Um dia após festejarmos o aniversário de uma das datas mais importantes da nossa história, convido o leitor a recordar outro período heróico em que os portugueses também demonstraram coragem e tenacidade. Trata-se da época dos Descobrimentos, que é agora reeditada. Tal como no século XV, em que nos lançámos ao mar e tudo era novidade – olha uma terra nova!, que bonitos panos veste aquela nativa!, este indígena tem bom corpinho para as obras! – também hoje damos por nós a descobrir prodígios que antes não sonhávamos existirem. Recentemente, deram-se duas descobertas espantosas, ao nível do achamento do Brasil: a de que o PCP não é flor que se cheire e a de que José Sócrates é um aldrabão. Quem diria? Dessas não estávamos à espera.
O choque de quem percebe finalmente que os comunistas apreciam ditaduras deve ser igual ao de quem desembarca na Baía e vê um tamanduá pela primeira vez. Quer dizer, não deve se bem igual: há-de ser mais parecido com o choque de quem percebe pela primeira vez que o animal que toda a vida julgava ser uma ovelha é, afinal, um tamanduá. É mais isso. Parecia fofinho, vai-se a ver e é grotesco. Depois de anos a acharem que os comunistas eram democratas, apenas de uma espécie que sorri menos, os portugueses vêem finalmente a realidade: os comunistas são tamanduás.
A outra descoberta não é menos fascinante. Trata-se da divulgação de que José Sócrates é um aldrabão. Foi António Costa que o disse. Segundo contou a Joaquim Vieira, biógrafo de Mário Soares, António Costa percebeu, logo em Novembro de 2014, que Sócrates era um trafulhas. O resto dos portugueses teve de esperar quase 8 anos para ouvir esta revelação da boca de um dirigente do PS. Quer dizer, na realidade, é uma espécie de segredo de Polichinelo. Já toda a gente sabia. Quem não sabia, pelo menos pressentia. Nem que fosse quando consultava o extracto bancário e pensava que deveria haver ali mais pcpdinheiro.
No fundo, tal como a descoberta do Brasil, estas descobertas também não são bem descobertas. Pelo menos, não são daquelas em que é preciso fazer spoiler alert antes de revelar. Da mesma maneira que D. Manuel já sabia que haveria um pedaço de terra algures no Atlântico Sul, mas deu jeito fingir que não, para se certificar que, quando a descobrisse, fosse na parte portuguesa do Tratado de Tordesilhas, também deu jeito a António Costa que os portugueses não descobrissem logo que os comunistas são anti-democratas e que José Sócrates é um impostor.
Agora que já não precisa da geringonça e que já passou tempo suficiente para os portugueses se esquecerem de que chegou a ser o número 2 de Sócrates, Costa pode enfim admitir as descobertas.
António Costa diz que desconfiou quando chegou à prisão de Évora para visitar Sócrates e também lá estava Mário Soares, que monopolizou a conversa, evitando que Costa e Sócrates pudessem falar cara-a-cara. De facto, é de desconfiar de uma conversa em que não é Sócrates quem fala mais. É como quando uma criança está sossegada: sinal que fez asneira. Costa esteve bem ao suspeitar.
Resta agora encontrar o bardo que narre esta nova gesta. Desta feita, dado o carácter peculiar destas descobertas modernas, talvez faça mais sentido que, em vez de um zarolho, a epopeia seja cantada mesmo por um cego comprovado. O nome do poema é para manter, apenas com uma ligeira adaptação: Os Lusíadahahahs.