No turbilhão da última década, a educação em todo o mundo sofreu uma profunda mudança. A sala de aula tradicional, tão conhecida pelos quadros de giz, pelas projeções em acetato e pelas resmas de papel, deu lugar a uma realidade cada vez mais digital e dinâmica. As aulas foram invadidas por quadros interativos, tablets e computadores portáteis e as comunicações com os professores passaram a ser feitas de forma cada vez mais conectada e online. A pandemia da COVID-19 surgiu como um catalisador adicional, acelerando a integração da tecnologia na educação e remodelando a própria essência da forma como ensinamos e aprendemos. As palavras “Google Classroom” e “Microsoft Teams” passaram a fazer parte do dia-a-dia para facilitar a colaboração entre alunos e professores e para criar ambientes mais interativos e personalizados.

Em Portugal, como em muitas partes do mundo, vemos como esta evolução, em conjunto com outros fatores, tem levado a avanços positivos. As taxas de abandono escolar registaram um declínio, o que indica um progresso no domínio da acessibilidade e da inclusão. A taxa de desistência no ensino secundário atingiu o seu valor mais baixo na última década, 8,3%, estando também abaixo da média europeia (10%) (apesar de esta queda se dever principalmente à implementação do ensino obrigatório até ao 12º ano em 2012).

No entanto, por detrás deste sucesso está a pressão de uma realidade urgente. A pandemia, ao mesmo tempo que empurrou a educação para o mundo digital, revelou uma lacuna entre os métodos de ensino tradicionais e as exigências do mercado de trabalho contemporâneo, no qual praticamente não existem empregos onde não sejam necessárias, pelo menos, competências digitais elementares. Assim, especialmente em sectores com elevada procura, como as TIC, vemos como o panorama educativo teve dificuldade em acompanhar o ritmo acelerado dos avanços tecnológicos, deixando um vazio de talentos qualificados.

Ainda assim, no meio destes desafios, surgiram alguns sinais de mudança nos últimos anos. Apareceram os bootcamps intensivos centrados em munir os alunos de competências altamente procuradas no mercado de trabalho (ex: programação, análise de dados, UX/UI design e cibersegurança), e metodologias inovadoras focadas em estimular a aprendizagem e colmatar o fosso entre o ensino e as necessidades da indústria. Estas alternativas oferecem um equilíbrio entre a aprendizagem teórica e as competências práticas, focando apenas no essencial com aplicação no mundo real. Representam mesmo uma mudança de paradigma, preparando os alunos não só para testes em que têm de decorar enormes quantidades de informação, mas sim para as verdadeiras exigências do mercado de trabalho.

No entanto, uma evolução grande continua a ser necessária, sobretudo que impacte o sistema educativo como um todo e transforme o ensino nas escolas tradicionais. Olhando para o futuro, a tecnologia vai estar cada vez mais presente e é preciso preparar-nos. O caminho parece estar a ser pavimentado com uma mistura de talento humano e inteligência artificial que vem trazer novas cartas para cima da mesa. Como tal, as previsões apontam para um futuro em que a IA se integra no panorama educativo, contudo há ainda um longo caminho a percorrer, sendo que o educador tem um papel fundamental nesta transição, uma vez que para utilizar estas ferramentas de IA é necessária alguma criatividade, não só na parte da execução, mas essencialmente na parte da preparação. Espera-se que estes instrumentos revolucionem a aprendizagem personalizada, respondendo às necessidades individuais dos alunos e garantindo uma experiência educativa mais adaptada.

Assim, neste cenário de mudanças e possibilidades, o desafio consiste em adotar a inovação como uma constante. O futuro da educação em Portugal, e mesmo no mundo, depende da nossa capacidade de adaptação, inovação e integração da tecnologia no processo de aprendizagem. Para que isto aconteça, não nos podemos esquecer que também será necessário formar os professores e oferecer-lhes mais recursos. Ao criar uma geração dotada não só de conhecimentos teóricos, mas também de competências práticas e tecnológicas, podemos colmatar o fosso entre a educação e as exigências do mercado de trabalho, assegurando uma força de trabalho que não esteja apenas preparada, mas verdadeiramente pronta para o futuro. O estado, os professores, as escolas, os alunos e até mesmo os encarregados de educação têm de se unir para que esta mudança aconteça de forma efetiva. Seremos capazes de estar todos do mesmo lado para uma mudança em prol de melhores resultados? Bom, parece que este poderá já ser um tema para discutir noutro dia.

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