As guerras e as devastações humanas e materiais que geram, podem tornar-se indiferentes ao olhar humano, se não as acompanharmos e se a comunidade internacional não se mobilizar. Como tal tornam-se invisíveis para o mundo e, recordo, que temos mais de 28 conflitos armados e ativos no mundo.

O ano passado, segundo o UNHCR, foi esmagador pelo número de conflitos que escalaram e por novos confrontos que surgiram: 23 países, que juntos têm uma população de 850 milhões, enfrentam conflitos de intensidade média ou alta.

Mas as guerras, quando têm uma cobertura demasiada centrada nos números e fluxos de milhões de deslocados ou refugiados que provocam, também correm o risco de massificar as vítimas e podem, perigosamente, banalizar a violação dos direitos humanos e os hediondos crimes cometidos.

Ambas as situações são perniciosas, porque em todos os conflitos, mais próximos ou mais longínquos de nós, há vítimas, há mulheres violadas, há crianças abusadas e até raptadas, há famílias destroçadas e deslocações forçadas que mudam a geografia e vida das cidades, dos territórios e das pessoas.

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Não podemos ignorar o relatório “Tendências Globais”, da ONU, que evidenciou que, até ao final de 2021, o número de pessoas deslocadas por guerras, violência, perseguições e violações de direitos humanos chegou a 89,3 milhões (um crescimento de 8% em relação ao ano anterior). Desde então, a invasão russa da Ucrânia que causou o maior fluxo de deslocações desde a Segunda Guerra Mundial, emergências na África e a crise no Afeganistão fizeram com que o total de pessoas desalojadas batesse a marca de 100 milhões.

A ofensiva militar lançada pela Rússia a 24 de fevereiro de 2022 causou, até agora, a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e quase 8 milhões para países europeus –, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

Em Portugal, já beneficiam de proteção temporária cerca de 60 mil ucranianos, sendo que mais de metade são mulheres e crianças. Estamos a fazer a nossa parte, acolhendo e incluindo. Mas todos anseiam pelo regresso a casa e por uma paz duradoura.

A tendência só será revertida com um novo impulso em prol da paz.

A comunidade internacional precisa de agir para resolver essa tragédia humana, para resolver os conflitos e para encontrar soluções duradouras e, na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e nos Parlamentos Nacionais, temos que continuar a ser a voz que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas devemos também ser a voz que apela ao cessar da invasão a um país soberano, que sofre diariamente e que está a ser esventrado em  violação clara do direito internacional e humanitário.

Pela Paz, pela Segurança Global e pelos Direitos Humanos, temos que estar mobilizados pelo povo ucraniano que habita no coração da Europa e no nosso coração.

Glória à Ucrânia!

Deputada e membro da Delegação Portuguesa na OSCE