Confesso que hoje contava arrancar mangando da iniciativa levada a cabo por aqueles activistas climáticos que se colaram às portas do edifício da Galp. Não me interpretem mal, tentarei zombar deles, claro, mas antes não posso passar ao lado do seguinte.

Sim senhor, fazer pouco de histerias climáticas é dos desportos mais giros eu colocá-lo-ia ao nível de um surf para cães , mas a verdade é que o Observador noticiou que, por estes dias, Portugal vai ser regado por um rio atmosférico. Que, quando se vai ler com atenção, se constata ser terminologia técnica para um cocktail de chuva forte, trovoada, vento e ondas altas. Mas que para um jardineiro com o meu grau de incompetência ao nível da rega é aterrador. Uma vez que sou daqueles tratadores de jardim que sempre – mas sempre – que liga a mangueira tem a pistola de rega naquela posição em que dispara um potentíssimo fio de água, autêntico laser cortador de diamante, que instantaneamente aparta qualquer folha ou fruto do seu caule. Fica tudo bem regado, disso não há dúvida. Mas a ideia que me dá é que as partes recém arrancadas do resto da planta não medram tão bem.

A propósito de excessos de águas, onde diz que tem havido cheias é na Nigéria. E porque é isto relevante? Então, porque é interessantíssimo mantermo-nos a par das condições meteorológicas no Golfo da Guiné. Caso contrário como decidimos o que vestir amanhã para ir trabalhar? E é também um bocadinho relevante porque, de acordo com algumas fontes, estas cheias vão provocar uma redução substancial na produção e fornecimento de gás natural à Galp. Isto no preciso momento em que, pela forma como os preços da energia estão a subir, é bem provável que o único português que vá passar o inverno quentinho seja o alpinista João Garcia. Que o resto da malta não tem qualquer condição para acompanhar esta escalada dos preços.

Mas nada temamos, que o governo já assegurou que não há dilúvio nigeriano, não há cataclismo congolês, não há apocalipse namibiano que vá causar quebras no fornecimento de gás a Portugal. Se bem que um eventual apocalipse namibiano pudesse ter impacto nos stocks de alfafa. Mas já em relação ao gás da Nigéria estamos tranquilos. O que são óptimas notícias, porque quando ouvi que haveria problemas em negócios de gás envolvendo o Estado português e a Nigéria temi o pior. Pensei logo: “Pronto. Queres ver que o príncipe da Nigéria enviou um daqueles e-mails para São Bento e o Costa respondeu enviando-lhe um carregamento de cheques de 125 euros? Já fomos aldrabados. Olha, resta-nos o quentinho de, desta vez, o Costa também ter sido aldrabado. Para desenjoar de sermos sempre nós a ser aldrabados pelo Costa.”

E já que falo deste tema, parece que vem mesmo aí a semana dos quatro dias de trabalho na Administração Pública. E perante isto, tudo o que vejo é gente preocupada com uma eventual quebra na qualidade dos serviços públicos. Quando o que nos devia preocupar era a quebra na qualidade de vida dos funcionários públicos. Só para mencionar um exemplo, vejam o que esta medida significará para os trabalhadores da Transtejo e da Soflusa. Com uma semana de trabalho de escassos quatro dias, estes profissionais das empresas que ligam por barco Lisboa à margem sul do Tejo perdem 20% – 20%! – dos dias disponíveis para fazerem greves. Como é que se pode não trabalhar assim? Não dá. Se isto vai para a frente, o que é que estes profissionais não vão fazer em mais este dia em que não trabalham? Hã? Eh pá, só se forem colar-se às portas do edifício da Galp.

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