Mário Centeno, Elisa Ferreira, Fernando Rocha Andrade, Francisca Guedes de Oliveira, João Galamba, João Leão, João Nuno Mendes, José Vieira da Silva, Manuel Caldeira Cabral, Paulo Trigo Pereira, Sérgio Ávila e Vítor Escária: eis a lista dos responsáveis pelo plano macroeconómico que o PS apresentou antes das últimas eleições legislativas, visando credibilizar-se junto dos eleitores. Pouco mais de um ano depois, como oportunamente relembrou Carlos Guimarães Pinto, este é um bom momento para o confrontar com a realidade.

Estou neste caso particularmente à vontade porque defendi aqui há um ano atrás que, nas devidas proporções do contexto académico e científico português, Mário Centeno e Manuel Caldeira Cabral não podem deixar de ser classificados como “economistas de créditos firmados”. Ora, uma vez que à semelhança dos restantes autores do plano macroeconómico apresentado pelo PS, emprestaram a sua credibilidade ao cenário traçado, é de elementar justiça fazer agora um balanço da sua implementação e do cumprimento dos objectivos e previsões aí delineados.

Em termos de crescimento do PIB, os economistas recrutados pelo PS previam, para um cenário de governação do PS, um crescimento de 2,4%. Caso PSD e CDS se mantivessem no poder, os economistas do PS anteviam um resultado menos animador, com o PIB a crescer apenas 1,7%.

Tendo-se concretizado o cenário de governação do PS, qual é a realidade do crescimento económico até ao final do 1º semestre? Nem os 2,4% prometidos, nem sequer os 1,7% do cenário de continuidade da governação PSD/CDS mas uns bem mais modestos 0,8%.

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Relativamente à dívida pública, no cenário de governação do PS, os economistas recrutados pelo partido previam uma redução de 1,4 pp. Para o cenário de continuidade da governação PSD/CDS, a previsão era ligeiramente menos optimista: uma redução de 1,2 pp.

A realidade com o PS no poder? Muito pior do que o previsto em qualquer dos cenários anteriores: um aumento da dívida pública em 2,7 pp.

Se acreditarmos nos economistas que o PS recrutou para elaborar o plano macroeconómico que o partido apresentou aos portugueses, o único balanço possível no final do 1º semestre de 2016 é que a governação do PS está a ter um efeito económico devastador face ao que teria sido a continuidade da governação PSD/CDS.

Tudo isto ao mesmo tempo que a situação do sistema bancário nacional se deteriora a olhos vistos com a deplorável e irresponsável gestão política dos casos do Novo Banco e da Caixa Geral de Depósitos e quando só a acumulação de dívida pública no BCE – assente, convém não esquecer, no frágil rating concedido pela agência de notação DBRS – vai evitando o colapso.

O governo liderado por António Costa está a cumprir perante as suas clientelas políticas mais poderosas e perante os partidos de extrema-esquerda que sustentam a “geringonça” mas, para o fazer, está a falhar drasticamente os objectivos que o próprio PS havia delineado para o país há pouco mais de um ano atrás e que hoje parecem estranhamente ter caído no esquecimento. Como bem apontou Rui Ramos: “O governo de António Costa não tem tempo para essas questões. O seu único objectivo é manter a base de poder dos partidos que o apoiam, defendendo o Estado e as suas clientelas à custa do resto da população. Ninguém sabe quando isto vai acabar, mas já pouca gente acredita que acabe bem.”

Independentemente do final que o filme que estamos a viver venha a ter, há no entanto uma coisa que é certa: o plano macroeconómico do PS chocou de frente com a realidade.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa