O problema do PSD e do CDS, que é o tema mais relevante das eleições de domingo, não está no resultado, porque entre as europeias de 2014 e as legislativas de 2015, num ano, duplicaram a votação e subiram dez pontos percentuais. O problema está em que ninguém prevê a mesma progressão agora. E ninguém prevê, porque a direita parlamentar comprometeu a sua relação com o eleitorado, com uma estratégia confusa, que a dividiu entre si, pôs o PSD a insistir em acordos com o PS,  o CDS a tentar concorrer com o BE em Arroios, e os dois a votar com os comunistas na Assembleia da República. Na noite de domingo, Rui Rio provou que nada aprendeu nem vai aprender: jurou, conforme manda a praxe, que “só o PSD pode ser alternativa ao PS”, para logo a seguir teimar nos consensos com o PS, para a “reforma da justiça” e a “descentralização” (eufemismos para o controle do Ministério Público e a regionalização). Assim, PSD e CDS arriscam-se a marchar para as legislativas como os perus para o Natal. E nem sequer têm o desculpa dos “populistas”, que noutros países tiram votos à direita. Quanto à abstenção, a outra desculpa de Rui Rio, não é uma desculpa — é antes a culpa.

Porque é que isto deve importar ao país? Porque o país precisa mesmo de uma alternativa, e não apenas porque fique bem a uma democracia ter opções, mas porque a geringonça, depois de quatro anos da melhor conjuntura internacional de sempre, já provou não ter mais nada a oferecer do que o prolongamento indefinido do regime de impostos altos, cativações escondidas e taxas de crescimento medíocres – isto é, daquilo a que antigamente se chamava “austeridade”. As esquerdas, sob a chefia endogâmica dos velhos companheiros de José Sócrates, desistiram há muito de tentar sair deste impasse. Têm uma solução de poder, mas não uma solução para o país. As chamadas “reformas” – isto é, a redução dos constrangimentos e dos custos com que o Estado dissuade a iniciativa dos cidadãos – nunca serão tentadas enquanto a direita for fraca. É verdade, como gosta de lembrar Rio, que as revisões constitucionais de 1982 e de 1989 se fizeram com o PS. Só que não dependeram apenas de um acordo com o PS, mas de uma maioria do PSD e do CDS. Não será diferente agora.

Mas não era a dominação socialista fatal, a partir do momento em que Costa conseguiu apossar-se do governo a seguir à “saída limpa”, pronto para aproveitar as políticas do BCE e as mudanças de conjuntura? Parece que foi essa a ideia de muita gente no PSD. Por isso, aqueles que escolheram Rui Rio foram talvez menos decisivos do que os que o deixaram ganhar, convencidos de que as eleições de 2019 estavam perdidas e que o mais inteligente era esperar. Foi um erro, porque Rio ameaça tornar as derrotas mais graves do que era necessário. O PS, com 33,4%, obteve mais 1,9 pontos percentuais do que em 2014: pareceu uma grande vitória apenas porque o PSD registou a sua pior percentagem de todos os tempos (21,9%). Em 1994, Cavaco Silva perdeu as europeias com um resultado (34,3%) melhor do que o de Costa este ano. Quanto ao BE e ao PCP, não fizeram mais do que trocar outra vez de posições entre si, sem aumentar a soma dos seus votos. O BE, com 9,8%, ficou abaixo do nível de 2009 (10,72%), quando elegeu três deputados. O PAN, com que a imprensa decidiu entusiasmar-se e a geringonça já parece contar, reuniu 168 mil votos. Mas Marinho Pinto, em 2014, arranjou 234 mil, sem precisar dos cães e dos gatos. A geringonça está no poder, organizou clientelas, faz cálculos sobre a futura maioria parlamentar: mas a sua fortaleza não tem aspecto de ser inexpugnável. Nada deveria ser fatal em Outubro, não fosse a direita que temos. No fim, António Costa vai ficar a dever muito a Rui Rio.

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