Poderia reunir aqui variadíssimas histórias de clientes meus que vivenciaram e, alguns deles ainda enfrentam, as consequências de trabalharem em empresas e com chefias que não conseguem (ou não sabem) lidar de forma eficaz com os colaboradores a quem sobrecarregam, controlam, ignoram e limitam, alegadamente para o bem deles e do negócio que gerem. Poderia aqui hoje optar por contribuir para a literacia em saúde psicológica desses e dos demais trabalhadores, falando da importância de estes desenvolverem estratégias de gestão do stresse, de ampliarem as suas competências de planeamento e de organização pessoal, de gestão de conflitos e de comunicação assertiva e do impacto positivo da adopção de comportamentos promotores de estilos de vida mais saudáveis, como o ter uma alimentação mais equilibrada, praticar exercício físico regularmente e o assegurar o número de horas de sono adequado. Tudo isto é absolutamente essencial para promover a saúde mental e psicológica – factor protector da resiliência individual necessária para lidar com os estímulos e obstáculos do dia-a-dia de trabalho e da vida no seu global. Mas prefiro dedicar-me hoje ao outro lado do binómio da produtividade das empresas: as práticas organizacionais de promoção de locais de trabalho saudáveis.
A ciência psicológica já demonstrou há muito a relação entre exigências laborais, a organização do trabalho e seu conteúdo, as relações sociais e liderança, a interface trabalho-indivíduo, os valores no local de trabalho, a personalidade, o bem-estar e os comportamentos nas organizações e o desenvolvimento de problemas de saúde psicológica com origem no trabalho como o stresse, a ansiedade e o burnout. Os denominados riscos psicossociais, de que padecem inúmeras organizações, são responsáveis por perdas de produtividade com custos que ascendem a milhares de milhões de euros em cada ano e, sabe-se lá como ou porquê, continuam a ser ignorados quando a sua prevenção e gestão poderia equilibrar as demonstrações financeiras de muitas empresas se a poupança de sofrimento humano não for argumento suficiente.
O impacto económico e financeiro do absentismo e presentismo laboral por perdas de competitividade pode e deve ser considerado e a aposta na implementação de programas de intervenção psicológica custo-eficazes uma prioridade. É só fazer as contas, já que se fazem tantas e tantas outras que parecem não contemplar nos Excels o factor humano e suas condicionantes no desempenho das organizações, ainda que se sustente calorosamente o como as pessoas são o capital mais relevante mas ainda a aguardar o devido lugar no activo do balanço das empresas.
Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicoterapia e Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira