Não, este Costelo não é o brilhante Elvis Costello, um dos grandes músicos e cantores da sua geração (The Juliet Letters é um dos melhores discos de rock de sempre). O Costelo deste artigo refere-se à aliança política entre Costa e Marcelo. É a coligação que domina a política nacional desde 2015. Não acabará até um deles sair, ou ambos. O destino político dos dois está intimamente ligado.

O Costelo emergiu na vida política portuguesa em 2015, quando Costa e Marcelo tinham um adversário comum: Passos Coelho. Para Costa, Passos era o político que o havia derrotado nas eleições de 2015 contra todas as previsões. Para Marcelo, Passos Coelho era o líder do PSD que não o queria como candidato a Belém. Uma derrota e uma afronta são coisas que Costa e Marcelo não perdoam.

Além disso, depois de anos de austeridade e de sacrifícios, e com a economia de novo a crescer, era popular atacar os anos da “troika” e, portanto, o governo liderado por Passos Coelho. Marcelo e Costa aproveitaram também para atacar Cavaco Silva, o “aliado austero” do também “austero” Passos. Os portugueses precisavam de esquecer a austeridade dos últimos anos e de levar uma vida mais alegre e ligeira, e foi isso que os “populares” (e populistas) Marcelo e Costa lhes deram. As serenatas à chuva, as danças em público, a fotografias semi-vestidos nas praias do Sul, os selfies sem fim do Presidente, a recepção à seleção portuguesa de futebol campeã da Europa, tudo serviu para alegrar o povo e aumentar a popularidade dos senhores de São Bento e de Belém.  Portugal era finalmente um país feliz e os portugueses andavam contentes.

Pelo meio, Portugal enfrentou momentos difíceis, e desafiadores para Costa e para Marcelo. Os incêndios, alguns trágicos, a pandemia, os problemas no SNS, e agora a inflação causada pela guerra. Mas esses desafios cimentaram a aliança entre Costa e Marcelo. O Costelo saiu fortalecido de todos estes problemas, mesmo que o país possa sair enfraquecido.

Se a aliança entre os dois começou por ser uma coligação negativa, anti-Passos Coelho, tornou-se depois uma coligação positiva. Costelo também é o bloco central que governa Portugal desde 2015. Primeiro, foi o elemento moderador da geringonça entre o PS e as esquerdas radicais. Mas depois foi o veículo para as maiorias absolutas de Marcelo e de Costa, com um ano de diferença.

Nas eleições presidenciais de Janeiro de 2021, Marcelo foi o símbolo do bloco central contra os radicalismos de André Ventura e de Ana Gomes. Por isso, foi apoiado pelo outro lado do bloco central, António Costa. Nas eleições legislativas um ano mais tarde (em Janeiro de 2022), Marcelo retribuiu o apoio a Costa ajudando-o a livrar-se dos radicais do Bloco e do PCP. A vitória presidencial de Marcelo e a maioria absoluta de Costa reforçaram o bloco central entre os dois, o Costelo. Venceram as respectivas eleições com votos de milhões dos mesmos eleitores. De certo modo, os eleitores pediram para o Costelo se manter no poder dando as vitórias a Costa e a Marcelo. E até ao fim dos respectivos mandatos, o Costelo continuará a ser a maior figura da política portuguesa.

Mas há uma ironia interessante na figura política do Costelo: os seus maiores adversários estão no PS e no PSD. O primeiro a perceber foi Pedro Nuno Santos. Por isso, apoiou Ana Gomes nas presidenciais, contra o líder do seu partido, e continuará a combater o bloco central entre Marcelo e Costa. Usará esse combate para conquistar a liderança do PS no pós-Costa. Rui Rio nunca percebeu que seria a maior vítima da emergência do Costelo.

Mas Luís Montenegro sabe muito bem o risco que corre. O Costelo é como um eucalipto que seca os líderes do PSD e os que querem chegar à liderança do PS à boleia de Costa. Quem não souber resistir ao Costelo não terá futuro político, sobretudo no PSD. Montenegro só poderá chegar a PM se lutar contra o bloco central, chamado Costelo. Alguns no PSD vão dizer-lhe que será um suicídio político. Não é. Pelo contrário, é a única hipótese de sucesso político.

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