Ano Novo, vida nova… ou talvez não! Há mais de uma década – em concreto desde 2011 – que os dias que os portugueses têm, em média que trabalhar, tem vindo a aumentar, apesar dos senhores da troika terem deixado de intervir nos destinos de Portugal, em maio de 2014. Em 2015 passou de 157 para 163 dias, em 2016 passou para 166 dias, e desde então tem oscilado entre os 160 e os 163 dias.
A remuneração do trabalho dos portugueses é das mais baixas da Europa e em contrapartida, a carga fiscal sobre o trabalho mantém-se há três anos consecutivos entre as dez mais pesadas da OCDE. Para fazer estas contas não é preciso um doutoramento em matemática: os portugueses ganham menos que a grande maioria dos cidadãos europeus e pagam muitíssimo mais de impostos o que, em traços gerais, pode ser traduzido nas enormes dificuldades financeiras que as famílias atravessam.
Se dúvidas houvesse, o nevoeiro da inflação que disfarçava a tendência da quebra do consumo em volume, está a dissipar-se, pondo em evidência alguns dos alertas que temos a sinalizar. Pagamos mais caro e consumimos menos, expondo a dolorosa verdade: a quebra no consumo das famílias é maior do que no tempo da troika. Vamos a casos práticos: o Cabaz de Natal aumentou mais de 10% relativamente a 2022. Só o azeite, um bem de primeira necessidade para os portugueses subiu de preço 70% e converteu-se numa extravagância para as famílias (Preço do azeite aumenta quase 70% em 2023 – Observador).
Se a isto juntarmos o aumento dos impostos indirectos, acrescidos da falência do estado social, do défice da educação – quer por parte do desempenho e estímulo dos alunos, quer pela ausência de professores, retrocedemos na História e voltamos ao sonho da emigração. Que futuro vamos dar aos nossos filhos? Quantos pais de jovens universitários não desejam que os seus filhos embarquem na aventura do Erasmus e trabalhem lá fora? E quantos pais de jovens já formados, desejam que os seus filhos se tornem independentes?
O famoso Orçamento d0 Estado (tema que em tempos levou à queda de uma geringonça), foi debatido e analisado na especialidade atingindo um record de 1.864 propostas de alteração e será aplicado nos primeiros meses de 2024. Mas ainda assim não se vislumbram incentivos sérios à economia, às empresas, à criação de riqueza para que possa gerar crescimento de rendimento disponível para os trabalhadores. Neste momento não existem geringonças nem governos para cair, temos eleições agendadas para o dia 10 de março de 2024 e o que dita o OE2024 na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, vai moldar as nossas vidas.
O IAS – Indexante dos Apoios Sociais cresce para €509, 26 e consequentemente complementos e subsídios, aumentam (Valor do Indexante dos Apoios Sociais aumenta para 509,26 euros a partir de janeiro – Observador). Continua-se a senda do incentivo da subsidiodependência, esquecendo-se que o subsídio para uns, é imposto para outros. “Quem cabritos vende, e cabras não tem, de algum lado vem”. Vem do bolso de todos nós, os pagadores de impostos!
Mas o derradeiro presente de Natal que o Governo colocou no sapatinho de todos os trabalhadores é caricato (Portaria n.º 414/2023 de 7 de dezembro): a idade normal de acesso à reforma no regime da Segurança Social, sobe em 2025 para 66 anos e 7 meses (contra os 66 anos e 4 meses em 2024). Se esta nossa Segurança Social continuar, nos próximos anos, a demonstrar a sua enorme sapiência, creio que em 2030, talvez aos 70 anos os portugueses já possam abdicar do trabalho e viver o resto das suas vidas sem obrigações profissionais.
E quanto a votos, conhecemos o nosso País, é esperar pelo dia 10 de março, perceber se está sol ou se estaremos a ser alvo de uma tempestade na qual a Proteção Civil recomenda que evitemos sair à rua, e se é desta que os portugueses quebram a tendência crescente e preocupante que é abstenção.