A nova medida do levantamento da restrição do uso das máscaras trouxe uma certa sensação de alívio. Uma sugestão de maior tempo de liberdade, arejamento, respiração. Se já se vêm muitas caras descobertas, no entanto, ainda assistimos a algumas pessoas com dificuldade em tirar a máscara. Medo ainda? Resistência a largar um hábito adquirido tanto tempo?

É tempo de nos permitirmos desconfinar física e mentalmente. O recolhimento imposto toldou os nossos movimentos, os nossos sorrisos. O confinamento atingiu o desenvolvimento das relações sociais, pois algumas pessoas deixaram-se imbuir num fechamento e parecem resistir em sair da bolha que criaram – talvez aquelas que assistimos com maior dificuldade em largar a dita máscara.

Se em tempos falámos já do uso da máscara social para nos irmos toldando no tecido comunitário e no assumir dos diferentes papéis que nele assumimos, se falámos do uso da máscara como cidadãos responsáveis em tempos pandémicos, se apontámos o uso da máscara como resguardo de uma identidade guardada para a intimidade, será agora o tempo de nos abrirmos mais e deixar largar mais rasgos de espontaneidade ao largar o acessório que nos tapava as expressões por inteiro?

É curioso ouvir alguns relatos de adolescentes que passaram a ver os colegas sem máscaras e como se surpreenderam com as caras novas que (re)conheceram. Afinal, habituámo-nos a olhar para os olhos e a imaginar as bocas que completavam os rostos que adivinhávamos. Estas novas descobertas trazem novos olhares, eventuais curiosidades a explorar e possíveis novas relações. Retirar as máscaras poderá levar a uma maior vontade de socializar e travar novos conhecimentos, expandir amizades. Um desafio para todos voltarmos a nos dar e a mostrar? A sermos mais descontraídos? A sermos humanos sem apetrechos?

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Podendo primeiramente surgir uma sensação de estranheza, até uma certa ansiedade, conquistar o lugar de andar descoberto pode ser a oportunidade para repensar como se voltar a dar a si e aos outros. Repensar as relações serem mais verdadeiras e também elas inteiras sem meias medidas de cerimónias, e, às vezes, até alguns cinismos/falsidades.

Se de tempos a tempos fazemos balanços sobre nós e a nossa vida, poderá ser esta nova medida um momento de pensarmos quem somos, como nos queremos apresentar aos outros, como nos queremos dar, como queremos nos relacionar, como queremos ser reconhecidos, com quem queremos nos dar, partilhar a nossa privacidade, em quem confiamos para sermos inteiros em nos mostrar. Tempo de maior liberdade, connosco e com os outros, é bem-vindo e mais do que desejado.

anaeduardoribeiro@sapo.pt