O costume, nada de muito novo: nos ecrãs a esquerda ganha sempre, há fanfarras e festejos mesmo que a despropósito: veja-se a postura tribunícia de Assis falando com caráter definitivo e folgado, logo em cima das 20 horas; ou atente-se na tão sadia alegria de Catarina Martins após o BE ter perdido dois deputados! Ou devia dizer… após o Bloco se ter perdido a ele mesmo?

Fanfarras e festejos, sim, hoje, à hora a que escrevo. É verdade: o PS ganhou, Mas se as coisas são o que são, convém lembrar o que foram: o passado traz grandes lições e os números ainda mais para melhor se lerem os hojes e já agora os amanhãs (cantem eles ou não). Em resumo: tanto embandeirar em arco como o desta noite faz de nós parvos e eu detesto que façam de mim parva. Revisitemos então matérias e algarismos:

1) Em 2004, com Durão Barroso no Governo e um país cinzento mas a anos luz do Portugal afligido de hoje, o PS averbou a bela soma de 46,36%. Não sei que palavras terão empregue nessa altura mas “vitória histórica” seria apropriado. Usar essa mesma expressão hoje é um disfarce com o rabo de fora: a pouqueza do resultado ficou demasiado à vista. Para quem pedia a maioria absoluta com a segurança de uma certeza antecipada, os algarismos quase gelam. E António Costa? Que estará a fazer António Costa a esta hora e com quem?

2) Segundo acto: em 2009, estava Sócrates ao leme da governação e o Centro e a a Direita na oposição, os socialistas foram penalizadíssimos: 26 vírgula qualquer coisa enquanto sociais democratas e centristras festejavam os seus felizes 40%. Quarenta, repita-se.

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3) Terceiro acto: é isso, é menos exuberante e não foi nada generoso para com as expectativas da oposição. Socialista, a única que interessa e por isso se deve perder tempo com ela. Desmistificando o que deve ser desmistificado. Trinta e quantos? Apenas 3 a 4 pontos de diferença afinal entre o Governo – castigador e execrado – e a radiosa e libertadora oposição do Rato? Santo Deus. Cadê a nova realidade de que nos falou Seguro? Ou é ela, a nova realidade, que um dia lhe pode bater à sua própria porta?

4) O PC não me espantou: está transformado num porto de abrigo seguro de contestação ordeira, e o bom candidato que os serviu também ajudou. Os resultados é isso que mostram, o que não deixa de ser interessante. A seguir com atenção.

5) Marinho Pinto pescou nas águas que o PS lhe abriu. Eu apostaria que o fenómeno é conjuntural, uma espécie de gincana, uma aventura sem amanhãs. Cantem ou não. Os populismos sempre encontraram farto consolo nestas ocasiões de marés baixas políticas. Mas também só servem de alguma coisa se justamente se tirarem as conclusões certas. Não será difícil.

Isto dito, era bom o Governo pensar. Não se sabe se este arremedo de vitória do PS foi um mero amuo contra os maus dias ditados pela governação se um “lever de rideau” para representação mais ambiciosa. Ter de lidar com uma situação de bancarrota e depois geri-la, fazendo sangue, suor e lágrimas, não foi pêra doce. Quem sabe se ainda vai a tempo de a adocicar?