1“Esta é uma interrupção lectiva para todos. Eu tenho muito respeito pelo ensino particular e cooperativo, mas o ensino particular e cooperativo não são as nossas universidades e institutos politécnicos, com o grau de autonomia que têm.
Este ziguezaguear, espreitar sempre a excepção ou tentar fazer diferente é o que nos tem causado tantos problemas em termos societais. O cumprimento estrito das regras é algo que deve acontecer. Todas as actividades lectivas estão interrompidas durante este período.”
A frase, ipsis verbis, foi pronunciada pelo ministro Tiago Brandão Rodrigues no dia em que anunciou o fecho das escolas por causa do aumento gigantesco dos números de contágios e óbitos por Covid-19. Parabéns ao senhor Ministro. Um ministro do Partido Comunista ou do Bloco de Esquerda não teriam dito melhor.
Ou seja, para o Ministro da Educação, que as escolas procurem cumprir a sua missão o melhor possível “é o que nos tem causado tantos problemas societais”.
Quando ouvi estas declarações, por um instante recuei aos tempos da União Soviética pré-Perestroika, ou à China de Tiananmen, onde a máxima que se aplicava a quem queria fazer diferente do colectivo era: “Prego que se salienta deve ser pregado.”
Custa-me muito que em 2021, quarenta e sete anos depois do 25 de Abril, haja um Ministro da Educação a falar e, pior, a pensar desta maneira.
Para os que acharam que o PS dava as garantias suficientes de manter os critérios de uma democracia ocidental e moderna, mesmo recorrendo à geringonça com a extrema-esquerda, está aqui a prova de que precisavam para mudar de ideias.
Temos um Ministro da Educação que acha que a autonomia das escolas é um mal. Que as escolas privadas quererem ensinar os seus alunos, ultrapassando dificuldades, é um incumprimento das suas ordens que são para ser cumpridas. Que o querer fazer diferente e melhor é uma batota inaceitável.
Tiago Brandão Rodrigues, que, em universidades internacionais beneficiou das vantagens de alguns dos sistemas educativos mais autónomos, mais livres e portanto de maior sucesso no mundo, decidiu meter-se num avião para vir dirigir o Ministério da Educação à moda do regime comunista.
No largo do Rato já não está Mário Soares para explicar umas coisas sobre democracia ocidental a Brandão Rodrigues. Mas o mais grave de tudo é que, perante as afirmações do Ministro, não se tenha sentido um sobressalto cívico na sociedade e nos partidos que deveriam defender a liberdade de iniciativa.
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No dia em que os números da pandemia atingiram novo pico em óbitos, contágios e internamentos, no Parlamento, deputados de quase todas as forças partidárias – excepção feita aos deputados do CDS, aos deputados do PCP e a alguns deputados do PSD – aprovaram a lei da morte. A lei que permite a eutanásia em Portugal.
O acto diz tudo sobre o respeito pela vida dos cidadãos, a sensibilidade social, o respeito pelos profissionais de saúde cujas ordens representativas se pronunciaram todas contra tal lei e, por fim, sobre as prioridades dos que elegemos para nos representarem no Parlamento.
Também aqui, o silêncio de quase todos sobre a aprovação de uma lei que rompe definitivamente com a nossa noção de civilização e de sociedade é assustador.
3Sobre tudo o que escrevo acima, deixo-vos com uma adaptação de um poema inspirador que Bertolt Brecht utilizou numa peça:
“Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso,
Eu não era negro!
Em seguida levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso,
Eu também não era operário!
Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável!
Agora, levam-me a mim, mas já é tarde!
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo!”