A “transição” é, hoje, uma palavra muito propagada, que instiga a uma  transformação na sociedade, e muito particularmente na economia, motivada primeiramente por uma guerra pandémica e, posteriormente, por guerras  militares e conflitos de natureza geopolítica e geoestratégica.

Indubitavelmente, estas circunstâncias vieram acelerar duas agendas que se  tornaram um imperativo estratégico: a transição digital e a transição climática. Neste sentido, a indústria automóvel em Portugal, para manter ou até mesmo  incrementar a sua performance, tem de se adaptar de forma célere aos novos desafios.

Não há dúvidas que o setor automóvel está em transição, concretamente para  veículos elétricos e tecnologias mais limpas, estratégia alinhada com a procura  por energias renováveis e redução das emissões de carbono.

Esta transição não se apresenta, contudo, de forma isolada. Vem  acompanhada, por exemplo, de uma forte aposta na inovação tecnológica,  destacando-se, aqui, o avanço da digitalização, a automação, a inteligência  artificial ou a conectividade, aspetos que têm o poder de impulsionar a  indústria, moldando a produção e o design dos veículos.

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Estas grandes alterações estratégicas obrigam, claro está, as empresas a  adaptarem-se às novas tecnologias, às mudanças nas cadeias de fornecimento  e às exigências ambientais e regulatórias, desafios críticos para a indústria  automóvel. Estas transições apresentam, contudo, também, um conjunto de  oportunidades que impulsionam a inovação e o aparecimento de modelos de  mobilidade sustentáveis. E é precisamente nesta mudança de paradigma e nesta evolução que nascem novos negócios e parcerias, cruciais para a  competitividade.

No caso do setor automóvel, podemos afirmar, sem qualquer sombra de  dúvida, que o desenvolvimento desta indústria irá impactar significativamente a  competitividade interna e externa do país, sendo crucial para a economia,  inovação e imagem global. Tendo em conta a magnitude e importância desta transição, é urgente apostar-se em projetos e dossiês que aportem valor  acrescentado a uma real e eficiente transição energética na indústria  automóvel. Que apoiem os gigantes do setor a trabalhar e potenciar o  desenvolvimento de conceitos e produtos inovadores para o Carro do Futuro – e, consequentemente, a Mobilidade do Futuro –, mas que auxiliem, também, as  PME na necessária transformação digital da cadeia de valor, tanto ao nível do  produto como do processo, posicionando as empresas existentes e as startups no futuro da mobilidade.

É urgente trabalhar ao nível do desenvolvimento de novos conceitos e produtos  inovadores, de novos componentes para o automóvel do futuro e,  principalmente, apoiar as mudanças necessárias nos processos produtivos  associados à Indústria 4.0 e ao conceito de Fábrica do Futuro.

É, ainda, prioritário reforçar o processo de transição digital, posicionando as  PME nacionais como líderes nesta transformação e mobilizando-as a dar corpo  a um verdadeiro polo de inovação digital do setor automóvel. Um polo  altamente preparado para as exigências desta transformação, que tenha todas  as ferramentas necessárias para encetar uma mudança estruturada que  passará por testar antes de investir, por qualificar e formar no campo digital,  que apoie na procura de financiamento para investimento, que atue como  facilitador na adoção de novas soluções e que preste apoio a startups para  fomentar o ecossistema de empreendedorismo, através de serviços de  incubação/aceleração.

Os polos de inovação digital têm um impacto significativo na economia  nacional, pois são eles que influenciam os mais diversos setores e impulsionam o crescimento económico, gerando a criação de emprego, estimulando o empreendedorismo, atraindo investimentos e desenvolvendo ecossistemas  tecnológicos. São também eles que impactam as indústrias tradicionais e que  potenciam a competitividade nacional.

“A única constante da vida é a mudança”, disse Heráclito. Hoje, neste mundo  altamente volátil e complexo, onde as disrupções a nível social, económico e  geopolítico são uma evidência, as organizações com capacidade digital  apresentarão maior sustentabilidade e resiliência para enfrentar os desafios.  A transição digital, de resto e à semelhança da transição verde, é um desafio  societal de nível europeu absolutamente prioritário. Faz parte de uma agenda  transformadora europeia. E, por isso, só temos um caminho, que é o de  acompanhar esta tendência e prioridade, não fosse ela a verdadeira locomotiva da competitividade.