A notícia do Observador dando conta que António Costa fez escala no dia 31 de Maio em Budapeste, quando seguia a caminho da Moldova para a cimeira da Comunidade Política Europeia, sem que o evento tivesse sido colocado na sua agenda oficial, deu origem a mais uma sucessão de pequenos episódios reveladores do estado a que chegámos.

Na sexta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa, porventura pensando no seu próprio padrão de viagens, apressou-se a declarar aos jornalistas que havia sido informado pelo primeiro-ministro da escala em Budapeste para assistir à final da Liga Europa de futebol entre o Sevilha e a Roma. Mais acrescentou que a escala se devia ao desígnio nacional de ir “dar um abraço a José Mourinho”, o treinador português da Roma. Marcelo revelou que Costa lhe terá dito em jeito de justificação patriótica e republicana que “é um português que está envolvido, vou-lhe dar um abraço, pode ser que dê sorte”. E, como sagazmente frisou Marcelo, “quase ia dando”.

No Sábado, a paragem não anunciada de António Costa em Budapeste foi reconvertida por Marcelo numa “escala técnica” motivada por uma eventual “falta de autonomia” do Falcon no qual o primeiro-ministro viajava. Porventura, e como não menos sagazmente observou Susana Peralta: “O piloto do Falcon tinha um cartão de pontos de uma bomba de gasolina mesmo ali ao lado do estádio.”

Já na segunda-feira tivemos direito a nova versão, desta feita com origem no Gabinete do primeiro-ministro e desmentindo publicamente as duas versões apresentadas dias antes pelo Presidente da República. Afinal, Costa esteve em Budapeste numa escala planeada para corresponder a um convite do presidente da UEFA para assistir à final da Liga Europa, tendo ficado sentado ao lado de Viktor Orbán por razões protocolares.

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Finalmente (até ver…), na Terça-feira, ficamos a saber através de um “exclusivo” assinado por Ângela Silva no Expresso que: “Aleksander Čeferin convidou Costa para uma final europeia em abril e a candidatura de Portugal ao Mundial 2030 entra no jogo. Orban, desta vez, pode ter sido só o figurante incómodo. Mas acabou por receber Costa no estádio no dia do seu aniversário”.

É caso para dizer, como bem assinalou Miguel Poiares Maduro que: “O sucesso da missão secreta e patriótica do PM junto do Presidente da UEFA exigiu o enorme sacrifício de estar em Budapeste no dia de aniversário de Orban (mas sem cantar os anos: “fumar sem inalar”) e até mentir ao PR sobre a verdadeira razão da ida…”

Face à proliferação de versões sobre a utilização do Falcon na ida de António Costa a Budapeste para assistir à final da Liga Europa, o líder da IL Rui Rocha achou por bem dirigir a António Costa três perguntas sobre este tema:

“1. Se o senhor primeiro-ministro foi convidado pela UEFA para assistir à final da Liga Europa, por que razão(ões) não fez constar esse evento da sua agenda oficial?
2. Em que outras ocasiões (quais, em que datas e com que fins) foram utilizados recursos do Estado, nomeadamente aeronaves da Força Aérea, para visitas que não constavam da sua agenda oficial?
3. Foi a participação na final da Liga Europa a motivar a antecipação do debate com o Governo sobre política geral que ocorreu a 24 de Maio, na Assembleia da República, mas estava previsto inicialmente para 31 de Maio?”

Ora estas perguntas, além de notoriamente pouco patrióticas, pecam por um excesso de racionalidade e por um deficitário entendimento sobre o regular funcionamento das instituições do regime.

Vamos lá a ver – é precisa muita má vontade para não ver que há apenas uma versão, e perfeitamente consistente: António Costa fez uma escala técnica para ir dar um abraço a José Mourinho na sequência de um convite da UEFA para usar a final da Liga Europa para fazer campanha secreta pelo Mundial 2030 para Portugal e por um cargo europeu para si próprio.

Assunto encerrado.