Toda a gente sabe que a mania da coerência é mais um mito do que uma realidade e ainda bem. Seria bem pior se as pessoas, em nome de uma coerência ideológica, nunca emendassem os erros. Desde que os reconheçam e, já agora, que expliquem por que razão mudaram de opinião. O que não vale é dar o dito por não dito e pretender esconder que se mudou de ideias. No limite, isso chama-se mentir. Foi o que fizeram o primeiro-ministro e os líderes do CDS e do PSD. O primeiro-ministro fê-lo com óbvias intenções eleitoralistas e os líderes da presumida oposição à «geringonça» não confessaram que mudaram de ideias mas fizeram o mesmo cálculo eleitoral.

Estou a referir-me, como é óbvio, ao falso alarme da demissão do governo caso as proclamadas «esquerda» (PCP+BE) e «direita» (PSD+CDS) se juntassem para aplicar ao PS o golpe da «coligação negativa», muito usado na vida partidária portuguesa. Pelas minhas contas, seria a quarta vez, o que se percebe num sistema partidário fechado a sete chaves em que apenas dois partidos estão autorizados a chefiar o governo. O governo PS seria então indirectamente derrubado por essa «coligação negativa» a pouco mais de duas semanas das eleições europeias e a escassos meses das legislativas. Não gozem connosco!

O que aconteceu foi uma série de tacticismos eleitorais consecutivos da parte dos cinco partidos da cena parlamentar portuguesa a propósito do badalado drama nacional das reivindicações dos professores do primário e do secundário, que estão, segundo os dados internacionais, entre os funcionários mais bens pagos do país. Ao de cimo, acabou por vir, como era expectável, esse «centro» que o PS conseguiu personificar com a ajuda da armadilha em que o PCP+BE tinham conseguiram fazer cair o PSD+CDS ao prometerem em conjunto à CGTP uma recuperação salarial que ninguém tinha tido fora da Madeira (PSD) e dos Açores (PCP), cujos funcionários constituem uma grande parte dos eleitores…

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