Do muito que se escreveu e disse sobre os professores nos últimos dias, há uma conclusão evidente: vista do exterior, a realidade da profissão continua a ser mal conhecida. E há quem tire partido dessa ignorância. Este texto é o modesto contributo de um professor para o esclarecimento de alguns dos falsos mitos que rodeiam a profissão.
Os professores ganham muito. Uma frase feita em que, de tanto repetida, se corre o risco de acreditar. Abundam até os estudos e as comparações feitos com valores intencionalmente distorcidos e manipulados. Não sei se salários que rondam os mil euros líquidos no início da carreira e cerca de dois mil no topo – onde ainda poucos chegaram – se podem considerar elevados. Julgo que não: pagar menos tornaria a carreira docente ainda menos atractiva do que já é. E o topo, que alguns acham inflacionado, é o resultado de uma carreira demasiado longa, com muitos escalões e barreiras à progressão. Mas esta estrutura de carreira nunca foi pretendida pelos professores. Foi imposta à classe por uma ministra autoritária, respaldada numa maioria absoluta.
São os professores perto do topo da carreira que mais beneficiariam com a recuperação do tempo. Li isto várias vezes nas redes sociais e ainda não percebi de onde veio a ideia. A medida não afecta os que estão no topo, que já não têm para onde progredir. Os que estão nos escalões imediatamente anteriores podem ter algum benefício na antecipação das progressões, mas de qualquer forma chegariam lá. Recuperar o tempo é sobretudo uma medida de justiça para com os professores que estão, com 20 e mais anos de serviço, nos escalões iniciais de uma carreira com dez, com entraves à progressão e que exige no mínimo 34 anos de serviço para chegar ao fim. E isto não se repercute apenas nos vencimentos. Sem recuperação do tempo de serviço, muitos dos actuais professores irão aposentar-se com pensões inferiores aos mil euros líquidos, ao fim de uma carreira de mais de 40 anos de descontos.
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