José Manuel Fernandes e Helena Matos fazem um programa, Contra-Corrente do Observador, dos melhores, talvez mesmo o melhor da rádio. Com frequência ouço o podcast. Foi o caso do tema «A imigração é uma crise que só pode aumentar», a propósito de uma das maiores tragédias do cemitério do Mediterrâneo, mais um naufrágio desta feita com bem mais de meia centena de mortos.

A nota relevante de José Manuel Fernandes foi ter dado impacto público à associação entre o fenómeno e a explosão demográfica em África. Explicou que a população africana estava, há cinquenta anos, em relativa paridade face à europeia e hoje o vizinho africano triplicou o peso populacional e assim irá continuar nas próximas décadas. África está a tornar-se semelhante à grande densidade populacional da Ásia onde se situam países como a Índia e a China.

Sou sensível ao tema desde que comecei a fazer trabalho de campo em Moçambique, em 1997. No meio académico africanista ultraesquerdista era inviável abordar o assunto. Entretanto as décadas passam e o mal mata e destrói como nunca. Acrescento outra particularidade: a explosão da concentração urbana também em África. A tempestade perfeita. Não é preciso uma bola de cristal para antecipar que cerca de metade da população africana viverá em cidades até meados deste século, e cidades que se resumem a amontados de problemas: insegurança, violência, poluição, ausência de esgotos, lixeiras a céu aberto, potenciais pandemias, anomia social, desestruturação familiar e tudo o resto.

Nos anos noventa já era urgente a necessidade de negociar como África, para benefício desta, a implementação de políticas de controlo demográfico fortes e incisivas, o que então poderia e deveria ter sido incluído como condição das ajudas internacionais e demais parcerias com o continente. Mas lá vinham as acusações e, pior, as insinuações paralisantes do «colonialismo» e do «racismo» contra os africanos, logo não se tocava na questão. Por isso, as ajudas a África contribuíram elas mesmas para acelerar um desastre de raiz ideológica esquerdista. Foi o pensamento, e o pensamento de matriz esquerdista europeu, que está na origem da desgraça do Mediterrâneo e de um tsunami que vai crescer justamente porque não se altera o pensamento.

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Trinta anos depois, e mesmo num dos raros programas lúcido como o Contra-Corrente da Rádio Observador, a oeste nada de novo. Em rigor, o panorama mental é hoje ainda pior por causa do vício das abordagens por analogia. Isso foi evidente em todas a intervenções, por exemplo, no discurso de um dos convidados, Álvaro Beleza. Como Portugal e a Europa estão em estagnação ou recessão demográfica, por vício de pensamento não se consegue entender que do outro lado, de África, está a acontecer o inverso e de forma muitíssimo mais acelerada, bem como com consequências muitíssimo mais desastrosas também para este lado, o vizinho europeu.

É um mal clássico da desgraça do pensamento. Enfrentar o problema seria distinguir o essencial do acessório, isto é, passar a conferir saliência, sobretudo na Europa, justamente à explosão demográfica africana e apenas em segundo plano ao inverno demográfico europeu. Parece que os europeus não são capazes do óbvio.

Por isso, mesmo os mais lúcidos insistem, insistem, insistem em colocar os termos da desgraça de pernas para o ar. O inverno demográfico europeu é o problema menor. É preciso dizer mil vezes. Bastava incentivar a natalidade interna europeia, assim como não falta nada, apenas lucidez, para gerir com seletividade uma imigração com uma enorme dimensão que vai continuar. É preciso ainda sublinhar um contexto em que o homem branco tem de se proteger porque ele mesmo e a sua civilização viraram minorias no panorama demográfico internacional. Mais não faço do que proteger uma minoria.

Mentalmente sequestrada pela Esquerda, a Europa continua a brincar com o fogo do «colonialismo» e do «racismo», para mais com instituições subjugadas a leituras históricas e sociais obviamente fraudulentas. Os europeus parece que desistiram de pensar e dizer o óbvio: os problemas do mundo são da responsabilidade de cada país, de cada continente, estão sempre dentro de cada sujeito individual ou coletivo. Freud não engana. É aí que se resolvem.

Tal como as pessoas, um continente, mesmo o mais pobre, não pode contaminar o mundo com os seus problemas porque isso quer dizer que vai continuar a destruir-se acima de tudo a si mesmo enquanto as pressões exteriores não o obrigarem a olhar para dentro de si. Isto é o básico em termos morais. Que cada um pense que um amigo seu fosse África. É assim tão difícil?

Não é só a emigração que está em causa. Inclua-se no fluxo migratório africano as mais do que prováveis pandemias (visite-se com olhos de ver uma cidade africana), tráficos ilegítimos (Moçambique já vive do narcotráfico a céu aberto rumo à Europa), violência exportada, entre outros tsunamis destrutivos. Tudo demasiado evidente, demasiado escondido. Parece que a verdade queima. Preferimos deixar destruir e morrer.

O maior problema há décadas de África é a natalidade excessiva. Tal como a China do passado, mas hoje colhe os frutos porque enfrentou o problema, e tal como a Europa em circunstâncias distintas (a qualidade de vida em Portugal não teria melhorado sem a diminuição do número de filhos pelas famílias), a solução da estabilidade e prosperidade africana reside, por isso, há décadas no controlo da natalidade. E esse é um desafio que só os próprios africanos podem, devem e têm de resolver se não quiserem continuar pobres e violentos, para seu próprio bem e bem dos outros. Alguém tem de lhes dizer isso. Mas ninguém tem coragem porque isso implica uma crítica cultural forte aos africanos, e insistimos nos fantasmas do «colonialismo» e «racismo». Esta é, de facto, a era da desgraça mental.

O pior são as elites africanas que se pavoneiam pela Europa, persistentemente irresponsáveis, parasitas, estúpidas, sempre a julgar as culpas para fora delas mesmas e das suas sociedades, a forma de agravar todos os problemas pessoais e sociais. Um dia a paciência esgota-se para tanta burrice que mata e destrói o presente e o futuro próprio e alheio.

Quanto aos europeus, não podem, não devem, não têm de compactuar com o esquerdismo mentecapto que tudo faz para ter o melhor de dois mundos para ele: ou a Europa destruída pela imigração ilegal ou o Mediterrâneo cheio de cadáveres para exibirem ao mundo como o branco europeu é mau! Não são pessoas respeitáveis, são sujeitos maus, ignorantes, imorais, sem perdão! Só que isso não passa na rádio.