Nunca visto. Desgoverno total. Caos absoluto. Em fim de ciclo. Estas e muitas outras expressões tem sido usadas para caracterizar a tragédia que tem sido a governação socialista dos últimos meses. Incompetência, descoordenação, horror a reformas e cansaço explicam parte do fracasso. Mas as guerras internas cada vez mais visíveis dentro do aparelho socialista, acompanhadas de suspeitas de corrupção e de outros crimes graves ajudam a perceber a dimensão do desastre em que se transformou a maioria absoluta do PS.

A democracia portuguesa está a atravessar um dos momentos mais delicados da sua história. Na catadupa de escândalos, revelações, buscas e detenções, que mancham a integridade, a transparência e os valores mais básicos da democracia, é legítimo que os portugueses se questionem como foi possível chegar a este ponto e, sobretudo, como será possível sair de mais este pântano socialista.

O PS conquistou a maioria absoluta há um ano atrás. Em grande parte, por desmérito das oposições e pela ineficácia das suas lideranças. Mas logo na formação do governo se percebeu que António Costa não iria aproveitar esta oportunidade de estabilidade política para fazer as reformas que o país precisa. O governo transformou-se num tabuleiro de equilíbrios partidários, composto por políticos sem experiência nem credibilidade nas áreas que tutelam, e liderado por um primeiro-ministro sem chama e avesso ao risco e à mudança.

A um governo imobilista e sem dinâmica, que apenas promete mais Estado e maior Estado, teimando na velha agenda socialista de mais despesa pública e mais impostos, vêm-se sucedendo casos e demissões. O governo está em fim de ciclo, mesmo que continue em funções. E o país, perplexo, assiste a uma deterioração das instituições nunca vista no passado, mesmo incluindo os tempos revolucionários do PREC. Nunca como hoje o país presenciou uma sucessão de acontecimentos que põem em causa o normal funcionamento das instituições democráticas. E por muito menos já caíram governos no passado.

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A resposta atabalhoada e precipitada do primeiro-ministro a esta crise agravou ainda mais a situação. A ideia peregrina de um questionário de 36 perguntas, a responder por futuros governantes, abriu a porta a dúvidas sobre a legitimidade dos atuais governantes. Se a não existência de investigações criminais passou a ser critério para a escolha de novos ministros e secretários de Estado, o mesmo critério tem que ser aplicado, por maioria de razão, para a manutenção ou demissão de atuais governantes. Não pode ser de outra maneira, sob pena de contradição insanável com base, precisamente, nas regras que o próprio governo resolveu inventar para branquear os sucessivos escândalos que o têm atingido nos últimos tempos.

Perante este triste cenário, impõe-se saber como é que o país vai dar a volta a esta crise de governação. Os comentadores de serviço, alinhados com o poder, procurarão relativizar a situação e procurar amanhãs que cantam ainda com tons socialistas. Aos restantes, cientes da gravidade da situação, exige-se começar a preparar o novo ciclo político que sucederá ao desgoverno socialista.

Este novo ciclo, necessariamente de centro-direita, tem que romper com o compadrio e a falta de transparência que a nomenclatura socialista nos habituou nos últimos tempos. Mas, acima de tudo, tem que ter uma agenda transformadora para o país, executada por partidos com experiência e credibilidade governativa. A resposta ao desastre socialista não está no populismo errático ou no experimentalismo inconsequente.

Uma coisa é protestar, outra coisa é governar. Muitos partidos enchem o espaço mediático com críticas às opções socialistas, mas não têm a mínima das noções do que é governar Portugal. E o país, depois do desnorte socialista, precisará de partidos com credibilidade, experiência governativa e provas dadas, principalmente em momentos difíceis. Porque os tempos que aí vêm não vão ser nada fáceis.