Eu reflicto (O Presente do Indicativo possível). É como aquelas músicas que não nos saem do ouvido. Não consigo deixar de reflectir sobre donde vêm estas almas que nos governam. É difícil e, acreditava eu, tecnicamente impossível reunir um tal conjunto de incompetentes e irresponsáveis (em geral uma coisa implica a outra mas no caso concreto elas exponenciam-se). Nunca, e neste nunca estou a incluir o desnorte da corte portuguesa aquando da invasão francesa liderada por Junot e a incompetência que levou ao chamado desastre de La Lys, nunca, repito, Portugal em momentos de grande exigência esteve entregue a uma tal agremiação de despreparados. Mas eis que neste dia de reflexão, que já não vou afectar às presidenciais porque votei no passado Domingo, cheguei a uma conclusão: a Temido, a Van Dunem, o “Tiago diz que da Educação”, o senhor das vacinas (não é o senhor da troca das compotas nas escadas é mesmo o coordenador Francisco Ramos que, após o falhanço da vacinação contra a gripe sazonal – o primeiro em décadas –, resolveu acusar as farmácias), a dra. Graça, que dizia que o vírus não ia chegar a Portugal, a ministra da Agricultura, que achava que o Covid até teria consequências positivas para as exportações portuguesas, o inenarrável ministro Cabrita, que a cada tragédia grita “está tudo bem” e a cada falhanço declara “sucesso”, toda esta plêiade foi seleccionada não pela sua competência mas sim pela sua capacidade em não assumir responsabilidade alguma.

Imagine-se que um dos membros do Governo ou dessa administração opaca que anda atrás de António Costa desde que este se tornou PM tinha um rebate de consciência e que, algures no meio dos incêndios de 2017, do populismo das medidas tomadas em 2019, ou do desastre absoluto no enfrentar da pandemia declarava: “Falhei”?! Pois é, não podia nem pode ser. Afinal se um, apenas um, assumisse que tinha falhado também os outros seriam postos em causa. O governo de António Costa não é irresponsável por acaso. É, como agora soe dizer-se, sistemicamente irresponsável. Não podia nem pode ser doutro modo.

Reflectindo (O Gerúndio faz muita falta). Aquilo a que chamamos variante britânica tem alguma coisa a ver com o vírus que não se pode chamar chinês? E a variante sul-africana é uma variante da variante brasileira que por sua vez variou a partir de quê?

Reflecti-lo-ei (Futuro pronominal garantido). Só o enredo inerente a uma conjugação pronominal consegue dar conta do estado do meu cérebro quando a mim mesma me pergunto: a que se aferra o procurador José Guerra para não se demitir ou não ser aconselhado a fazê-lo? Não consigo deixar de reflectir nisto. Quero mas não consigo. É como uma moinha num dente. Quero pensar noutra coisa e pronto lá vem a pergunta: a que se aferra o procurador José Guerra para não se demitir ou não ser aconselhado a fazê-lo? Que reflexo se reflecte quando o procurador José Guerra se olha ao espelho?… Isto tem de acabar. Só não sei como.

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Reflectir (Infinitivo impessoal para passar nos polígrafos). Biden já fechou Guantanamo? Sim, o campo de Guantanamo que Obama ia fechar em menos de cem dias mal chegasse à Casa Branca em Janeiro de 2009 e que continuava a funcionar em 2017 quando Obama deixou a Casa Branca? Exactamente esse.

O campo de Guantanamo, esse espinho cravado na ética mundial enquanto a Casa Branca esteve Bush, caiu de tal forma no esquecimento que, em 2019, Trump foi criticado por ter considerado uma loucura os custos de manutenção de Guantanamo e declarado que procurava alternativas ao campo. Estou em crer que Biden já fechou Guantanamo. Eu é que não dei por isso.

Reflectia (Pretérito imperfeito para uma acção inacabada).Eutanásia aprovada em comissão. Votação final na próxima semana. Diploma que despenaliza a morte medicamente assistida foi aprovado na especialidade pelo PS, BE e PAN. CDS e PCP votaram contra. PSD absteve-se.” Nos mesmos dias em que Portugal regista números dramáticos de mortes por Covid e sobretudo por doenças não tratadas por causa do Covid, os deputados resolvem legalizar a eutanásia. Os portugueses agonizam em filas dentro de ambulâncias e eles tratam do que chamam “morte medicamente assistida”. Adiam-se tratamentos oncológicos e quem nos representa acha que a eutanásia é um assunto para ser decidido numa votação na especialidade por uma comissão. Um dia vão chamar a isto alienação criminosa.

Reflicta. (É Imperativo mesmo). Não se entende como ninguém até agora exigiu a requisição civil da CP. Os comboios a oscilar entre o apinhado e o cheio são um mistério a vários títulos: em primeiro lugar porque são espaços livre de Covid. Em Portugal apanha-se Covid a comprar botões no postigo duma retrosaria mas não se apanha Covid nos comboios cheios da linha de Sintra. Mistério segundo e igualmente insondável é que ninguém tenha proposto a requisição civil da CP para que ela integre o esforço de combate ao Covid aumentando por exemplo a oferta de carruagens. Dirão que a CP não pode ser requisitada porque não é privada. Pois é isso mesmo, em Portugal o que depende de Estado é um mundo à parte, de rendimentos garantidos e serviços variáveis.

Reflecti (Pretério Perfeito da arte de enganar quem quer ser enganado). O plano do Costa e Silva. Onde anda? Onde pára? O plano e Costa e Silva ele mesmo, mais os poemas, as citações e os milhões para isto e para aquilo? Tenho saudades do Plano Costa e Silva pela mesma razão que não descansarei enquanto não voltar a sentar-me num circo para seguir enlevada o número do tirar coelhos da cartola perante o “Respeitável público”.

Reflectira (Pretérito-mais-que-perfeito para um futuro de miséria). Recibos verdes: “Cálculo de ajudas à redução da atividade é feito com base nos últimos 12 meses, mas, para muitos, a faturação foi zero. Maioria só vai ter direito ao montante mínimo de 219 euros.” Tal como aconteceu com os restaurantes, o Governo concilia o melhor de dois mundos: anuncia milhões para apoios a fundo perdido, verbas imediatas, linhas para isto e para aquilo. É um mundo pretérito-mais-que-perfeito que se desfaz quando se tentar aceder ao muito que foi anunciado: ou não se reúnem os requisitos para aceder aos apoios ou descobre-se que a forma de cálculo é um logro. Perante o desespero subjacente a isto só é de admirar que as sondagens não apresentem  uns expressivos 100 por cento de apoio ao Governo: os pobres nunca se podem revoltar contra quem gere a caixa das esmolas, pois não?

Reflectiria (O Condicional da questão). O fecho das escolas seguido da proibição de aulas à distância é um marco no nosso regime de confino-socialismo. Como sempre acontece nos regimes socialistas, em nome da igualdade impõem-se os maiores absurdos, as maiores desigualdades e sobretudo mascaram-se os falhanços de quem governa. Neste caso a proibição das aulas à distância visa iludir o falhanço do ministério da Educação na preparação das escolas públicas para a eventualidade de um novo confinamento: não há computadores, não há estrutura, não houve capacidade. Só propaganda.

Reflictisse eu (Conjuntivo para um mundo em suspenso). O modo conjuntivo tem disto. São ses e ques por todo o lado: se eu reflectisse, se tu reflectisses… Mas é por isso mesmo que o modo conjuntivo se tornou o nosso modo de vida. Por exemplo, se nós reflectíssemos perguntaríamos: onde estão os constitucionalistas portugueses? Como é possível que ao abrigo de legislação para combater um vírus se proíbem as escolas privadas e também as públicas que o quisessem fazer de dar aulas à distância? Ou se intervém no preço das botijas de gás? Nas quotas de música portuguesa nas rádios?… O vírus vai tornar-se endémico. O autoritarismo socialista já o é.

Reflectido (Particípio passado da nossa vergonha). Pelo menos 1.259 idosos que não tinham para onde ir foram colocados em lares desde o início da pandemia e até meados de dezembro”. Os velhos são os judeus do século XXI.