Começou esta semana a nova legislatura, com as tomadas de posse dos deputados e dos membros do governo. Nos próximos quatro anos e meio (uma eternidade), serão estes os protagonistas que definirão o estado da nação. É caso para fazer soar os alarmes: o PS tem maioria absoluta e reforçará até 2026 a sua hegemonia, o governo foi construído para dar futuro ao partido socialista (em vez de ao país), não existe oposição organizada à esquerda (desfeita em frangalhos) ou à direita (perdida no seu labirinto). Marcelo pode lançar avisos, mas a realidade não se alterará: António Costa manda nisto tudo — como, provavelmente, ninguém mandava desde Cavaco Silva.

O que esperar do parlamento para os próximos quatro anos e meio? Pouco. As intervenções desta semana anunciam-no — reina um vazio de ideias que é preenchido por uma hostilidade declarada ao Chega, que André Ventura agradece, pois fará dele o protagonista maior da vida parlamentar. De resto, não há memória de bancadas parlamentares tão fracas. À esquerda, BE e PCP perderam muitos dos seus melhores representantes. O PS, entre o governo e a máquina do Estado, entregou o grupo parlamentar às suas terceiras linhas. O CDS, que tinha alguns dos melhores deputados, desapareceu. O PSD montou um grupo parlamentar fraco, à volta das fidelidades a Rui Rio. O Chega vive de polémicas ou circos mediáticos e, com o auxílio da esquerda, fará do parlamento a sua sala de espectáculos. No final, salva-se a Iniciativa Liberal, que promete uma oposição construtiva ao governo.

O que esperar do governo que ontem tomou posse? Pouco, também. Com toneladas de dinheiro europeu para distribuir, António Costa desenhou um governo de partido, virado para a vida interna do PS, abdicando de figuras executivas que tinham provas dadas — como Pedro Siza Vieira e Alexandra Leitão. António Costa dispensou quem tivesse ideias próprias e escolheu a fidelidade. Opção legítima, mas que evidencia a natureza das prioridades do primeiro-ministro: o controlo político e a preservação da hegemonia socialista, para além da vida deste governo. Não é surpresa: António Costa é um sobrevivente político, não é um reformista. E, com um governo feito à sua imagem, o objectivo será manter o status quo e tentar que tudo fique como está — desde logo, com o PS a mandar.

Em 2002, o nosso país era o 15º da UE27 em PIB per capita (em paridades de poder de compra). Em 2021, caiu para a 21ª posição, atrás de países como a Estónia, a Lituânia, a Hungria, a Polónia ou a Eslovénia. O próximo país a passar-nos à frente será a Roménia — que, em 2002, era o mais pobre da UE. A situação de empobrecimento relativo deveria fazer-nos reflectir sobre as opções políticas destes últimos 20 anos. E, já agora, fazer-nos olhar para a frente: exigir do governo e dos nossos representantes políticos uma visão reformista para o país, para potenciar o seu desenvolvimento social e crescimento económico. Nada é mais prioritário do que travar esta queda e inverter o rumo da nossa história recente. Ora, em semana de tomada de posse de Governo (ontem) e da nova composição da Assembleia da República (anteontem), os sinais políticos foram noutro sentido.

O arranque da legislatura deveria ter sido uma semana de recomeços na política nacional. Mas foi, apenas, uma semana de continuidades. Desde logo, de insistência em muitos dos erros que explicam o declínio português. Tudo como dantes, mas em pior: há parlamento e há governo, mas não há ambição. E, sem ambição reformista, só daremos passos para trás.

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