Continuando a série de “Leituras para casa”, começo esta semana pela edição especial de 11 de Abril da revista britânica The Spectator, dedicada à Páscoa. Entre os inúmeros artigos dedicados à mensagem Pascal, sobressai o de Luke Coppen, editor para a Europa da Catholic News Agency.
O autor começa por recordar os indicadores persistentes sobre o declínio da fé cristã no Reino Unido e na Europa ao longo das últimas décadas. Segundo esses dados, e a manter-se a tendência por eles sugerida, o número de cristãos no Reino Unido iria praticamente desaparecer em 2067. Mas, observa em seguida o autor, ao longo deste último mês de confinamento contra o covid-19, tem sido registado um crescimento literalmente astronómico de buscas no Google sobre temas religiosos, a começar por “oração”.
Na América, 55% dos cidadãos terá rezado, pedindo o fim da pandemia. E não terá sido apenas no chamado “Bible Belt”: 15% dos que raramente ou nunca rezam e 24% dos que não estão registados em qualquer denominação religiosa declaram ter rezado no último mês. Em Inglaterra, no final de Março, mais de meio milhão de católicos participou numa cerimónia on-line de “re-dedicação do país a Virgem Maria” — levando a pressão da procura a repetidas quebras da transmissão.
O determinismo alegadamente científico há muito que profetizou o declínio inevitável da religião, sobretudo judaica e cristã (bem como, aliás, daquilo que o determinismo positivista designa por “capitalismo”— basicamente, sociedades livres não estatizadas). Marx classificou a religião como “ópio do povo” promovido pela “burguesia”. Os liberais Raymond Aron e Karl Popper muito certeiramente designaram essa superstição de Marx e dos seus seguidores como “ópio dos intelectuais”.
Luke Coppen, recordando Chesterton, observa que a história do Cristianismo não foi linear, mas cíclica: “[para as teorias deterministas], foi chocante que a Era do Iluminismo tivesse sido seguida por uma explosão de religiosidade, patente no Oxford Movement e no “renouveau catholique” em França. […] Pode voltar a acontecer”, conclui o autor.
Ainda na mesma edição pascal da Spectator, o vice-director Douglas Murray exprime a sua admiração pela forma como as pessoas aceitaram passar a Páscoa em confinamento — não só no Reino Unido, mas nas democracias em geral. Escreveu ele:
“Obedecemos a ordens, não porque temos de obedecer — como a população de algum despotismo comunista — mas porque concordamos em obedecer. […] Nas democracias, as pessoas têm-se oferecido como voluntárias, têm voluntariamente ficado em casa, e em muitos casos têm-se sacrificado voluntariamente.”
Entre os milhares, ou mesmo milhões, de exemplos deste voluntariado espontâneo nas democracias encontra-se o do Capitão Tom Moore — veterano britânico da II Guerra, que completará 100 anos no próximo dia 30 de Abril. Lançou um apelo publico para donativos a favor do Serviço Nacional de Saúde britânico. O objectivo era tentar reunir mil libras para oferecer ao NHS Charities Together. Pela sua parte, Tom Moore iniciou uma caminhada, apoiado num andarilho, de 100 percursos no jardim de sua casa em Yorkshire, com 25 metros de extensão.
Sempre impecavelmente vestido — de blazer (abotoado), gravata e as suas três condecorações militares — o Capitão Moore tornou-se um herói nacional britânico, reconhecido internacionalmente. E, em vez das mil libras que queria doar ao NHS, obteve já mais de 20 milhões!
O exemplo do Capitão Moore dificilmente poderia ter maior contraste do que o desprezível comportamento do director da Organização Mundial da Saúde — que foi também notícia internacional na semana passada. Trata-se de um tal Tedros-qualquer-coisa, um comunista etíope que foi colocado na direcção da OMS pelos comunistas chineses (perante a passividade ocidental). Todos os jornais sérios, de esquerda, de centro e de direita, têm denunciado o comportamento vergonhoso desse tal Tedros, ao serviço das ordens de comando do despotismo comunista chinês. Parece aliás que o sujeito já tinha ocultado não uma mas três epidemias de cólera no seu país, quando era ministro da saúde. O tema é simplesmente repugnante, mas parece que a China comunista prepara agora uma nova operação de corrupção internacional para tentar presidir à Comissão dos Direitos Humanos da ONU!
Existem hoje muitas teorias subtis sobre como as democracias não devem enfrentar (o termo em regra é “hostilizar”) o expansionismo comunista chinês. Na minha idade avançada, isso recorda-me a década de 1980 — quando teorias subtis pregavam o apaziguamento europeu face à União Soviética e denunciavam o “dogmatismo” de João Paulo II, Margaret Thatcher e Ronald Reagan.
Em bom rigor, o tal “dogmatismo” de João Paulo II, Thatcher e Reagan já tinha sido criticado no “dogmatismo” de Winston Churchill — quando ele denunciou praticamente sozinho, na década de 1930, as políticas de apaziguamento das democracias face ao nazismo e ao comunismo. Foi por isso com muito agradável surpresa que descobri ontem uma edição da Visão Biografia dedicada a Churchill. É simplesmente tocante e recomendo vivamente. Voltarei ao tema em breve.