O que é amar uma cidade? É como amar alguém. E, quando se ama alguém, deixamo-nos ser amados. Permitimos que alguém se torne íntimo de nós, que viva o que vivemos e que nós vivamos como ela. Ao seu ritmo.

Quando se ama, não impomos. Não dizemos que queremos mais. Mais Lisboa, diz certa campanha. Não. Quando se ama, dizemos que nós damos mais, que queremos dar mais.

Amar é uma revolução. É passar de um estado para outro, repentinamente, sem aviso, sem pensar duas vezes, sem cálculo. Foi dessa forma que Carlos Moedas se apaixonou por Lisboa – quando atravessou a ponte sobre o Tejo a primeira vez que aqui chegou, vindo do Alentejo – e é por continuar a amar a sua cidade que agora quer dar mais, sem cálculos, cometendo erros, mas voltando sempre ao ponto de partida: a Lisboa.

Medina não se apaixonou por Lisboa. Quer que ela lhe dê mais. Mais o quê? Não deu já a cidade mais do que merece o próprio? Esta é uma relação abusiva. Amar Lisboa é querer que Lisboa seja, que respire, que seja livre. Medina tudo sabe e nunca erra, tem sempre razão. Assim não é amar. É bullying. Persegue a cidade quando esta já não o quer. É um stalker.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Das outras campanhas se encarregará Lisboa de as enviar para o oblívio de quem não ama e quer só aparecer, dar nas vistas, abusando da cidade que, na sua infinita bondade, aceita desconhecidos que nunca nada fizeram por ela, assim como acolhe conhecidos – que não de bons feitos – que por ela nunca irão fazer nada.

Quem ama Lisboa, tem que lutar por ela. É um dever, um imperativo. Ser altruísta uma obrigação (não é comigo que vai ficar, mas será feliz). Esqueçam o Rio e o Xicão, só a cidade interessa.

Lisboa é uma mulher: bonita, caprichosa, por vezes injusta, mas sempre, sempre presente. Sempre pronta para se deixar amar. Quem ama Lisboa é-lhe fiel. Costa abandonou-a e Medina fará o mesmo quando dela já não precisar. Quem ama atura os caprichos e aguenta o mau feitio, perdoa as infidelidades.

Amar alguém não é forçar o outro a ser como nós entendemos que deve ser. Amar é ouvir, entender, compreender. É estar. Medina força Lisboa a ser como ele entende que deve ser: não ouve, não entende, não compreende, não perdoa.

Carlos Moedas prova que ama a sua cidade. A nossa cidade. Porque Lisboa é o que é, porque os que nela vivem – os que a amam – são como são: livres, cosmopolitas, de mala feita para retornar. A Lisboa. Foi feliz a lembrança de Moedas, em falar do sentimento que o assolou quando viu a cidade, vindo do Sul, atravessando a nossa ponte, aquela que sobrevoa o Tejo. Ao longo de 57 anos de vida em Lisboa não sei contar as vezes que cheguei a casa vindo do Sul. Mas sei que, em todas elas, sinto uma felicidade interior e digo a quem vem ao meu lado: não há vista mais bonita.

Carlos Moedas oferece e oferece-se à cidade sem cálculos e sem segundas intenções. Sabe que, se ela quiser e deixar, pode-lhe dar o que tem para oferecer.

A campanha Novos Tempos é a linha de apoio à vítima destinada a uma única mulher: aquela que todos nós amamos. Lisboa.