminho para as que lhe sucedem demora anos (décadas) a construir.
E, já agora, deixem me que volte ao princípio de tudo, país incluído: digam lá se um Portugal-Espanha não tem um gostinho especial? Com uma grande abada. Nossa claro. Sempre.