As ditaduras de Alexandre Lukachenko e de Vladimir Putin parecem estar para durar, mas a experiência histórica mostra que não há nada eterno, até mesmo os regimes que vivem do determinismo marxista-leninista ou prometem “impérios milenares”.

Na Bielorrússia, um tribunal condenou, no dia 14 de Dezembro, Serguei Tikhanovskii, um dos líderes da oposição bielorrussa, a 18 anos de prisão numa cadeia de alta segurança, bem como mais quatro opositores que trabalhavam com ele a penas que vão dos 14 aos 16 anos em locais semelhantes.

Tikhanovskii foi detido quando fazia campanha eleitoral a favor da esposa, Svetlana Tikhanovskaia, que se candidatara ao cargo de Presidente da Bielorrússia por o marido ter sido impedido de o fazer. Serguei não pôde apresentar os documentos necessários porque foi posto em prisão preventiva durante a inscrição dos candidatos.

As acusações foram as usuais na Bielorrússia e Rússia: “organização de desordens em massa”, “atiçamento de inimizade pessoal”, “dificultação do trabalho da Comissão Eleitoral Central”.

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Além destes opositores, há centenas de actvistas, que participaram nos protestos contra a falsificação das eleições presidenciais em Agosto do ano passado, nas prisões bielorrussas que nem sequer foram julgados.

Na Rússia a situação é muito idêntica, podendo-se concluir que, em ambos os casos, a oposição política foi, pelo menos temporariamente, neutralizada.

Mas gostaria de lembrar um acontecimento político que teve lugar há 40 anos atrás. No dia 13 de Dezembro de 1981, o general Wojciech Jaruzelski impôs o estado de sítio na Polónia, proibiu as actividades da oposição, principalmente dos sindicatos “Solidariedade”, matou dezenas de pessoas e cerca de 10 mil foram encarceradas.

Nessa altura, as tropas soviéticas não invadiram a Polónia pois já estavam envolvidas no Afeganistão e Moscovo encarregou os comunistas polacos da solução do problema.

Mas, como se costuma dizer: pode-se combater com baionetas, mas é impossível sentar-se nelas. Oito anos depois, o regime comunista na Polónia ruiu rápida e estrondosamente.

A história está cheia de casos como estes, mas alguns teimam em não prestar atenção, considerando que isso não lhes diz respeito. No caso de Putin e Lukachenko, é preciso lembrar-lhes também que, há precisamente 30 anos, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se desintegrou. Muito poucos eram os que esperavam que uma superpotência colapsasse tão rapidamente, mas aconteceu, e não foi por acção da CIA norte-americana ou da Mossad israelita. Colapsou porque era um gigante com pés de barro, sem uma economia capaz de sustentar as aventuras militares em numerosas regiões do globo.

A história pode repetir-se caso, por exemplo, Putin invada a Ucrânia. As tropas russas não serão recebidas com flores, beijos e abraços se decidirem marchar até Kiev ou até às fronteiras entre a Ucrânia e a Polónia. Não digo que as tropas ucranianas estão em condições de derrotar as russas, mas o avanço destas últimas terá de enfrentar não só os militares ucranianos, mas também a resistência da esmagadora maioria da população ucraniana. Vladimir Putin transformou a Ucrânia no seu principal inimigo ao ocupar parte do território desta e ao limitar a sua soberania.

Nesta nova “guerra fria” entre o Ocidente e a Rússia, a luta ideológica é de primordial importância, sem, por exemplo, nunca confundir o país e os seus povos com o “czar”. Daí ser importante continuar a manter as portas abertas para aqueles que querem vir visitar, trabalhar ou viver nos países da União Europeia.

É necessário lembrar que foram também os muitos erros cometidos pelo Ocidente face à Rússia nos anos de 1980 e 1990 que contribuíram para Vladimir Putin entrar no Kremlin. Por exemplo, é perigoso humilhar e desprezar os vencidos. No lugar de criarem um Plano Marshall para apoiar a transição dos países da URSS para a economia de mercado, a UE e os Estados Unidos deixaram avançar o capitalismo selvagem que neles se instalou, oligarquias corruptas que se aproveitaram da situação para pilharem as riquezas nacionais num processo de privatização completamente opaco.

Os resultados estão à vista e devem ser levados em conta na reformulação das relações entre os países da UE e a Rússia num momento em que se fala mais de confrontos e guerras do que de diálogo e paz.